Futebol

Goleiro revelado pelo Vasco, Fábio dos Santos, se naturaliza vietnamita

Foram apenas três dias para que a proposta virasse uma realidade jamais imaginada. Do convite despretensioso de um amigo até a mudança, não houve tempo para procurar alguma informação sobre o Vietnã, país que foi assolado por uma guerra durante mais de uma década e destino do goleiro brasileiro Fábio dos Santos, há sete anos.

A opção pelo país asiático, a princípio, não foi encarada como algo realmente possível. "Um amigo que lida com futebol falou que arrumaria um time para mim. Mas não imaginei que isso pudesse acontecer de verdade, tanto que nem fui buscar alguma informação sobre o Vietnã. Quando vi, já estava com o passaporte na mão, embarcando", contou Fábio, 30, arqueiro do Dong Tan, clube da primeira divisão do futebol vietnamita (V-League), em entrevista por telefone ao Pelé.Net.

No país desde 2001, Fábio se sente à vontade no bong da, futebol em vietnamita. E o fruto dessa adaptação está prestes a ser concretizado, com a sua mudança de nacionalidade. Em breve, o brasileiro será considerado vietnamita, condição que lhe dará a chance de defender a seleção local.

O pedido para que o atleta desse entrada com os documentos para a naturalização foi feito por Henrique Calisto, técnico português que assumiu recentemente a seleção local e que o comandou no Dong Tan.

"Há dois anos que me pediam isso, pois no campeonato local cada time só pode ter cinco estrangeiros. No começo não aceitei, mas como vi que as coisas poderiam ficar difíceis para mim aqui, resolvi ceder", explicou Fábio, acrescentando que sua equipe conta atualmente com mais quatro brasileiros no elenco.

No fim deste mês, Fábio poderia estrear pela seleção vietnamita. Mas ele já sabe que ainda não terá condições de atuar, pois seu processo de naturalização ainda não está encerrado.

Do sonho de criança ao selecionado vietnamita, Fábio ainda teve uma passagem pelo Vasco, clube que o revelou para o futebol. Mas a concorrência antes da virada do milênio era complicada, pois Carlos Germano reinava em absoluto na meta do time cruzmaltino.

"Não tinha como eu jogar lá com o Carlos no gol", relembrou o carioca, que também já atuou pelo Atlético Goianiense (1999) e Ipatinga (2000).

Embora pareça uma escolha bizarra para muitas pessoas, Fábio não se arrepende de ter trocado o Rio de Janeiro por Ho Chi Minh, a antiga Saigon. De reserva do goleiro Carlos Germano, no Vasco, o brasileiro passou a ser um dos principais atletas do Dong Tan.

"No Brasil eu não tinha a menor chance. Aqui é diferente. Estou bem adaptado e as condições do clube são muito boas. Aqui eu recebo em dia, nunca atrasam. Não penso em voltar para agora", analisou.

GOLEIRO TAMBÉM É ARTILHEIRO

Fábio dos Santos é uma espécie de Rogério Ceni no futebol vietnamita. Além de ser admirado pelos torcedores pelas defesas, o brasileiro também se arrisca nas cobranças de faltas.

A carreira de goleiro-artilheiro começou em 2001, logo que chegou ao Dong Tan. Percebendo que o brasileiro tinha habilidade com os pés, o técnico português Hernrique Calisto, incentivou o atleta a começar a treinar cobranças de faltas. Deu certo.

"Ele achava que eu batia bem na bola e passou a pedir para eu treinar. Já decidi três partidas a favor do meu time", contou o goleiro, autor de 10 gols pelo Dong Tan -nove pela V-League e um pela Copa da Ásia.

VESTÍGIOS DA GUERRA

Embora viva em um país que enfrentou um dos maiores conflitos armados depois da 2ª Guerra Mundial, Fábio dos Santos afirma não sentir os vestígios da Guerra do Vietnã. "Isso aconteceu há muito tempo. Hoje, o Vietnã está se modernizando, além de ser um país muito bonito", comentou o goleiro.

O conflito de 16 anos entre Vietnã do Norte e Vietnã do Sul deixou mais de 1 milhão de pessoas mortas entre civis e militares, além de vários mutilados. A guerra arrasou campos agrícolas, destruiu casas e provocou prejuízos econômicos gravíssimos ao país. Parte da história da formação do atual Vietnã, Fábio afirma que o único problema do povo vietnamita é a lembrança.

"Você vê ainda muitas pessoas mutiladas nas ruas em decorrência da guerra. Mas o pior são as pessoas que estão em torno de 30 anos e que, naquela época, tinham as mães grávidas. Elas carregam um trauma ainda muito grande", relatou.

Fonte: Pele.Net