Futebol

Fidelidade do torcedor é a arma para transformar tragédia em redenção (foto)

Tragédia moral e esportiva na vida de qualquer clube, um rebaixamento representa o sofrimento máximo para um apaixonado pelo futebol. Ver seu time de coração em um patamar abaixo do dos outros faz com que o torcedor se sinta inferior aos rivais e, por isso, não meça esforços para recuperar o lugar que lhe é de direito. E é justamente com base nessa dor e vontade de redenção que o pior dos cenários pode ser amenizado. Na fidelidade da torcida está o caminho de volta para a elite.



Torcida vascaína precisa acreditar e incentivar a equipe para que a redenção venha já em 2009

Se hoje são os vascaínos que choram, poucos não foram os co-irmãos que passaram pelo mesmo sofrimento. Nos últimos 10 anos, outros seis (Corinthians, Palmeiras, Botafogo, Fluminense, Atlético-MG e Grêmio) dos chamados 12 maiores clubes do país (RJ, SP, MG e RS) viveram esta situação e deixaram lições que comprovam: o bicho-papão da Série B já não é tão feio assim.

Exemplo mais recente, o Corinthians fez da segunda divisão um oásis e somente em campanhas de marketing, como a camisas \"Eu nunca vou te abandonar\", \"Eu voltei\" e a roxa, aumentou uma receita que em 2007 foi de R$ 1 milhão para R$ 15 milhões.

- A imagem que uso nesta situação é a seguinte: a filha mais bonita da família cai na vida. Com o dinheiro, você constrói a sua casa. É algo que não é recomendado para ninguém, mas, se acontecer, você faz o melhor uso possível. Cair para a Série B é uma mancha que vai ficar para sempre na vida do Corinthians. A obrigação é evitar o sofrimento do torcedor. Mas uma vez que caiu, é possível criar um momento emocional de recuperação moral e financeira - ensina Luiz Paulo Rosenberg, diretor de marketing do Timão.

Segundo ele, a fragilidade da competição motiva ainda mais o torcedor, já sensibilizado com a situação inusitada.

- É um campeonato mais fácil e com a torcida empurrando. A tragédia é moral, mas você faz o melhor do ponto de vista econômico. Tanto Corinthians quanto o Vasco não sofrem com uma queda futebolística isolada. A situação vem acompanhada de uma revolução. Quando se escorraça uma corja como foi feito nesses clubes e coloca gente com integridade, já se permite uma virada financeira.

Rosenberg alerta, no entanto, que um aumento de renda em relação aos clubes que disputam a Série A é ilusório. O que é possível é somente equilibrar a situação ou amenizar a perda, uma vez que há baixas consideráveis, como as cotas televisivas e as rendas dos clássicos.

- No fator renda a diferença não é grande. Dá mais público, mas o clube acaba perdendo o poder dos clássicos.

Gremistas quase triplicam número de sócios

Dois anos antes do Timão, quem sofreu com o rebaixamento foi o Grêmio. Devastado por crises políticas, o Imortal saiu da crise com um planejamento baseado na solidariedade do torcedor.

- Baixa o televisionamento. O Grêmio aplicou em sua torcida. Trouxemos mais gente para dentro do Olímpico e conseguimos sair dessa na batalha dos Aflitos. Não é nunca bom. O trabalho para sair começa já no dia seguinte. Ainda mais em time de ponta. Financeiramente a liga é menos rentável. A torcida fica mais solidária. Vai querer de todo custo tirar o time da segunda divisão e ajudar. As ações são neste sentido. Podemos ver o exemplo do Corinthians. É preciso criatividade e trabalho.

Se no Parque São Jorge o legado desse projeto ainda é duvidoso, uma boa herança ficou para o Grêmio. O número que sócios que no ano do rebaixamento era de 18 mil atualmente é de 44 mil. A marca, inclusive, fez com que o Atlético-MG, rebaixado no ano seguinte, pedisse conselhos sobre como lidar com a questão.

Botafogo foi um dos primeiros a seguir esta linha de trabalho

Um dos precursores deste tipo de trabalho, o Botafogo viveu uma realidade ainda mais complicada. Em uma Série B não tão badalada como hoje em dia, o clube de General Severiano apelou para a comoção dos alvinegros e se deu bem. Campanhas como \"Botafogo no Coração\" fizeram tanto sucesso que tiveram continuidade nos anos seguintes e viraram novas marcas, como a \"Ninguém cala\", que virou febre.

- Futebol é paixão. Assim, temos duas vertentes, se somarmos a comoção do rebaixamento e aliar esse sentimento com profissionalismo. Criar produtos para fidelizar o torcedor é necessário. No caso do Botafogo, a Segunda Divisão ainda era um drama maior. Com o passar dos anos e participação sempre de um grande clube, comprovou-se que é um drama, mas o clube sobrevive se souber explorar esses sentimentos. Todos os clubes grandes que caíram voltaram mais fortes. Obviamente é triste e drástico, perde-se receitas de televisão, mas tem como potencializar outros tipos de receitas, com a criação de produtos e campanhas - explica Jéfferson Mello, gerente de marketing na gestão Bebeto de Freitas.

Por conta das más administrações anteriores, os botafoguenses não puderam medir em números a evolução financeira no ano da Série B, mas descobriram a fórmula para manter este gráfico em uma ascendente.

- É preciso dar continuidade. No primeiro momento você tem um grande apelo de marketing para explorar. Depois há o sentimento de missão cumprida, o \"ufa\", e começa uma outra tarefa para motivar o torcedor para continuar. Não é uma coisa imediata.


Camisas \"Eu nunca vou te abandonar\" fizeram parte do planejamento corintiano

As cartas estão na mesa, as dicas estão dadas, cabe ao Vasco fazer da Série B o melhor produto possível.

Fonte: ge