Henrique Mathias analisa Johan Rojas, possível reforço do Vasco
Johan Rojas é um jogador cuja leitura exige menos a lógica do destaque imediato e mais a compreensão do contexto em que está inserido. Embora frequentemente listado como extremo, sua atuação real se dá em zonas de organização, a partir dos corredores laterais para dentro, onde encontra melhores condições para pensar o jogo, conduzir a bola e ordenar a progressão progressiva. Seu perfil não é o do lutador vertical que vive de avanço constante ou de ruptura agressiva, mas o de um intérprete do jogo, que entende o tempo das ações e atua como elo entre a base da jogada e o terço final.
A essência do seu futebol está na técnica. Rojas construiu vantagem a partir do controle de bola, do primeiro toque orientado e da capacidade de enxergar linhas de passe antes que elas se fechem. É um jogador confortável com a posse, capaz de desacelerar quando necessário e de acelerar a circulação por meio de passes verticais ou inversões longas, recurso que frequentemente o coloca como um dos principais responsáveis pela progressão territorial de sua equipe. Essa característica o torna mais relevante na preparação das jogadas do que na sua conclusão: seu jogo se manifesta na construção do caminho até o gol, não necessariamente no último gesto.
Essa leitura se confirma também na forma como participa do terço final. Rojas dribla bem em espaços curtos, principalmente quando pode receber de frente e escolher o momento da ação, mas raramente atua como um desequilibrador constante na última linha defensiva. Sua produção direta tende a ser funcional, sem números expressivos de criação de chances claras ou de assistências, o que reforça o perfil de organizador avançado, e não de protagonista estatístico. Quando finaliza, o faz dentro dos padrões médios de eficiência, sem que o gol seja o eixo central do seu jogo.
No plano mental, há um jogador atento ao ambiente ao redor. Seu transporte entre linhas é criterioso, buscando zonas onde possa receber com tempo e espaço para decidir. Antecipação e concentração compensam, em parte, especificações físicas evidentes. Rojas entende onde estar e quando se mover, o que lhe permitirá seguir influente mesmo sem grande intensidade atlética. Essa inteligência de jogo, no entanto, exige que o sistema coletivo esteja alinhado às suas características; fora desse cenário, sua influência tende a diminuir.
É justamente no aspecto físico que reside seu maior ponto de atenção. Rojas não é um jogador de contato. Duelos frequentes, disputas corporais e jogos de alta fricção buscam sua eficácia e expõem suas fragilidades. Embora possua boa agilidade e melhoria para criar pequenas vantagens em espaços curtos, a falta de força compromete sua capacidade de sustentar ações sob pressão constante. Em contextos mais intensos, especialmente em ligas de maior exigência física, isso se traduz em menor impacto prático, mesmo quando o volume de participação se mantém.
Sem a bola, sua contribuição é limitada. Rojas não oferece presença defensiva relevante nem intensidade na recomposição, o que impõe disposições coletivas claras. Seu encaixe ideal passa por estruturas que aceitam essa assimetria, compensando sua baixa entrega defensiva com organização posicional e coberturas bem definidas.
A trajetória de sua carreira ajuda a entender esse conjunto. No futebol colombiano, encontrou um ambiente que potencializou suas virtudes técnicas e cognitivas, permitindo que assumisse protagonismo criativo e apresentasse seus melhores números de participação agressiva. A mudança para o futebol mexicano representou um salto de exigência competitiva que impactou diretamente sua produção. O volume de jogo não foi interrompido, mas o peso das ações futuras, sinalizando dificuldades de adaptação tática e, possivelmente, de confiança.
Johan Rojas, portanto, é um jogador de valor altamente contextual. Em sistemas que privilegiam a posse, a circulação e a progressão pensada, ele pode ser um organizador relevante, capaz de dar sentido ao jogo ofensivo e conectar setores com qualidade. Em modelos que desativam intensidade física constante, devido a frequências e contribuições defensivas elevadas, tendem a perder espaço e influência. Seu talento permanece evidente; o desafio é menos em suas capacidades individuais e mais na capacidade do ambiente em acolhê-las e transformá-las novamente em impacto.
Fonte: Henrique Mathias via Substack