Jorge Salgado admite que pode emprestar dinheiro ao Vasco
Jorge Salgado, mesmo de longe, isolado depois de testar positivo para a Covid-19, manteve o ritmo de trabalho neste início de gestão à frente do Vasco. Ele tem sido intenso, diante do clube que recebeu do antecessor, Alexandre Campello. A prioridade é diminuir a asfixia financeira que obriga o dirigente a admitir que pode continuar emprestando dinheiro ao Cruz-maltino, ainda que essa condição simultânea de presidente e credor gere desgastes.
Como encontrou o Vasco?
Do ponto de vista administrativo, o encontrei organizado. Mas do ponto de vista financeiro, as dificuldades são imensas. Já desconfiávamos. O endividamento é muito alto, algo na casa dos R$ 700 milhões, com uma receita muito baixa, em torno de R$ 200 milhões. Esse é o nosso grande desafio, equacionar a dívida.
Como são essas dívidas?
A principal dívida é fiscal. Tem a trabalhista, a cível e a bancária. Talvez passaremos a trabalhista numa auditoria, fomos surpreendidos com seu aumento.
De quanto?
Alguma coisa em torno de R$ 90 milhões. Queremos entender o motivo e a partir disso partir para uma renegociação. Se tudo der certo, vamos conseguir um abatimento. Quanto à dívida cível, bancária, vamos de ter de criar uma solução. Uma opção é ir ao mercado atrás de debentures (a venda da dívida para terceiros). Arrumada a situação a curto prazo, ganhamos fôlego e passamos a ter uma dívida de meio a longo prazo.
E o futebol?
Pegamos o Vasco numa situação bem difícil, entrando na zona de rebaixamento. Tivemos de mexer com o Sá Pinto, contratamos o Vanderlei e ao mesmo tempo trouxemos o (Alexandre) Pássaro, diretor de futebol. Estamos saindo da situação fragilizada, conseguimos ver uma evolução, um time mais confiante, mais organizado. Vamos sair dessa e teremos uma próxima temporada bem melhor.
Como diminuir a distância para o Flamengo?
Na medida que conseguirmos ajeitar o Vasco no ponto de vista financeiro, vamos ajeitar no futebol. Hoje o Flamengo tem uma vantagem comparativa enorme. Para se ter uma ideia, em conta por alto, o Flamengo, em cinco anos, recebe R$ 1 bilhão a mais que o Vasco em direitos de transmissão. Tenho certeza de que a nossa gestão será do nível da do Flamengo. O problema é a receita. Agora é tentar recuperar o terreno perdido.
A receita com transferências também tem sido baixa...
Precisamos ter um canal mais forte com os clubes da Europa, mostrar mais o Vasco para fora. Eles praticamente não nos conhecem, não olham para nós. Precisamos quase que criar uma diretoria comercial do futebol. Alguém conectado, mostrando nossos jogadores. O clube depende ainda da venda de jogador, todos eles, não é um caso isolado do Vasco. Fizemos um orçamento prevendo R$ 40 milhões com venda de jogadores e não temos conseguido. Muitos jogadores, bons jogadores da base, por falta de oportunidade, se perdem. Temos de criar um mercado para eles. Se não for aproveitado, colocar em um time de segunda linha na Europa.
Quanto o Vasco custa por mês, no geral?
O Vasco custa entre R$ 17 milhões e R$ 18 milhões por mês. Temos de olhar as ineficiências em relação a esse gasto. Pretendemos promover o corte de 20% a 30% nas despesas. Precisamos, desde o início, gerar superavit. Temos necessidade de caixa de R$ 130 milhões a mais no ano. Em vez de R$ 200 milhões, R$ 330 milhões para pagar as coisas mais ou menos em dia. Vamos precisar de uma injeção de caixa para pagar os atrasados nesse primeiro momento. É ruim ficarem batendo na porta cobrando.
Como está o plano de 100 dias de gestão?
Cada vice-presidente recebeu a incumbência de listar as coisas mais importantes de sua área com potencial de realização em 100 dias. Isso está sendo discutido nas reuniões de diretoria. Algumas vice-presidências estão na reta final de cumprirem suas metas. É um movimento em que sinalizamos para todos que estamos trabalhando e já realizando coisas. Essa administração vai trabalhar num ambiente político muito mais favorável. Elegemos o presidente do Conselho Deliberativo, trouxemos a Sempre Vasco para o conselho, conseguimos uma vitória no Conselho de Beneméritos. Com os dois conselhos alinhados ao presidente, pretendemos fazer a reforma necessária do estatuto.
Quanto ao José Luiz Moreira, houve o convite para que ele seguisse como vice de futebol depois do Brasileiro?
O Zé Luiz sempre prestou serviço ao Vasco, ao futebol do Vasco, algumas vezes com sucesso, outras menos. Ele está sempre à disposição do Vasco, quando o futebol precisa, ele está presente, atua, se doa. Tenho a maior consideração por ele. Dito isso, falei para ele ficar até o fim do campeonato. Do fim do campeonato para frente, outras decisões serão tomadas. Provavelmente vou mexer no vice de futebol, mas não tenho nomes e nem compromisso com o Zé, para ele ficar depois do Brasileiro.
E em relação ao Carlos Leite, qual é a sua visão dele?
Além de empresário de jogadores, ele é vascaíno. E, além dos dois, tem ajudado o clube financeiramente nos momentos mais complicados. Minha relação comercial com ele será uma relação em que vou buscar sempre o justo para o clube. Quero o melhor para o Vasco. Vamos ter quedas de braço em possíveis negociações, ele vai puxar para o lado dele, eu vou puxar para o lado do Vasco, mas com muito respeito. É uma pessoa que sempre deu boas contribuições ao Vasco e que exerce a função dele com bastante êxito.
Você vai seguir sendo avalista ou emprestando dinheiro para o Vasco, como presidente?
A curtíssimo prazo, é capaz de o Vasco ainda precisar de algum aval meu, de algum empurrãozinho financeiro meu. Minha meta é liquidar essas dívidas que temos com pessoas ligadas ao clube. Queremos o clube devendo aos bancos. Temos de recuperar o crédito para não ter de recorrer à pessoa física e assim não criar especulações maldosas. Você está dando uma contribuição ao clube e o outro constrói uma narrativa absurda. Você socorreu o clube e no fim entra como vilão.
O que você gostaria realizar já nesse primeiro ano de mandato?
Tornar o futebol mais competitivo. Precisamos voltar a ser protagonista, deixar de entrar em campeonato só para não cair. É preciso almejar algo mais e preparar o futebol para isso. Quero reestruturar a dívida, diminuir o endividamento e melhorar a receita do Vasco, vamos trabalhar forte por isso também. Paralelamente, queremos colocar de pé o projeto do estádio e desenvolver nossos centros de treinamento.
Fonte: Agência O GloboMais lidas
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