Indignados, sócios protestam após terem sido listados por Campello
No último dia 7 em entrevista ao ge, o presidente do Vasco, Alexandre Campello, acusou Roberto Monteiro, presidente do Conselho Deliberativo, de tentar burlar o processo eleitoral com a inclusão de 46 sócios, que, em seu ponto de vista, encontram-se em situação irregular e, portanto, sem direito a votar na eleição de 7 de novembro. Na quinta-feira, o mandatário vascaíno protocolou pedido de impugnação dos mesmos em lista enviada à secretaria do clube.
Inconformados com a exposição de seus nomes na lista publicada por Campello, cinco sócios entraram em contato com a reportagem do ge a fim de darem suas respectivas versões e, consequentemente, defenderem o direito a voto.
Três deles se enquadram na lista de anistiados e fazem parte da categoria "Sócio Geral". Outro, também "Sócio Geral", é acusado de inadimplência referente à mensalidade de outubro de 2017, mesmo ano em que teria sido desligado do quadro associativo. Por fim, há também entre eles um integrante da categoria Proprietário Diamante, acusado de não ter pago agosto do ano presente.
A ação de Campello, que, inclusive, também é alvo de um pedido de impugnação feito pelo primeiro vice-presidente do Vasco, Elói Ferreira de Araújo, será julgada pela Junta Recursal do Vasco. Nesta sexta, Faués Cherene Jassus, o Mussa, presidente da Assembleia Geral, convocou a Junta para os dias 14 e 15 de setembro. As sessões têm início marcado para as 10h (de Brasília).
A lista de sócios é motivo de debate no cenário sem fim de discordâncias e brigas políticas do Vasco. Para a Assembleia Geral Extraordinária, cujo resultado aprovou a eleição e está sub judice, cerca de 1,7 mil recursos deixaram de ser analisados pela Junta de Recursos, por exemplo. Sem entendimento, os integrantes da Junta produziram duas atas.
Antes da AGE, a Junta Deliberativa decidiu que três categorias - benfeitor remido, remido e campeão - teriam direito a voto mesmo não tendo atendido ao recadastramento de 2018. Ao mesmo tempo, excluiu os associados anistiados no mesmo ano. Algo que a Justiça referendou depois.
Ocorre que, ao analisar recursos para a AGE, a Junta de Recursos autorizou a participação de alguns sócios anistiados em 2018. Segundo pessoas consultadas pelo ge, ou por erro ou por não se ter informação de que aquele impetrante era anistiado.
Confira a argumentação dos cinco sócios abaixo:
Thiago Mantuano (Sócio Geral)
Sócio do Vasco desde 20 de maio de 2009 (o nome dele consta no portal de transparência do Sócio Gigante) e citado como integrante da categoria Geral, Thiago Vinícius Mantuano da Fonseca embasou sua reclamação junto à Junta Recursal com diversos comprovantes de pagamento. Desde o de sua primeira mensalidade como associado, cujo vencimento se dava em 25 de maio de 2009, até as últimas que quitou.
Além de se defender da tentativa de impugnação por parte de Campello, Thiago fez questão também de afirmar que não tem qualquer ligação com o grupo político Identidade Vasco, cujo líder é Roberto Monteiro. Mantuano afirmou já ter travado embates públicos com Monteiro.
Confira o depoimento abaixo:
"É revoltante ler que o presidente do meu clube levanta suspeição a respeito da minha vida associativa no Vasco. Eu ingressei como sócio do Vasco em 2009, fiz o processo de anistia que ele tanto defende e fui exposto de forma desleal pelo Campello. Eu não estou inadimplente ou irregular como ele argumenta em reportagem e vídeo. O próprio clube me fornece farta documentação que contraria a impugnação estapafúrdia de seu presidente.
Eu me encontro com pagamentos feitos até dezembro deste ano! Quando ligo para a secretaria tenho todas as minhas informações checadas e atualizadas, os pagamentos adiantados. Meu nome consta, normalmente, nas listagens atualizadas mensalmente pelo clube. Listagens essas que o presidente faz referência em seus vídeos dizendo que não estou.
Provavelmente, meu nome se encontra na lista de aptos para a AGO por que enviei um pedido de impugnação para a Junta Recursal da AGE que comprova minha vida associativa no Vasco anterior à anistia.
Nunca fiz parte do grupo Identidade Vasco. Eu tenho um histórico de atuação política no clube contrário ao Roberto Monteiro. Por diversas vezes publiquei críticas pesadas ao Monteiro. Não sei de onde o Campello tirou essa maluquice que eu sou ligado à Identidade Vasco. Isso causou dano à minha honra, pois minha relação com o Vasco é sagrada. Certamente buscarei a reparação judicialmente frente à ele, não ao clube".
Rodrigo Mondego (Sócio Geral)
A exemplo de Mantuano, Rodrigo Ignacio Mondego, também Sócio Geral, ingressou no quadro de sócios do Vasco em 2009 (23 de junho). Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do RJ, Mondego afirma ter ficado "estarrecido" com a divulgação de seu nome e dados pessoais.
Advogado, Rodrigo Mondego (outro com nome publicado no portal de transparência do Sócio Gigante) não descarta entrar com uma representação contra Campello e também guarda consigo comprovantes de pagamento desde que fez a anistia, em 2018.
"1- Ingressei como sócio geral do Vasco em 23 de junho de 2009, pagando a joia, as mensalidades e usufruindo da vida social do Clube janeiro de 2011, quando, por força maior, fui obrigado a parar de pagar o Vasco;
2- Fiquei sabendo pelas redes sociais que, a partir do dia 16/07/2018, a Diretoria do Club iria dar anistia aos sócios estatutários e resolvi participar. Preenchi o formulário, paguei a nova carteirinha e as três primeiras mensalidades de uma vez.
4- Nos últimos dois anos paguei as mensalidades de sócio dentro dos prazos estabelecidos. Inclusive todo mês a mensalidade é descontada automaticamente do meu cartão de crédito. Fui nas sedes sociais do Club e frequentei jogos com o desconto para sócio.
5- No início do mês vi que meu nome não estava inserido na listagem de sócios aptos para votar na Assembleia Geral Extraordinária do Club. Imediatamente depois, eu preparei um recurso para a junta, anexando provas, provando que tive vida social antes da anistia e que estava totalmente adimplente com as mensalidades pós-anistia.
6- Semana passada vi que meu nome havia sido inserido de novo na lista de aptos para votar nas eleições do Club.
7- No início dessa semana vi a entrevista absurda do presidente Alexandre Campello, onde ele inseria meu nome em uma listagem dizendo que eu participei de um esquema para ganhar o recurso. Na lista fornecida por ele, além do meu nome completo aparece também até o meu CPF. Sou advogado, hoje presido o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do RJ e tenho como algo muito caro para mim ter a moral totalmente ilibada. Receber esse ataque à minha moral por parte do presidente do Club é algo que me deixou estarrecido. Se ele minimamente pesquisasse no sistema de pagamentos do Club, veria que estou em dia e com a conta ativa no portal oficial de sócios do Vasco. Estou estudando representar civilmente e criminalmente contra ele, pelo mesmo difamar a minha imagem publicamente de maneira totalmente despropositada".
Luiz Augusto Dornelas Correia (Sócio Geral)
No quadro social do Vasco desde 11 de outubro de 2011, o jornalista Luiz Augusto Dornelas Correia é outro que nega ligação com o Identidade Vasco e garante adimplência. Dornelas fez protesto formal à Junta Recursal do Vasco e, em anexo, incluiu faturas de cartão de crédito desde outubro de 2018 (referentes a setembro do mesmo ano) que comprovam a adimplência durante o período de dois anos.
Também com nome constando entre sócios que estão em situação regular no portal de transparência do Sócio Gigante, Luiz Augusto afirmou se sentir traído por quem apoiou no último pleito. No caso, o presidente Alexandre Campello.
Confira o depoimento abaixo:
"Muito me entristece o fato do presidente do meu time ter levantado suspeição sobre a minha associação ao Vasco da Gama. Minha história com o Vasco vem da infância. Sou um aficionado pelo clube. Em 2018, após a eleição que sagrou Campello presidente, resolvi me associar. A princípio, minha intenção foi me tornar sócio proprietário, mas uma vez que a anistia tinha sido anunciada, resolvi por reingressar no quadro social através da mesma. Afinal, minha esposa estava grávida e, qualquer economia a época ajudaria.
Pois bem, entrei em contato com o Diego, afinal temos um amigo em comum. A anistia foi feita de maneira cuidadosa e ágil, o que me deixou positivamente impressionado a época.
Hoje, fui surpreendido por essa notícia, por estar entre os 52 nomes suspeitos por fraude. Fui um apoiador de Campello durante a eleição, o entrevistei para um projeto paralelo que tinha até então, o Saudações Vascaínos. Na oportunidade, fui recebido na casa de Campello, aonde falamos sobre seus projetos para o futuro do Vasco. Alguns projetos, inclusive, estão sendo entregues, tal qual a criação do CT e a reforma de São Januário. Ao fim da entrevista, o acompanhei a uma reunião, em Copacabana com apoiadores, aonde tivemos a oportunidade de falar um pouco mais. Além da questão supracitada, sou sócio adimplente. Pago o sócio geral e um convidado e já utilizei, por diversas vezes, o desconto atribuído àqueles presentes no quadro associativo.
Atualmente, estou com todos os pagamentos atrelados ao cartão de crédito e, portanto, estou em dia. Atualmente não tenho ligação com nenhum grupo político do Vasco e até nutro simpatia pela atual gestão. No entanto, fico estarrecido com tamanha imprudência ao listar sócios como suspeitos de fraudes, sem qualquer fundamento. Fiz, recentemente, críticas à maneira como a Identidade Vasco e, em especial, Roberto Monteiro, conduziram a questão dos anistiados.
No fim, achei que aquele que me garantiu o reingresso ao quadro social do Vasco jamais me trairia. Estava errado... é muito frustrante".
Sérgio Batalha Mendes (Sócio Geral)
Diferentemente de Thiago, Rodrigo e Luiz Augusto, o advogado Sérgio Batalha Mendes não recorreu à anistia oferecida pelo clube em 2018. De acordo com o Vasco, ele foi excluído do quadro social em 2017 por não pagamento da mensalidade de outubro do mesmo ano.
Com os comprovantes de pagamento referentes aos meses de outubro e dezembro de 2017, Sérgio se diz vítima de perseguição política de Alexandre Campello, com quem não tem boa relação.
- O presidente alega que me excluiu porque não paguei outubro, novembro e dezembro de 2017. Eu tenho os recibos de outubro e dezembro. Ou ele faltou com a verdade para me perseguir politicamente ou secretaria dele é uma bagunça e não tem controle de quem paga ou não paga o quê. Sinceramente, não sei qual é a pior hipótese para o Vasco. Temos um presidente que não sabe quem pagou as mensalidades, mas se apressa em expulsar um sócio do clube - afirmou Sérgio.
Batalha afirma que só tomou conhecimento da exclusão em 3 de agosto de 2020, o que o motivou a protocolar recurso junto à secretaria do Vasco quatro dias depois.
Confira o protesto (na íntegra) enviado por Sérgio à Junta Recursal:
1- Sou sócio do Vasco da Gama desde 2009, tendo recebido meu título de sócio geral das mãos do Presidente do clube à época, Roberto Dinamite, em cerimônia na Câmara dos Vereadores. Participei do último processo eleitoral, após ser regularmente recadastrado, e fui eleito membro do Conselho Deliberativo do clube, comparecendo regularmente às suas reuniões. Como Conselheiro posicionei-me desde o início da minha atuação como membro da oposição ao atual Presidente da Diretoria Administrativa.
2- Ocorre que, no início do ano de 2018, percebi que os boletos da mensalidade social do clube não vinham sendo remetidos ao meu escritório, embora meu endereço estivesse atualizado e recebesse regularmente por e-mail inúmeras mensagens do clube. Minha secretária entrou em contato com a Secretaria do clube diversas vezes, sempre recebendo a informação de que os boletos seriam remetidos em breve.
3- Finalmente, foi-me informado pela Secretaria em 2019, apenas por telefone, que eu estaria inadimplente desde outubro de 2017 e que fui excluído do quadro social após três meses de inadimplência em dezembro de 2017, como afirmado na Impugnação efetuada pelo Presidente da Diretoria Administrativa.
4- Ocorre que, lamentavelmente, tal informação é mentirosa, pois paguei normalmente os boletos e tenho o recibo das mensalidades até dezembro de 2017, como revelam as cópias em anexo, sendo que minha exclusão foi medida arbitrária de perseguição política.
5- De fato, a Secretaria do clube sistematicamente se recusou a me informar sequer os valores das mensalidades supostamente em aberto para que eu as quitasse, apesar de sucessivos contatos telefônicos.
6- Ademais, eu fui excluído sem qualquer comunicação prévia ou mesmo posterior, nem lhe foi comunicada a inadimplência, de modo a permitir a quitação de mensalidades atrasadas. Ao contrário, a Secretaria do clube se recusou a receber os valores atrasados.
7- Por fim, fui surpreendido com a minha exclusão da lista de sócios do clube, divulgada oficialmente no dia 03/08/2020, caracterizando uma atitude ilegal e arbitrária de perseguição política. Protocolei recurso na Secretaria do Clube, por e-mail, no dia 07/08/2020.
8- Enviei também por e-mail, no mesmo dia 07/08/2020, o comprovante de depósito efetuado naquela data da quantia de R$ 2.310,00 na conta bancária do clube de modo a quitar qualquer pendência de mensalidades sociais eventualmente existente.
9- A quantia foi calculada de forma estimativa, ante a recusa da Secretaria de informar valores exatos. Aduza-se que, durante todo este período, o Recorrente participou das reuniões do Conselho Deliberativo sem qualquer oposição por parte de qualquer dos poderes do clube, inclusive do Presidente da Diretoria Administrativa.
Portanto, é o presente para que o Recorrente seja rejeitada a Impugnação apresentada em relação à minha inclusão na listagem de sócios do Clube de Regatas Vasco da Gama, com todos os meus direitos sociais preservados, mantendo-se sua data original de admissão em 2009".
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2020.
Sérgio Batalha Mendes
Evandro Henrique da Costa Soares (Proprietário Diamante)
O jornalista Evandro Costa, sócio proprietário do Vasco e ex-funcionário da comunicação do clube, completa a lista dos que procuraram a reportagem do ge. Revoltado com a exposição de seu nome e garantindo estar adimplente, julgou o movimento de Alexandre Campello como uma perseguição à imprensa.
Evandro também redigiu um protesto e o formalizou à Junta Recursal do Vasco, que, a partir de segunda-feira, julga os pedidos de Campello e de outros associados.
"Não me incomodo com a propositura da impugnação, pois é uma ação prevista no Estatuto e no Regimento Interno da Assembleia Geral, e na esfera competente tenho absoluta convicção de que será declarada improcedente, mas muito me causa indignação a torpeza e conduta tacanha do presidente, em divulgar mentiras sobre sócios do clube, os expondo ao juízo público, algo que me faz lembrar o caso da Escola Base de São Paulo, numa clara perseguição de cunho POLÍTICO.
Lógico que a ação praticada tem por objetivo dissimular e criar um "fato jornalístico" que possa omitir o verdadeiro inapto a participar da Assembleia Geral, que é ele mesmo, por questões muito mais graves que um eventual inadimplemento de um mês de contribuição.
Ao me perseguir, o presidente persegue na verdade a imprensa e a liberdade de expressão, maculando assim a retidão que sempre caracterizou a minha carreira.
Faria bem ao presidente a leitura do Estatuto, apesar de acreditar que, alguém que surge na história associativa do Vasco em 2009, se não leu e aprendeu ainda não o fará, especialmente nos últimos 90 dias que lhe restam no Vasco. Não sou candidato a nada no Vasco, mas sou vascaíno desde que me entendo por gente, e não somente após a formatura e o primeiro emprego".