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Gepe identifica integrantes da FJV trabalhando em São Januário

Acumulando suspensões dos estádios desde a briga em Joinville, na última rodada do Brasileiro de 2013, a Força Jovem do Vasco volta à mira das investigações do Ministério Público. A pedido do MP, o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) enviou um relatório e identificou pelo menos dois membros da organizada a serviço do clube em dias de jogos em São Januário.

O documento do Gepe, obtido pelo Jornal Nacional (veja a matéria completa no vídeo acima), é de 12 de julho, quatro dias após os episódios que terminaram em morte de um torcedor após o Vasco x Flamengo, em São Januário. O Grupamento colheu informações e utilizou fotos extraídas de redes sociais para ligar torcedores de organizadas ao clube.

A torcida está proibida de frequentar estádios em todo o Brasil, mas o veto se restringe, na prática, apenas a materiais, como faixas, bandeiras, camisas e outros adereços com símbolos da FJV (sigla da uniformizada do clube). Outro problema é que muitas vezes a fiscalização falha não impede a presença de torcedores da organizada nas partidas.

Ao mesmo tempo, porém, a uniformizada vascaína lidera o ranking de afastamento individual de torcedores desde 2015, divulgado há duas semanas pelo Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Em entrevista ao GloboEsporte.com, após o clássico, o major Hilmar Falhauber, comandante interino do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), já alertava para a prática do clube de empregar membros de organizadas para trabalhar no estádio.

- A situação tem de ser mais bem cuidada pela diretoria do Vasco, que tem de tomar alguns cuidados com relação a São Januário. A gente que trabalha no Gepe consegue ver, é notório, alguns torcedores que eram membros de organizadas trabalhando no estádio. Isso pode dificultar a segurança - disse ao GloboEsporte.com.

Pelo menos dois integrantes da organizada que estão suspensos dos estádios foram identificados como funcionários do clube: Rodrigo Granja, conhecido como Batata, e Sidnei Andrade, o Tindô. Batata chegou a ser conduzido pela Polícia Militar no clássico contra o Botafogo, no Nilton Santos, dia 21 de junho, para o Plantão do Juizado, mas disse que estava no estádio porque era funcionário do Vasco.

Tindô, que aparece em fotos em viagens de avião em dias de jogos e ao lado de jogadores do time profissional, como Douglas e Mateus Vital, é responsável pelo controle de acesso no portão 9, informa o relatório assinado pelo comandante do Gepe, major Silvio Luiz.

No documento, o Gepe reforça as suspeitas da Polícia Militar de que funcionários do Vasco foram coniventes com a entrada de artefatos explosivos em São Januário no clássico diante do Flamengo. A declaração irritou o presidente do Vasco, Eurico Miranda, que classificou como precipitada a invesigação.

O relatório do Gepe lembra que Sidnei é responsável pelo acesso 9, "colocando dessa forma em risco a segurança do evento, uma vez que não há como controlar suas atividades, e por fazerem parte da referida torcida organizada podem facilitar a entrada de materiais proibidos ou dos próprios integrantes da torcida, uma vez que como funcionário do clube possuem livre acesso de entrada/saída por qualquer portão do estádio sem passar pelos locais onde são realizadas revistas dos torcedores."

 

Agressor de Rodrigo tem acesso a São Januário

As imagens obtidas pelo Gepe mostram o trânsito livre no clube da organizada suspensa dos estádios. Numa das fotos, diversos membros da Força Jovem posam com o presidente Eurico Miranda. Entre eles está Savio Agra, que foi eleito este ano novo presidente da FJV - o pleito foi realizado dentro do ginásio de São Januário, em março.

Candidato da chapa vencedora "O ideal voltou", Savio foi o torcedor identificado como agressor do ex-zagueiro vascaíno Rodrigo em setembro de 2015, na chegada da delegação ao hotel que servia de concentração do time, na Lapa. À época, a diretoria "repudiou de forma enérgica os atos de violência." Savio e outros membros da uniformizada aparecem ainda em fotos em dias nos quais a torcida fez reuniões com o elenco para reclamar da má fase da equipe profissional.

O que diz o Vasco

O presidente do Vasco, Eurico Miranda, falou com a reportagem do Jornal Nacional. Segundo o mandatário, não compete a ele saber se seus funcionários estão trabalhando de maneira indevida. Eurico também deu a entender que é uma descriminação se ele estiver proibido de contratar funcionários que sejam membros de torcida organizada.

- Se eles estão trabalhando de forma indevida, não compete a mim. Eu quero saber o que me impede de ter funcionários do clube de ser de torcida organizada. Que discriminação é essa? Eu não sei e não tenho a relação das pessoas que estão proibidas de frequentar os jogos.

Juiz pede investigação da Polícia Civil

Em reportagem publicada na manhã deste sábado, o G1 noticiou que o juiz Mario Olinto Filho, que estava de plantão no estádio de São Januário durante o jogo entre Vasco e Flamengo pelo Campeonato Brasileiro, pediu à 17ª Delegacia de Polícia, de São Cristóvão, que abrisse inquérito para apurar as responsabilidades pelos atos de violência e vandalismo envolvendo torcedores do Vasco após o término da partida.

No clássico realizado há uma semana, o vascaíno David Rocha Lopes, de 27 anos, morreu ao ser baleado fora do estádio.

Ao G1, a assessoria de imprensa do Vasco informou que o jogo "só aconteceu em São Januário porque o clube cumpriu as exigências dos órgãos públicos e, por isso, teve aprovada a realização do evento". Disse também que "o clube prestará as informações à medida que for comunicado judicialmente".

Além da esfera policial, o Vasco será julgado na segunda-feira (17) pela Justiça Desportiva, na qual corre o risco de perder mandos de campo e levar multa. O Ministério Público também tenta a interdição de São Januário.

Em nota, organizada lamenta a confusão

Dois dias depois das cenas de barbárie vistas em São Januário, a Força Jovem se pronunciou em uma nota oficial na sua página oficial no Facebook. Nela, a organizada lamenta o episódio, ressalta que Vasco e São Januártio tinham condições de receber a partida contra o Flamengo e pede punições severas aos "indivíduos criminosos". Confira a nota na íntegra:

"NOTA OFICIAL (C.R. Vasco da Gama x C.R. Flamengo - 08/07/2017)

O G.R.T.O. Força Jovem lamenta os episódios de violência e depredação ocorridos em São Januário na partida disputada contra o C.R. Flamengo, dia 08/07/2017.

É de absoluta convicção que o Clube e Estádio possuem totais condições de sediar qualquer evento esportivo, independentemente de qual adversário seja visitante. Os reais culpados dos crimes citados, são marginais trajados de vascaínos que premeditadamente adentraram na partida portando artefatos explosivos no objetivo único de prejudicar o futebol do C.R. Vasco da Gama.

A Força Jovem espera que seja realizada a identificação dos bandidos disfarçados de torcedores e também dos policias que indevidamente utilizaram armas de fogo, causando um homicídio. A Diretoria já se colocou a disposição dos órgãos de segurança para qualquer tipo de colaboração com as investigações, dando continuidade ao seu compromisso firmado por aplicação de idéias e atitudes pela paz no esporte, denunciando e excluindo qualquer meliante dos ambientes socioespotivos.

Como de costume, a Diretoria da Força Jovem trabalhou mais um jogo para que seus associados cumprissem as sanções judiciais impostas pelo Ministério Público, promovendo um evento social com transmissão da partida em sua sede, sem comparecimento e deslocamento ao Estádio. Caso os sócios e líderes da Força Jovem pudessem estar presentes na arquibancada, com certeza exerceriam a função de liderança da massa, coibindo grupelhos de realizar tais graves crimes contra o C.R. Vasco da Gama.

Punições severas aos indivíduos criminosos, chama-se: solução!

Punições a instituições, chama-se: ineficiência covarde!

'PAZ NO ESPORTE É NOSSO OBJETIVO'

Att.: Diretoria do G.R.T.O. Força Jovem

'NINGUÉM FICA PRA TRÁS'"

Fonte: ge