Jogos Militares: Futebol Feminino será disputado em São Januário
Ao perceberem que estavam diante de uma batalha perdida, os militares bateram em retirada. Na cidade-sede dos Jogos Olímpicos Rio-2016, uma instalação esportiva de 64 mil metros quadrados é hoje o triste retrato de como o descaso do poder público e as rixas políticas podem degradar um legado. Sem que as prometidas melhorias fossem cumpridas pela Prefeitura, o Centro Esportivo Miécimo da Silva, em Campo Grande, que consome cerca de R$ 8 milhões anuais dos cofres municipais, foi oficialmente descartado essa semana da lista de instalações para os V Jogos Mundiais Militares (JMM), que acontecem de 16 a 24 de julho. O motivo: nenhuma das principais exigências para a realização de um evento de porte internacional foi atendida.
No Miécimo, inaugurado em 1997 e que conta com um ginásio com capacidade para 4.850 espectadores sentados, deveriam acontecer competições de judô e futebol feminino. Em julho do ano passado, o prefeito Eduardo Paes destinou R$ 16 milhões exclusivamente para o complexo, a serem distribuídos ao longo do biênio seguinte. Mas, apesar de ter um diretor nomeado no comando do complexo, a gestão desses recursos é feita através de uma Organização Social (OS). Embora o Miécimo esteja situado na Zona Oeste, a entidade escolhida através de licitação foi o Centro Comunitário Lídia dos Santos, o Ceaca-Vila, com sede no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte.
Relações estremecidas
O Ceaca-Vila, criado como creche há 25 anos pela atual presidente, Anna Marcondes, também administra outros centros esportivos da Prefeitura, como a Vila Olímpica Oscar Schmidt, em Santa Cruz, a Vila Olímpica de Vila Kennedy, e a Cidade das Crianças, em Santa Cruz. Todos os contratos foram obtidos no período em que o deputado estadual Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira (PMDB), esteve à frente da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SMEL). Nos acessos à Rua Armando de Albuquerque, onde fica a OS, o nome do deputado aparece em faixas de agradecimento, pelo asfaltamento de vias próximas. Os administradores do Ceaca-Vila, porém, negam qualquer ligação com o parlamentar.
O convívio entre o diretor do Miécimo, Amaury Cardoso, e os administradores do Ceaca-Vila tem sido conturbado, em especial depois que as relações entre ele e Chiquinho estremeceram. Amaury, também ligado ao PMDB, evita associar questões políticas com o vexame de ficar sem os Jogos e empurra a responsabilidade para a Ceaca-Vila:
\" Não tenho autonomia financeira. Aponto prioridades. Quem executa é a Ceaca-Vila.
Já o administrador da Ceaca-Vila, Willians Marcondes, explica que os recursos são liberados a cada dois meses, mediante prestação de contas detalhada. No calor das discussões, o ar-condicionado está no centro da polêmica.
\" A gente não tem verba para fazer reforma. É para manutenção do Miécimo. Quando chegamos, não havia nenhum dos 14 motores dos ar-condicionados. Hoje, já funciona com 60% da capacidade. Compramos gato por lebre. O estado de depredação do Miécimo era grave \" diz ele. \" Na assinatura do contrato, nada foi falado sobre a realização de Jogos Militares.
O atual secretário municipal de esportes, Romário Maia, lava as mãos sobre os atritos entre Amaury e a Ceaca-Vila. Segundo ele, o contrato de R$ 16 milhões não seria suficiente para as obras necessárias para o Miécimo sediar os JMM.
\" O contrato com a OS é relativo a manutenção, despesas, pessoal. Fizemos um estudo e as obras para os Jogos ficariam em R$ 4,5 milhões. Mas por conta de dívidas da Prefeitura, o Ministério dos Esportes não liberou a verba \" justifica Maia. \" É ruim ficar sem os Jogos. Mas grama não cresce da noite para o dia.
Mudança forçada
Para o ginásio, originalmente climatizado, havia a exigência de que o sistema de ar-condicionado estivesse funcionando em 100% da capacidade. Novas instalações elétricas também estavam na lista. Nos dois casos, houve apenas reparos parciais. A recuperação de vestiários não foi feita.
No caso do futebol, o gramado está todo esburacado, não há sistema de drenagem ou cabines de transmissão e os refletores não acendem porque os cabos foram roubados.
Na última quarta-feira, em nota, o coordenador dos JMM, general Jamil Megid Junior, deu fim às tentativas de contar com o Miécimo, admitindo a busca por outras alternativas \"mesmo que mais simples\". O judô deve ir para a Universidade da Força Aérea (Unifa), na Ilha, e o futebol feminino, para o Engenhão e São Januário.
Longe dos holofotes, no Miécimo a polêmica continua no ar. E não só nele.
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