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G4 do Rio quer critérios técnicos na divisão de cotas da TV

O esperado levante dos clubes do Rio de Janeiro contra o Clube dos 13 não aconteceu dessa vez. Pelo menos, não ontem. Após anunciarem que negociarão em separado do C13 os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, os presidentes Maurício Assumpção, do Botafogo, Patricia Amorim, do Flamengo, Peter Siemsen, do Fluminense e Roberto Dinamite, do Vasco, explicaram em entrevista coletiva ontem, num hotel do Rio, os motivos que os levaram a esta decisão.

Maurício Assumpção, porta-voz do grupo durante a entrevista, mostrou o descontentamento com o modelo adotado pelo C13 até aqui:

– As dúvidas sobre a condução da negociação do Clube dos 13 e preocupações sobre o contrato de tevê são iguais e não ficaríamos à margem disso. Esta é uma ação coordenada única entre os clubes do Rio. Nenhum de nós aqui tem nada contra Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, fazemos parte da entidade ainda.

A principal queixa dos cariocas é como será feita a mensuração da exposição dos times conforme a vencedora de maior ou menor audiência.

– Eu fui indagado sobre essa questão e acho que os meus companheiros (Fla, Flu e Vasco) também foram. Nossos parceiros comerciais também querem saber detalhes da exposição da marca. Levei isto à comissão do C13, mas responderam que não havia como mensurar. Como não, se há ferramentas hoje para se fazer isso? – disparou, mais uma vez, o presidente do Botafogo.

A divisão atual das cotas entre os clubes filiados ao C13 foi outro ponto comum para a rebelião de Fluminense e Botafogo. Os dois se encontram na 3a-faixa de recebimento da divisão dos direitos de TV.

– A questão dos valores para cada um tem que ser embasada em critérios técnicos. O que vamos fazer é calcular a média de audiência de cada clube nos últimos cinco anos e daí poderemos tirar alguma conclusão de quanto cada um vai pedir. E, mais uma vez, volto a dizer que nossa escolha foi puramente comercial, e não política – salientou o presidente do Fluminense, Peter Siemsen.

Cada clube formará em suas próprias diretorias duas equipes técnicas para conduzirem as negociações: uma jurídica e outra comercial e de marketing.

MORDE E ASSOPRA

A presidente do Flamengo, Patricia Amorim, foi reservada durante a coletiva. Perguntada sobre a posição do Fla em relação ao Clube dos 13, do qual faz parte da diretoria, Amorim adotou discurso conciliador:

– Não se pode perder a essência do Clube dos 13 e o poder coletivo dos clubes. Não há interesse de se romper agora, mas é preciso manter a essência da entidade. O coletivo precisa prevalecer e o formato, evoluir.

Os cartolas cariocas estão afinados no discurso de união e também em relação ao C13: todos deixaram claro que não sairão da entidade, mas destrancaram a porta de saída. As dúvidas sobre a condução da negociação do C13 e preocupações sobre o contrato de tevê são iguais.

Algumas diferenças em meio à união
O principal interesse em comum, que motivou a união dos quatro grandes clubes do Rio no sentido de reassumir as negociações dos direitos de transmissão, trouxe à tona antigas diferenças históricas de valores repassados pelo Clube dos 13 aos afiliados. Os presidentes Maurício Assumpção, do Botafogo, e Patrícia Amorim, do Flamengo, mostraram sua insatisfação com a divisão das cotas de TV estabelecidas.

– Eu não posso receber 40% a menos que a cota 1. Minha audiência não é 40% menor. É preciso ter coerência. Mas já é uma divisão proforma, com a qual não concordamos. É difícil mudar isso no Clube dos 13 – explicou Assumpção.

Dono da cota 1, o Flamengo de Patrícia Amorim lutará por valorização ainda maior.

– É muito fácil para o Flamengo negociar sozinho uma situação confortável. Alguns nos chamam de trem pagador. Mas precisamos do poder coletivo dos clubes.

Estatuto pode ser pedra no sapato

O estatuto do Clube dos 13 dispõe, em seu artigo 6o , que cabe à entidade “firmar (...) contratos envolvendo a comercialização e operacionalização da competição”. Com este artigo, criariase um conflito, uma vez que por estatuto o C13 pode negociar em nome de seus filiados.

– Nenhum estatuto pode se sobrepor à Constituição do País. Temos respaldo para tocar essa negociação sozinhos – respondeu, secamente, Maurício Assumpção, presidente do Botafogo.

O vice jurídico do Alvinegro, o advogado José Mauro Filho, explicou:

– Existe o princípio constitucional da livre empresa, além da própria Lei Pelé pregar a autonomia dos clubes para procurarem os melhores parceiros comerciais. Portanto, nenhum dispositivo estatutário pode se sobrepor a dispositivos constitucionais e legais.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance)

Fonte: Jornal Lance