Jorginho: 'Temos que trabalhar convivendo com toda essa pressão'
Jorginho fez muitas mudanças no Vasco desde que chegou. Com ele, no segundo turno, o time tem aproveitamento de pouco mais de metade dos pontos disputados – conquistou 20 em 39, nos 13 jogos, o que seria suficiente para ficar entre os 10 primeiros da competição e, claro, longe da zona de rebaixamento. Para a partida deste domingo, às 17h, contra o Palmeiras, o treinador fez mistério e ensaiou novas mexidas. Mas algumas coisas não saíram do jeito que Jorginho desejava. Pouco após sua chegada, o treinador pediu Lulinha Tavares, um coach - profissional que "treina" metas de superação e concentração para atletas - foi dispensado logo após os 6 a 0 do Internacional. Estudioso do assunto, Jorginho, que queria Lulinha ao lado do Vasco até o fim da competição, hoje usa as técnicas de coaching no dia a dia em São Januário.
O treinador fez um curso de coach no início do ano. Em entrevistas coletivas, repletas de citações a dramas familiares que superou, exemplos de dedicação que vão de Usain Bolt à luta da maioria dos jogadores de futebol que saem de origem humilde para buscar o sustento de sua família, um personagem é constantemente citado pelo treinador: Romário.
Coincidentemente, foi pelos pés de Romário que o Vasco conseguiu superar pela última vez o Palmeiras em São Paulo. Em 2000, na final da Mercosul, no antigo Palestra Itália, na histórica decisão da Mercosul (4 a 3) - relembre no vídeo acima - e no ano seguinte, em São José do Rio Preto, por 3 a 1. Romário marcou três vezes na final sul-americana e mais duas no interior de São Paulo. Desde a sua chegada, Jorginho puxa exemplos de jogadores destemidos e coloca o Baixinho, revelado para o mundo do futebol em São Januário, em primeiro lugar.
- Temos que trabalhar convivendo com toda essa pressão, é assim desde o Doriva e o Celso. O tempo todo na zona de rebaixamento. Mas precisamos superar isso e tem jogadores que costumo citar que são extremamente destemidos. O Romário não estava preocupado com o que acontecia fora de campo ou com o momento do time, embora sempre tenha jogado em grandes equipes. Ele não deixava se abater por nada. Se o xingavam, se não marcava há alguns jogos, nada importava. Mas tem jogador que se abate, então temos que saber lidar com o ser humano. Tem que identificar quem tem mais facilidade de superar certas situações do que o outro, que tem que ser mais abraçado, que temos que conversar mais, dizer para um o quanto ele é importante. Isso tudo faz parte do trabalho – disse Jorginho, ressaltando a ajuda de toda a comissão técnica e as dificuldades de dar atenção para 44 jogadores no elenco.
Amigo de Jorginho, Lulinha Tavares, que passou pela frustração de ficar apenas um jogo no Vasco, comenta a importância do treinador usar essas ferramentas de estudo neste momento delicado na competição. Com cinco jogos para o fim, ele referenda outra citação de Jorginho, do escritor e psiquiatra Augusto Cury, que tem livros de autoajuda publicados em mais de 60 países e é um sucesso tanto editorial quanto de palestras pelo Brasil.
- Para ter alta performance, ainda mais num momento desses de muita pressão, tudo tem que estar funcionado muito bem. Se um jogador não percebe o clima do jogo, perde suas funções básicas. Aí o cara passa atrás na hora do escanteio e faz o gol. Como que o jogador não vê passar? É possível minimizar a pressão externa que vem de torcida, de diretoria, do ambiente. Às vezes se olha muito à frente e se tropeça numa coisa pequena. Essa atenção toda pode ser treinada também com as ferramentas de coaching, com tarefas no dia a dia fora do campo. O jogador passa a se preocupar com outras coisas, se alimenta melhor, se hidrata, toma consciência. Jorginho é muito antenado, muito estudioso com todos esses detalhes e um treinador se mostra muito mais preparado com essas técnicas – opina Lulinha Tavares