Há 20 anos, Vasco e Flamengo se enfrentavam na Superliga
Maracanãzinho, 17 de abril de 2001. Flamengo faz 2 a 1 no Vasco e fica a um set de conquistar a Superliga Feminina de vôlei. As cruz-maltinas reagem, empatam o jogo e levam a partida ao tie-break. O time da Colina consegue dois match points, mas o Rubro-Negro tem Virna em noite inspirada. Comandado pela ponteira medalhista olímpica, o Flamengo vira o quinto set, vence o jogo e conquista o título diante de um ginásio lotado. Estava escrito ali um dos capítulos mais épicos de uma rivalidade que se estende a várias modalidades.
No aniversário de 20 anos da decisão, o ge levou a heroína Virna e a ex-vascaína Fernanda Venturini ao Maracanãzinho para relembrarem aquela final. Fabi, então líbero do Vasco, e Leila, oposta do Flamengo, também contaram histórias importantes envolvendo a temporada 2000/2001.
- É uma adrenalina vir aqui. Passa um filme na cabeça. Lembro de muitos detalhes daquela partida. Eu lembro que a torcida flamenguista era todo esse lado aqui. E na hora que eles cantavam aquele hino, ecoava no estádio. Muito emocionante. Foram momentos únicos na minha vida. Eu lembro, que quando saiu o último ponto, eu abracei as meninas muito rápido e corri para a torcida. Modéstia à parte, naquele jogo, eu estava inspirada. Foi um dia que realmente as coisas conspiraram a meu favor - disse Virna.
Flamengo e Vasco montaram timaços
Capitaneados por investidores externos, Flamengo e Vasco montaram grandes equipes para a Superliga Feminina 2000/2001. O Flamengo apostou em Virna e Leila como seus grandes pilares. O time tinha ainda as jovens Valeskinha e Arlene, além da americana Tara Cross-Battle, que teve importante participação na decisão. No comando estava o então novato Luizomar de Moura, que dirige o Osasco desde 2007.
O Vasco não deixou por menos. Na esteira do seu projeto olímpico, cujo auge se deu nas Olimpíadas de Sydney 2000, o Cruz-Maltino trouxe as selecionáveis Fernanda Venturini, Ida e Denise. Márcia Fu foi outra medalhista olímpica contratada. No entanto, ela sofreu uma lesão no joelho na fase final, desfalcando a equipe no playoff decisivo. Havia ainda as promissoras Sassá e Fabi, que teve a árdua missão de jogar pelo maior rival do seu clube de coração.
- Eu falo com muita tranquilidade sobre isso, porque eu queria ter esse titulo no meu currículo. Eu queria ser campeã brasileira pelo Vasco, queria ter entrado para a história do Vasco, independentemente de não ser vascaína. O profissional é algo totalmente diferente da sua paixão. Eu sou rubro-negra desde que nasci, mas era jogadora do Vasco. A minha paixão pelo Flamengo é completamente diferente da entrega profissional que eu tinha pelo Vasco - destacou Fabi.
Para Virna, o Vasco era o favorito para conquistar a Superliga naquela temporada. Segundo a capitã rubro-negra, o Cruz-Maltino montou uma verdadeira seleção, que acabou perdendo por 3 a 1 para o Flamengo no playoff final.
- Nosso time não era o favorito. O Vasco era uma seleção brasileira. Um time muito mais forte. Naquele ano, Flamengo e Vasco investiram muito em esporte amador. Aquilo fomentou muito o esporte no Rio de Janeiro. Os estádios estavam sempre lotados, tinha jogo que não tinha ingresso. Foi muito bacana, porque aquilo ali só fez crescer o esporte brasileiro - comentou a camisa 10 do Flamengo.
Venturini jogou a final grávida
Principal jogadora do Vasco, Fernanda Venturini descobriu que estava grávida da sua primeira filha, Júlia - fruto do seu casamento com o técnico Bernardinho -, um pouco antes de final. Ao se recordar da decisão, ela lamenta o desfalque de Márcia Fu e os dois match points desperdiçados pelo Vasco naquele jogo 4 do playoff.
- Eu lembro de um jogo muito tenso, muito nervoso por a gente estar sem uma jogadora essencial. A gente saiu atrás, porque a Marcia Fu era meio time. Então a gente teve que se desdobrar em quadra. E a gente teve duas oportunidades para fechar o jogo, né? Isso que foi mais triste, mas acontece, o vôlei é assim. Quem não faz, toma - resumiu.
Leila "vira casaca"
Dentre as personagens da final da Superliga 2000/2001, salta os olhos a história da oposta Leila. Oriunda de uma família vascaína, a brasiliense tornou-se torcedora rubro-negra antes de jogar o playoff decisivo entre Flamengo e Vasco.
- Meu pai, já falecido, era um vascaíno fanático. Meu irmão cresceu vascaíno, a minha família inteira basicamente era vascaína. Brinco que eles não mudaram também porque ainda não vestiram o Manto Sagrado (risos). Foi uma relação tão profunda, que cheguei para o pai antes da final e falei que tinha virado flamenguista. Ele ficou muito chateado, mas ao mesmo tempo, tinha a questão do orgulho da filha, da minha entrega. Ele até brincava que queria me ver no Vasco. Mas, enfim, ele aceitou. Pai é pai - contou.
Leila ainda foi além. Para ela, a sinergia entre jogadoras e torcida levou o Flamengo ao título da Superliga daquele ano. Ela também destacou o trabalho de Luizomar de Moura e a atuação espetacular de Virna na final.
- A torcida, ela fez toda uma diferença, foi o sétimo jogador para nós. No comando, a gente tinha o Luizomar, que era um jovem técnico com sangue nos olhos. A força do coletivo, o entendimento da equipe de que cada peça era importante naquele processo e o entrosamento com a torcida foram os fatores que levaram o Flamengo ao título. Até hoje, quando vou ao Rio, sempre tem um flamenguista que diz: "Ah, Leila aquela final do Flamengo". Foi muito bacana ter marcado a vida dessa geração que hoje já são homens e mulheres - finalizou.
O Flamengo conquistou a Superliga 2000/2001 ao vencer o playoff melhor de cinco jogos por 3 a 1. O Rubro-Negro venceu o jogo 1 por 3 sets a 1. O Vasco empatou a série no jogo seguinte ao fazer 3 sets a 0. Na partida três, o Rubro-Negro triunfou por 3 sets a 1, ficando a uma vitória do título, que veio no jogo 4 pelo placar de 3 sets a 2.
Fonte: GE