Invencibilidade no Brasileirão, Germán Cano e aniversário do Vasco
O torcedor do Vasco teve o melhor aniversário de clube em quase uma década. Com três vitórias em três partidas no Brasileiro, comemorou os 122 anos de história na liderança da competição, mas a tradicional correria do calendário, potencializada pelas condições impostas pela pandemia, não reserva muito tempo para celebrações. Amanhã, o cruz-maltino enfrenta o Grêmio, às 16h, na Colina, e a pergunta que fica é: o que há de concreto e de acaso na liderança vascaína depois de oito anos?
Parte da colocação é fruto de escolhas do clube. A mais certeira delas, a contratação de Cano. A diretoria apostou alto com a intenção de suprir a carência de um goleador no elenco. O presidente Alexandre Campello comprou briga com responsáveis pela parte financeira da diretoria, que romperam com a gestão e se tornaram oposição sendo um dos motivos para isso a vinda do argentino. Até agora, Cano paga cada centavo investido e estresse acumulado, com 12 gols em 16 partidas. Ascende como a maior oportunidade para o Vasco ter novamente um artilheiro do Brasileiro — a última vez foi com Romário em 2005.
— Considerando a trajetória do Vasco nos últimos anos, esse ótimo início de campeonato já tem o mérito de trazer segurança para o próprio trabalho do time. Sim, é uma amostra pequena, mas se vê um time trabalhador, que sabe o que pretende — afirma André Kfouri, colunista do GLOBO.
Se já é possível perceber um norte em termos de equipe, deve-se ao trabalho do técnico Ramon Menezes, opção arriscada da diretoria para substituir Abel Braga. Trata-se de seu primeiro trabalho à frente de um grande clube da Série A, e as três vitórias criam uma tolerância que geralmente não existe com treinadores de currículo tão curto. Para Carlos Eduardo Mansur, é justamente esse ganho de tempo o que pode fazer a diferença no futuro:
— O lado bom é o nível de tranquilidade e respaldo para um treinador jovem, iniciante em clube grande, poder trabalhar. Ele precisa desses resultados para ter estabilidade.
Elenco é incógnita
Também ajuda a manter a harmonia no trabalho o ajuste financeiro com o elenco. Os salários atrasados foram recorrentes durante os últimos dois anos. Em julho, diretoria e jogadores acertaram a repactuação da dívida, parcelando em 12 meses o pagamento do passivo referente a abril e maio. Desde então, conseguiu se manter em dia com o acordo. Ainda que o Vasco sempre tenha enaltecido o comprometimento do grupo mesmo com dinheiro a receber, a dívida constante irritou os jogadores a ponto de fazerem greve de entrevistas em fevereiro.
Há o outro lado da moeda também, do imponderável que conspira a favor do Vasco neste começo de Brasileiro. O primeiro, da sequência de três jogos, dois em casa (contra Sport e São Paulo) e um fora, este último contra adversário longe de ser postulante ao título, o Ceará. Inicialmente, a sequência teria sido mais difícil, com uma estreia em São Paulo, contra o Palmeiras. Mas a partida teve de ser adiada por coincidir com a final do Campeonato Paulista, vencida pelo Verdão.
Também ajuda o Vasco, por incrível que pareça, a proibição de torcida em São Januário. Isso porque, em ano eleitoral, os ânimos na Colina ficam ainda mais acirrados do que o normal. Ninguém se esquece da batalha campal entre torcedores vascaínos e a polícia em 2017, no fim do clássico contra o Flamengo, que resultou na perda de mandos de campo da equipe. Distante do apoio, os jogadores também estão afastados do ambiente político tóxico que muitas vezes toma a arquibancada do clube.
Outro fator que precisa ser levado em consideração é que, neste início de Brasileiro, o elenco vascaíno ainda não foi colocado à prova. Existem pontos fortes claros na equipe titular — além de Cano, a dupla de zaga formada por Ricardo Graça e Leandro Castan, o volante Andrey e o meia Benítez. Todos eles estiveram em campo nas três partidas. Em um calendário curto — ainda mais para para o Vasco, dividido entre jogos de Brasileiro, Copa do Brasil e Sul-Americana —, suspensões, lesões ou a necessidade de poupá-los fatalmente irão acontecer, mais cedo ou mais tarde. E como o time vai reagir sem essas peças é uma incógnita.
— O Vasco de Ramon tem muitos méritos, que ficaram evidentes nas primeiras rodadas. Resta saber se os reservas estarão à altura quando a conta do desgaste físico chegar, e parece inevitável que chegue, para o Vasco e para todos os outros times — analisou o colunista Martín Fernandez.
Fonte: Extra OnlineMais lidas
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