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Gestão Salgado explica herança e desafios para Pedrinho no Vasco

A poucos dias do fim do mandato, a gestão de Jorge Salgado indica que entregará um Vasco com heranças positivas e desafios para o novo presidente Pedrinho, que tomará posse do cargo no dia 22. Em conversa com jornalistas na segunda-feira, o presidente e alguns dos principais vice-presidentes — Carlos Roberto Osório (VP Geral), Chico Kronemberger (Marketing) e Horacio Junior (História e Responsabilidade Social) — explicaram em que pé estão questões patrimoniais, de marketing e de responsabilidade social dentro do clube associativo.

Na primeira parte da conversa, publicada também nesta terça-feira, os dirigentes contaram bastidores da situação financeira e da constituição da SAF e posterior venda à 777 Partners. Clique aqui para conferir.

Maracanã

Atualmente em processo de licitação, o Maracanã é um assunto que une fortemente o associativo e a SAF do clube. O interesse de ambas as partes é gerir o estádio e com ele oferecer uma maior opção de acomodação à numerosa torcida cruz-maltina, que esgotou os ingressos da maioria das partidas em casa no último Brasileirão. Em consórcio com a Legends e a WTorre, o Vasco compete com o consórcio de Flamengo e Fluminense (atual gestor) e a Arena360, de Brasília.

Atualmente, o processo licitatório está na fase de julgamento de pedidos de impugnação e contrarrazões quanto à documentação de habilitação, que pode ser finalizada ainda nesta semana a nível administrativo. A próxima fase é a de propostas técnicas. O processo, naturalmente, atravessará as gestões e foi tratado especialmente com a equipe de Pedrinho nas reuniões de transição.

Para a atual gestão, houve um erro histórico de estratégia em anos anteriores ao deixar de lado o estádio. Sob a atual gestão do estádio, o Vasco tem muitas dificuldades em conseguir mandar jogos lá e frequentemente recorre à Justiça. Segundo Salgado, houve tentativas de diálogo com Rodolfo Landim e Mario Bittencourt, presidentes de Flamengo e Fluminense, mas que foram infrutíferas.

— Todas as decisões sobre Maracanã foram tomadas sempre em conjunto, isso mostra que eles (SAF) entendem o valor do clube, onde ele pode agregar. Ganhamos do Flamengo oito vezes na Justiça em primeira e segunda instância para jogar no Maracanã. Só não jogamos mais no Maracanã por algumas circunstâncias, porque não quisemos. O jogo contra o Corinthians seria no Maracanã, mas (o time) estava encaixado aqui e o Ramon (Díaz) pediu para manter em São Januário. Atendemos a comissão técnica, a SAF tomou essa decisão — explicou Osório.

Reforma de São Januário

Paralelamente à questão do Maracanã, o clube aguarda a votação do projeto de transferência de potencial construtivo de São Januário ser votado pela Câmara dos Vereadores, atualmente de recesso. O projeto de reforma e documentação já passou pelo prefeito Eduardo Paes, que no fim do ano passado o enviou à Câmara. À gestão de Pedrinho, caberá, em caso de aprovação no Legislativo carioca, seguir em frente com o projeto, tocar alterações ou até caminhar por outras vias.

De qualquer forma, a necessidade de ampliação do estádio, atualmente com cerca de 20 mil torcedores de capacidade, é clara. A atual gestão entende que há potencial de negócios inexplorado na Colina, que completará 100 anos em 2027. Há inspiração nas arenas multiuso.

— Você consegue oferecer uma hospitalidade muito melhor em qualquer estádio modernizado no Brasil. Outro ponto é que você não consegue setorizar. Basicamente, a gente tem três setores, quatro se considerar a área visitante. Social, área VIP e arquibancada como um todo. A gente tem um conflito ali entre querer manter o Vasco popular, com preços populares, e a geração de receita. Para ser popular, tem que deixar a arquibancada inteira com um preço mais em conta. Em outro estádio, com setorização, você cria dois ou três setores populares — avalia Kronemberger.

Obras nos CTs

As reformas e melhorias estruturais nos centros de treinamento Moacyr Barbosa, em Jacarepaguá, (profissionais) e de Caxias (categorias de base) também estão em pauta, mas não há prazos para os grandes investimentos acertados em contrato. No orçamento atual da SAF, há R$ 20 milhões destinados a melhorias nos dois centros de treinamento e em São Januário. Essa fatia de orçamento já havia sido mencionada anteriormente pelo CEO Lucio Barbosa.

Quanto aos CTs, há um impasse já conhecido sobre a questão de posse dos terrenos. Atualmente, estão cedidos em longo prazo ao Vasco associativo por município (Jacarepaguá) e União (Caxias). Por ora, é remota a possibilidade de transferência ao CNPJ da SAF, o que tem freado grandes investimentos.

Marketing e responsabilidade social

Na atual gestão, o Vasco se reaproximou, por meio de ações, eventos e homenagens, de causas sociais e simultaneamente de sua história. No ano passado, o cruz-maltino comemorou o centenário dos Camisas Negras. No mesmo dia em que conversaram com os jornalistas, representantes do clube inauguraram o anfiteatro Clementina de Jesus no Colégio Vasco da Gama, anexo ao estádio — e que atualmente vem sendo financiado pela SAF, que vê com muitos bons olhos a instituição, segundo a gestão.

O evento teve a entrega da honraria Pai Santana ao meia Lucas Eduardo, do sub-20, que se posicionou fortemente contra um ataque racista que sofreu na Copinha. A honraria foi uma das iniciativas para reforçar o posicionamento do clube na luta antirracista, fundamental em sua história.

— Falamos muito sobre os Camisas Negras, sobre o Barbosa, construímos dois museus, temos o Espaço Experiência agora, temos o Centro Cultural da (sede da) Lagoa — recém-reformada — com três exposições e espaço para criar mais — enumerou Horacio. O filme sobre os Camisas Negras do Amazon Prime Video, dirigido por Lázaro Ramos, segue em produção.

A camisa LGBTQIA+, utilizada em jogo em 2021, foi também foi um marco para o clube. Utilizada em jogo em 2021 e seguida por uma tradição de modelos que remete à luta, a camisa foi sucesso entre a torcida (e de vendas) e fez parte de uma campanha de conscientização contra a homofobia que envolveu torcidas organizadas. Além da questão social, a gestão vê na camisa um case de sucesso do licenciamento da marca.

— Quando o Vasco solta nas redes sociais, os lojistas começam a mandar mensagem. Eles tinham 50 camisas e já tinha esgotado só em pedido pelo Whatsapp. Quando o Vasco lançou, eu falei com o Osório, "vai esgotar". Não deu outra, em uma hora, as mais de duas mil camisas já tinham ido — lembra Kronemberger.

Fonte: Globo Online