Hélton: "A princípio, penso em encerrar a carreira no Porto"
Porto (Portugal) - Goleiro menos vazado do Campeonato Português (11 gols em 26 jogos). Capitão do time. Ídolo da torcida. Cinco vezes campeão nacional pelo Porto a última delas nesta temporada, de forma invicta (até o momento), com cinco rodadas de antecedência e após uma vitória (2 a 1) sobre o Benfica, na casa do rival. O goleiro Helton está de bola cheia na Terrinha, onde, depois de alguns anos no União de Leiria (após deixar o Vasco, em 2002), conquistou corações e mentes dos adeptos de um dos mais tradicionais clubes de Portugal.
Mas Helton não se acomoda. Mesmo feliz com sua fase atual, quer mais. Muito mais. Exemplo? Conquistar os dois títulos que o Porto ainda disputa este ano: a Liga Europa (o clube se classificou às semifinais contra o Villarreal, da Espanha , após a vitória de ontem (5 a 2) sobre o Spartak Moscou, na Rússia) e a Copa de Portugal. Chega? Negativo. Helton também quer voltar à seleção brasileira e disputar a Copa América da Argentina. De olho no futuro, ele valoriza o presente, mas não esquece o passado, quando, ainda garoto, trabalhou como empacotador enquanto sonhava ser jogador de futebol. Quis o destino e o Vasco que, em janeiro de 2000, no Mundial de Clubes da Fifa, Helton mostrasse seu valor. O Vasco, aliás, também não sai da cabeça do goleiro, que, embora feliz no Porto, admite a hipótese de, quem sabe, encerrar a carreira na Colina.
MB: Você vive a melhor fase de sua carreira. Qual o segredo para chegar aonde está hoje?
Helton: Sempre trabalhei com seriedade, fiz o máximo que podia para evoluir. Vim para Portugal jogar no Leiria, que não é considerado um grande clube. Procurei me esforçar e tive meu trabalho reconhecido pelo Porto (em 2005). Para ter uma carreira de alto nível é preciso matar um leão por dia.
MB: Você já foi campeão português cinco vezes. Pode-se dizer que esta foi a mais emocionante?
H: Não é todo dia que se ganha um título na casa do rival. É uma sensação diferente para nós, que temos grande identificação com o clube. Foi um dia maravilhoso, que ficará na minha memória para sempre.
MB: Como foi ser campeão na casa do Benfica? A atitude do rival após o jogo (apagar a luz e irrigar o gramado) o incomodou?
H: A atitude deles foi previsível. Ninguém gosta de ver o visitante fazendo a festa, ainda mais quando este é o seu maior rival. Mas isso não nos irritou. Levamos na esportiva. Faz parte do futebol.
MB: O Porto ainda está na briga pelo título da Liga Europa e da Copa de Portugal. Dá para vencer as duas?
H: Estamos trabalhando para isso. Sabemos das dificuldades que essas competições nos apresentam, mas estamos confiantes. Vamos pensar em dar um passo de cada vez. Quero muito o título da Liga Europa. É uma competição que falta no meu currículo pelo Porto.
MB: A que atribuiu o fato de ser o goleiro menos vazado do Português?
H: Ao trabalho de todo o grupo, à liberdade e à confiança que o Villas-Boas (técnico) deposita em mim. Ele me dá todo o respaldo que preciso para ir a campo e fazer o melhor. Essa tem sido uma temporada especial para mim. Sou realizado por estar contribuindo efetivamente para nossas conquistas.
MB: Acredita que esta boa fase pode levá-lo novamente à seleção brasileira?
H: Espero que o Mano Menezes ache que sim (risos). Desejo voltar à Seleção. Enquanto estiver jogando em alto nível e confiando em minhas capacidades, tenho que achar que é possível. É uma motivação a mais para eu seguir evoluindo.
MB: Ficou frustrado por ter sido convocado por Dunga, mas acabado fora da Copa da África do Sul?
H: Apesar de saber que era difícil, eu estava esperançoso nos meses que antecederam o Mundial. Acabou não acontecendo, mas não tenho mágoas. O Dunga tinha muitas opções e levou goleiros de qualidade. Respeito os que foram e a decisão dele, que não foi fácil.
MB: Como avalia o trabalho de Mano Menezes?
H: Ele está fazendo um ótimo trabalho. A seleção brasileira tem tido boas atuações nos amistosos e mostrado uma evolução, o que é importante.
MB: Está pronto para voltar à Seleção?
H: Se houver uma chance, vou procurar ajudar com a experiência que adquiri ao longo dos anos. Tenho um grande amigo lá, que é o Julio Cesar. Seria ótimo conviver com ele novamente.
MB: O que acha da concorrência em sua posição?
H: O Brasil é um país bem servido de goleiros. Fico feliz por ver muitos jogando na Europa. Não é fácil para o técnico da Seleção escolher só três no meio de tantos. Cabe a cada um fazer o seu trabalho da melhor maneira possível.
MB: Pensa em jogar em outro país na Europa?
H: Estou feliz no Porto, tenho o carinho da torcida, de todos no clube e sou grato por isso. Não há nada em vista para deixar Portugal. Sondagens aparecem, mas nada de concreto.
MB: Você começou profissionalmente no Vasco. Tem saudade do clube?
H: Eu morava em Alcântara quando comecei no Vasco. Dava um jeito para ir treinar, pedia para o motorista do ônibus me deixar entrar pela frente... Trabalhei em obra naquela época, de empacotador... Lembro que fiquei o maior tempão vendendo raspadinha. Só quando me destaquei no Vasco é que comecei a morar na concentração. Aí, ficou mais tranquilo. Tenho muita saudade de São Januário, onde evoluí como jogador e como pessoa.
MB: Tem vontade de voltar a vestir a camisa 1 do Vasco?
H: Não penso em voltar agora, pois lá tem um grande goleiro e profissional exemplar, que é o Fernando Prass. Quando deixei o União de Leiria, foi ele que me sucedeu. Ficamos muito amigos.
MB: Mas não pensa nem em encerrar a carreira no Vasco?
H: Passei muitas coisas no Vasco e lhe devo muito por isso. Mas, a princípio, penso em encerrá-la no Porto, que foi o clube que me acolheu. Hoje estou focado no Porto.
MB: Tem muito vascaíno que vai ficar frustrado ao ler isso ...
H: (risos) Não sabemos o dia de amanhã. Até posso encerrar a carreira no Vasco, pois foi o clube que me projetou e pelo qual tenho enorme carinho, mas não posso precisar quando e se isso realmente acontecerá.
MB: Você teve que superar a desconfiança da torcida do Vasco quando, em 2000, substituiu Carlos Germano no Mundial de Clubes? Se considera um predestinado?
H: É gratificante olhar para trás e ver o caminho que trilhei com muita dificuldade para chegar aonde estou. Agradeço a Deus todos os dias por ter saúde e tudo que conquistei.
MB: O que representou disputar o Mundial de Clubes? O vice ainda machuca?
H: Foi um balde de água fria perder a final (para o Corinthians, nos pênaltis). Estávamos vivendo um momento maravilhoso. Havíamos vencido o Manchester United. Ficamos tristes porque sabíamos a importância, o que representava aquilo para o torcedor do Vasco. Derrotas como essa não são esquecidas tão facilmente.
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