Futebol

Grandes estudam proteção contra o rebaixamento

Com o recente rebaixamento do River Plate no campeonato argentino de futebol, parece ter-se iniciado um movimento para que os 12 grandes clubes do futebol brasileiro (Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense, Botafogo, Corínthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Grêmio, Internacional) não possam ser mais rebaixados no Campeonato Brasileiro.

Segundo esta corrente, os 12 tradicionais clubes devem ser protegidos do rebaixamento, uma vez que são eles que movimentam a maior parte dos negócios do futebol brasileiro.

Proteção para os 12 clubes grandes não poderem ser rebaixados? Isso constitui um total descompromisso com a ética, um atentado contra a meritocracia.

Por que os 12 grandes clubes deveriam ter tratamento diferenciado em relação aos demais? Privilégios? Será que é isso que nossa sociedade demanda? Não, não é isso que nossa sociedade demanda. Ao contrário, nossa sociedade quer regras iguais e que valham para todos, não regras distintas que criem um abismo entre privilegiados e excluídos — assim deve ser para os indivíduos, assim deve ser para as Instituições.

Também há um movimento para se condenar o fato de o Campeonato Brasileiro ser disputado em turno e returno e com pontos corridos.

Este formato é considerado, por alguns, chato e desinteressante.

A pergunta que não quer calar é: se o campeonato é tão chato, tão desinteressante, por que os 12 grandes clubes — os mesmos q u e a l g u n s q u e re m proteger — não se insurgiram ainda contra a fórmula, praticada pela nona temporada seguida? Simples e elementar: porque a fórmula é boa, como provam os índices de presença de público nos estádios e de audiência, crescentes ao longo dos anos. Exatamente porque, ao se permitir oportunidades iguais a todos os participantes, ideal do formato em pontos corridos, se privilegia o mérito.

Também há críticas ao fato de 20% dos clubes serem rebaixados no Brasileirão (quatro, em 20), uma vez que este número é considerado excessivo.

De fato, este número é impróprio.

Mas não por ser alto, e sim por ser baixo.

Um número mais apropriado seria de 25 % — cinco rebaixados, em 20.

Não se pode esquecer que nosso país tem dimensões continentais, o que gera, sempre, um número considerável de clubes razoavelmente expressivos na Segunda Divisão.

Neste ano, mesmo, tem-se alguns clubes nesta condição na Segundona, como Vitória, Sport, Náutico, Portuguesa, Goiás, Guarani e Ponte Preta. Permitir que cinco sejam rebaixados na primeira divisão, ao invés de quatro, é permitir que cinco clubes da segunda, ao invés de quatro, sejam promovidos à primeira. O que parece apropriado em um país com vários centros importantes, com clubes de futebol representativos.

Os idealizadores da proteção para que os 12 grandes clubes não possam ser rebaixados, da visão de que o Campeonato Brasileiro não deve ser por pontos corridos e de que ter 20% dos clubes rebaixados é algo excessivo defendem a ideia de que futebol é um negócio e como tal deve ser tratado. Concordo: de fato, futebol é negócio. Mas, para o negócio ser rentável e sustentável ao longo do tempo, é preciso que os clubes, por maiores que sejam, não possuam privilégios. É preciso que as fórmulas de disputa sejam justas e simples. É preciso que os clubes de menor investimento tenham possibilidades de ascensão. Tudo de acordo com o merecimento. Tudo de acordo com a ética. Tudo se respeitando o torcedor, o cliente, que não quer ver pesos e medidas distintos entre as Instituições futebolísticas. Mérito é a palavra.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Jornal O Globo