Futebol

Hoje técnico da Seleção Sub-20, Rogério Lourenço começou na escolinha do Vas

Rogério Lourenço tem 38 anos e, tal como seus jogadores, ainda está no começo da carreira. Por isso, a decisão contra Gana, na sexta-feira, vale tanto para ele. Há apenas cinco anos como treinador, o ex-zagueiro já tem a oportunidade de incluir no currículo um título mundial pela seleção brasileira. Em um bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM, o técnico falou sobre a experiência do Mundial Sub-20, lamentou a falta de ações para coibir os \"gatos\" no futebol, revelou o sonho de dirigir uma equipe profissional, contou por que decidiu trocar o Vasco pelo Flamengo ainda criança e disse que sua equipe merece o apoio dos torcedores na decisão de sexta-feira principalmente pelo respeito que demonstra pela camisa do Brasil.

GLOBOESPORTE.COM: Como você avalia a experiência de dirigir a seleção no Mundial Sub-20?
ROGÉRIO LOURENÇO: O Mundial Sub-20 é o melhor momento da minha carreira como treinador. Estou feliz de trabalhar na seleção e de ter montado um time que mostrou bom futebol e teve grandes momentos na competição. O Brasil tem um dos melhores ataques e a melhor defesa, mostra que é um time bastante equilibrado e isso é a recompensa de qualquer treinador.

O que você acha das críticas que provavelmente surgirão se o Brasil não for campeão?
Não gosto de injustiça, em qualquer área, não só no futebol. Acho errada esta cultura de que só o primeiro lugar serve, se não ganhar significa que o trabalho não foi bem feito. Não é assim. A seleção de 82, por exemplo, era maravilhosa, se ganhasse talvez fosse considerada a maior de todos os tempos. Como não ganhou, passou a ser criticada. Mas não se pode tirar o mérito deles só porque não venceram. É óbvio que vamos buscar este título mundial, mas todos nós, tanto da comissão técnica como os jogadores, estamos tranquilos com o trabalho que estamos fazendo. Com todas as dificuldades do Brasil, de pedidos de liberação de jogadores e tudo mais, mostramos a força do nosso futebol. Estamos em uma final de Copa do Mundo.

Como você vê a suspeita de que várias seleções jogam torneios entre jovens com jogadores acima da idade permitida?
Isto é algo antigo que, infelizmente, até hoje não mudou. Desde os meus tempos de jogador, e já faz mais de 20 anos, que a gente fala sobre esse problema de \"gatos\", inclusive no Brasil, mas não se toma nenhuma providência efetiva para coibir isso. Acho que a punição para quem faz também deveria ser muito mais severa, como a do doping no atletismo, por exemplo. Como atleta, já joguei contra adversários com força física desproporcional, que diziam tem 17, 18 anos, mas que depois descobriu-se que tinham muito mais.

Você pretende permanecer na seleção Sub-20 depois do Mundial?
O técnico das seleções de base não é contratado pela CBF, é convocado. A gente conversou e fez um planejamento para este ciclo de dois anos. Depois do Mundial eu não sei se continuo, honestamente ainda não pensei bem sobre isso. Mas nunca escondi que meu principal objetivo é treinar uma equipe profissional. Tenho 38 anos e sou técnico há apenas cinco. As coisas estão acontecendo rapidamente para mim, mas de maneira positiva. Não quero forçar nada, hoje estou muito feliz na sub-20 e acho que tudo vai acontecer naturalmente.

Quais são suas referências como treinador?
O melhor dos que trabalhei foi o Ênio Andrade, no Cruzeiro. Era fora de série, tinha um conhecimento muito grande de futebol, sabia mudar a equipe no intervalo, enxergar a partida, era muito inteligente. Outro muito bom foi o Telê Santana, que tinha uma preocupação muito grande com o futebol bem jogado, com a parte técnica. Mas ele também se preocupava em ganhar, cuidava da parte defensiva, não era, como dizem, um cara que só queria jogar bonito. Destaco também o Vanderlei Luxemburgo e o Carlinhos, que tinha aquele jeito simples mas montava as equipes com muita facilidade e era sempre muito correto com os jogadores.

Como foi seu início no futebol?
Eu comecei na escolinha do Vasco, quando tinha 10 anos, mas aí mudei para o Flamengo. Naquele momento, com 13 anos, queria fazer o que o meu coração estava mandando, jogar pelo clube que eu torcia. Então fui para o Flamengo e com 17 anos já estava estreando nos profissionais, contra o Coritiba, em 1988. Meu primeiro parceiro de zaga foi o Aldair e o time ainda tinha Zico, Bebeto, Zinho... lembro daquela escalação até hoje. Foi incrível poder jogar com eles, foi tudo muito rápido pra mim.

E sua passagem pelo Cruzeiro?
Depois de quase 300 jogos pelo Flamengo, fui para o Cruzeiro e acho que lá joguei melhor do que no Flamengo. Ganhamos a Libertadores de 97 e vários outros títulos. Acho que se tivesse em um clube do eixo Rio-São Paulo eu tinha ido para a Copa de 98. Foi maravilhoso ter jogado lá.

Por que você parou de jogar tão cedo?
Em 99, quando eu estava no Paraná, tive uma contusão séria no joelho. E aí foi uma atrás da outra, tratava de um joelho e começava a doer o outro. Tive problemas físicos durante alguns anos, dei um tempo em 2002 para tentar me recuperar de vez e em 2003 voltei para o Vila Nova, de Goiás. Mas não conseguia mais jogar em alto nível e resolvi parar, tinha só 33 anos. Mas isso era uma coisa que eu tinha na minha cabeça, se não conseguisse jogar bem ia parar, não ia ficar \"roubando\" ninguém, como a gente diz no futebol.

Por que o torcedor brasileiro deve acreditar no título do Mundial Sub-20?
Porque o Brasil tem jogadores de muita qualidade e que têm um respeito muito grande pela camisa da seleção, pela história e por tudo o que ela representa. É uma grande responsabilidade saber que uma partida da seleção pode mexer com a emoção de tanta gente, por isso jogamos com respeito pelo povo brasileiro que torce tanto por nós. Tenho certeza de que todos vão fazer o melhor na sexta-feira para conquistar este título.

Fonte: ge