Goleiro Sílvio Luiz chegou a atuar como meia-esquerda no início da carreira
Adaptações de lateral à função de meia ou vice-versa são freqüentes no futebol e o exemplo clarividente foi Zé Roberto no Santos até a última Libertadores da América. De lateral-esquerdo na Portuguesa, no início de carreira, passou a ser um dos volantes na Seleção Brasileira. Aí, o treinador Vanderlei Luxemburgo optou por liberá-lo para a criação de jogadas e o transformou em meia ofensivo no time santista, tal qual foi Júnior nos tempos de Flamengo e no selecionado canarinho.
Nesse contexto de troca de posições é praxe lateral-esquerdo passar à quarta-zaga, caso de Ronaldão (ex-São Paulo), ou lateral-direito se deslocar para o meio da área, como Ricardo Rocha (ex-São Paulo), Leandro (ex-Flamengo) e Carlos Alberto Torres (na segunda passagem pelo Fluminense).
O que raramente ocorre é uma mudança brutal de característica, do tipo um zagueiro se transformar em atacante. E um dos exemplos marcantes foi do americanense Marcão, com passagem discreta pelo São Paulo na década de 80. Ele chegou ao juvenil da Ponte Preta como zagueiro central e o então técnico Cilinho o remanejou para a função de centroavante, com a justificativa de que não poderia prescindir no ataque de um jogador com quase 2m de altura, para ajeitar a bola por cima visando um companheiro no complemento da jogada. Cilinho havia se espelhado no bom exemplo de Téia, nos tempos que comandou a Ferroviária, quando o grandalhão explorava a estatura avantajada e escorava a bola de cabeça para um companheiro mais bem colocado. O diferencial de Téia é que posteriormente foi aprimorando as conclusões e transformou-se num goleador. Foi artilheiro do Campeonato Paulista de 1968 pela Ferroviária, com 20 gols, feito que garantiu seu passaporte ao São Paulo. Hoje Téia mora em Curitiba e administra uma loja de veículos.
Exemplos de sucessivos recuos de jogadores são mais constantes, três deles aplicados no Guarani. Primeiro foi o então ponta-direita Ferrari, que se adaptou inicialmente à lateral-direita e, já no Palmeiras, à lateral-esquerda. Quem poderia supor que um veloz ponta-direita, autor de dois gols dos três da vitória bugrina sobre o Santos, em 1959, por 3 a 2, fosse recuar à lateral-direita no ano seguinte? Aquele jogo contra o Peixe significou a permanência do Guarani no grupo de elite do futebol paulista e foi marcado por um fato inusitado: por exigência do técnico João Avelino (já falecido), o time jogou de meias pretas, nada a ver com as tradicionais cores verde e branco.
A experiência encorajou o Guarani a novas aventuras, como o recuo do ponteiro-esquerdo Bezerra - que veio de Barretos - à lateral-esquerda. E mais: no São Paulo, onde atuou de 1976 a 80, foi remanejado à quarta-zaga. Mesmas posições foram ocupadas por Vaguinho, só que no caminho inverso de clubes. Primeiro no São Paulo como ponteiro-esquerdo, posteriormente como lateral-esquerdo e quarto-zagueiro no Guarani.
Também no Bugre, Miranda deixou de ser um ponteiro-direito para se transformar num lateral, inicialmente pelo lado direito e depois no esquerdo.
Acreditem: há até exemplo de um meia-esquerda que se transformou em goleiro, caso de Sílvio Luiz, hoje no Vasco. Ainda na categoria juvenil foi recuando para a função de volante, depois quarto-zagueiro, até se fixar como goleiro. Pode?