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Garoto da base do Barcelona diz que encerraria carreira no Vasco

Acostumados a ver os shows do time do Barcelona apenas pela TV, 120 crianças estão tendo a oportunidade de aprender na prática a filosofia do futebol de Messi & Cia. durante esta semana no Rio, no Centro Cultural e Esportivo Israelita Adolpho Bloch, na Barra. Pela primeira vez no Brasil, o Barça Camps, com aulas ministradas por profissionais do clube catalão, tem o desafio de ensinar, em cinco dias, a metodologia que ajudou a formar jogadores como o próprio Messi, além de astros como Puyol, Piquet, Fàbregas, Xavi e Iniesta.

São quatro categorias (sub-7, sub-9, sub-11 e sub-13) e cada uma tem duas equipes. Os meninos têm a supervisão de treinadores do Barcelona. Além de treinos táticos e técnicos com apoio de um médico e um fisioterapeuta, há preleções e até filmagem de pequenos discursos feitos pelos meninos, falando sobre a magia do futebol mostrado pelo time profissional espanhol. Isso tudo pelo investimento de R$ 700.

Aluno da Escola Britânica, o meia Gabriel, de 12 anos, joga pelo Fluminense, mas, se tivesse oportunidade, não hesitaria.

— Iria para o Barcelona, sem dúvida — diz o garoto.

Formação sem cobranças O sonho dele é o mesmo dos meninos da sua idade e de qualquer criança com a bola nos pés: ser jogador de futebol.

Mas, para essa geração, não importa muito o time do coração. Eles sonham o mais alto possível: brilhar no Barcelona.

É o caso do meia vascaíno Enzo Mello, de 12 anos.

— Meu sonho é jogar pelo Barcelona, mas encerraria a carreira no Vasco — esnoba.

E não apenas cariocas e brasileiros perseguem esse sonho.

O angolano Amilton Cabal, de 12 anos, mora em Ortolândia (SP), onde joga no ataque do Paulínia. Ele veio de ônibus para o Rio com um discurso humilde.

— O Inter me chamou, mas minha mãe não deixou ir. Jogar pelo Barcelona é um grande sonho, que um dia espero realizar.

Todos queriam estar lá no melhor time do mundo, mas sei que é difícil porque o Brasil revela grandes craques — diz Amilton, um dos mais ágeis no superdriblador, um circuito de velocidade por entre cones, que Messi dribla em 5,125 segundos.

Mas, se os garotos enchem a bola d o f u t e b o l e s p a nhol, Isaac Guerrero, coordenador geral da FCB Escola, é m a i s c a u t e l o s o quando questionado sobre o que os atuais campeões mundiais têm a ensinar aos brasileiros.

Ele não confirm a , m a s o cl u b e tem a intenção de criar uma escola no próximo semestre no Rio ou em São Paulo: — Não posso dar uma resposta como torcedor. Somos ofensivos e criativos como os brasileiros, mas temos que respeitar a tradição e a base de um time pentacampeão. Nosso objetivo é ensinar a metodologia e formar treinadores com nossa filosofia.

Se a matéria-prima é boa, o resultado tem que ser bom.

O treinador brasileiro Gustavo Albernaz foi formado nessa linha do toque de bola envolvente.

Ele mora em Barcelona há seis anos, onde treina times da escolinha do clube catalão e aplica a cartilha de que a vitória não é sempre o mais importante nessa idade.

— O principal é focar nos treinamentos, para não criar a frustração da derrota. Por isso, até os 13 anos, eles não disputam torneios externos.

O que mais me impressiona é que o s m e n i n o s d e 6 anos fazem o mesmo tipo de treino dos profissionais.

Por isso, as equipes sub-13, sub-11, sub-9 e sub-7 recebem nomes de jogadores formados no clube, como forma de incentiválos — explica Gustavo Albernaz.

O Barcelona não costuma levar jogadores estrangeiros menores de 13 anos, mas abriu uma exceção para o japonês Takefusa Kubo. Com apenas 8 anos, o atacante se destacou no Barcelona Camps em Yokohama, participou de um torneio com os infantis do clube na Bélgica e foi eleito o melhor jogador da competição. Hoje, ele mora em Barcelona com a família.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Jornal O Globo