Fernando Miguel, especulado no Vasco, é formado em administração
Jogador de futebol precisa estudar, frequentar escola, se formar na faculdade? A habilidade com os pés não tem muito a ver com as letras e os números dos livros, é verdade. Mas o estudo pode fazer a diferença na vida do atleta. É o que garante o professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), José Veiga Filho, pós-graduado em Ciência e Técnica do Futebol.
- Um jogador mediano pode se tornar um jogador melhor em função de ter um nível de escolaridade maior. Dar continuidade ao estudo é sempre importante para o jogador. A todo tempo ele se expõe, dá entrevista, está na mídia. A capacidade cognitiva pode facilitar o entendimento sobre uma tática de jogo. Ele se torna mais inteligente fora de campo e dentro também.
Os jogadores parecem perceber essa importância. Nos últimos anos, têm surgido notícias de atletas que buscam a formação superior, apesar das dificuldades que enfrentam para conciliar a rotina de atividades. Cabe ao clube incentivar o profissional a desenvolver as habilidades no futebol, mas também pensar no seu futuro.
- Hoje, o jogador começou a mudar a mentalidade, porque caso não dê certo a carreira de jogador, poderá ter outra profissão. Ele tem mais consciência até por exemplos que já observou de jogadores que não estudaram, pararam de jogar e acabaram no ostracismo. Treinar, jogar, viajar e ainda estudar é realmente muito difícil. Alguns percebem a importância disso e se empenham mais – afirma o professor.
Entre o campo e os livros
José Veiga tem dois alunos que encaram as aulas na faculdade depois de uma agenda cheia de treinamentos – Theo e Bernardo, atletas do sub-20 do Flamengo. Os dois, além de amigos de treino, frequentam a mesma escola desde os 14 anos, e agora são colegas no curso de Educação Física.
- A escolha do curso foi por eu ser atleta e também ter exemplos em casa: meu pai, meu irmão e meu padrinho são formados em Educação Física. Pensei também em fazer outros cursos, como Fisioterapia e Jornalismo, mas prevaleceu Educação Física. Conhecimento nunca é demais, ajuda muito - afirma o volante Theo.
- Meus pais também são formados em Educação Física e é um curso que dá para conciliar com a carreira de jogador. Quando parar de jogar, eu penso em continuar trabalhando na área como treinador, dirigente. Têm muitas disciplinas que eu posso aplicar dentro de campo. O estudo melhora o cognitivo, faz eu ter uma leitura diferente de jogo. Influencia diretamente nos nossos resultados em campo. Faz diferença para o ponto de vista do atleta - declara o zagueiro Bernardo.
Exemplos
Além dos dois, há outros exemplos de jogadores que convivem com o campo e os livros no dia a dia. Ainda no Fla, por exemplo, o ex-goleiro do clube, Daniel Tenenbaum, atualmente no Maccabi Tel Aviv, de Israel, concluiu a faculdade de Administração em 2014, quando atuava pelo Rubro-Negro.
- Quanto mais conhecimento melhor. É importante para qualquer profissão, mesmo em uma que não precise de diploma. No meu caso, a graduação é um grande diferencial e também já é um começo para quando me aposentar, para trabalhar no meio empresarial, seja no futebol ou não – disse Daniel após se formar.
Já o ex-volante do time principal do Flamengo e da seleção brasileira sub-20, Antônio Carlos, foi mais radical: abandonou o futebol em 2011, aos 22 anos, para se dedicar ao curso de Engenharia de Produção na UFF (Universidade Federal Fluminense).
Promessa do Botafogo nos últimos anos, o goleiro Luis Guilherme deixou o futebol em 2016 para terminar o curso de Psicologia, retornando no ano passado. Atualmente, defende o América-RJ. Outra promessa do Botafogo, agora já peça importante no time principal, Igor Rabello também buscou o diploma e há dois anos formou-se em Educação Física.
- Consegui realizar o sonho de me formar. A carreira acaba com 30 e poucos anos, tem que ter alguma coisa depois. Não consigo ficar em casa parado. Pretendo no futuro trabalhar com futebol mesmo, dentro de clube. Mas fiz licenciatura também para a parte de colégio – comentou o zagueiro na ocasião.
No atual elenco do Bota, Marcinho é mais um que se dedica aos estudos e aos treinos. O lateral-direito, que ganhou a titularidade com o técnico Alberto Valentim, cursa Administração.
Fora do Rio, recentemente outro jogador conhecido dos brasileiros terminou uma etapa nos estudos. Mas não foi na faculdade. Em março, o meia D'Alessandro voltou a Buenos Aires para finalizar o ensino médio.
– É um orgulho, estou contente, feliz. Depois de tantos anos ter terminado uma coisa pendente na minha vida. Como jogador de futebol, me sinto realizado. E agora, em outra parte da minha vida, fora do futebol, como pessoa – contou o capitão do Internacional.
Outros atletas que disputam a Série A do Brasileirão já passaram pela faculdade também, como o goleiro do Atlético-MG, Victor, formado em Educação Física; o goleiro do Internacional, Danilo Fernandes, que cursou Administração; o goleiro do Vitória, em negociação avançada com o Vasco, Fernando Miguel, formado em Administração; o zagueiro Paulo André, do Atlético-PR, graduado em Educação Física; o meia Raphael Veiga, do Atlético-PR, que também estudou Educação Física; o atacante do América-MG, Aylon, que é tecnólogo em Recusos Humanos.
Confira outros trechos da entrevista com o professor José Veiga Filho
Escolha por Educação Física e Administração
Educação Física é uma consequência natural. Ele imagina que quando parar de jogar, para exercer a profissão de treinador ou preparador físico, ele precisa se habilitar. Vemos muitos profissionais no futebol formados em Educação Física. Muitos pensam também em trabalhar na parte de gestão e o curso de Administração adquire importância. São escolhas pertinentes.
Necessidade de um sistema educativo próprio para o atleta
Infelizmente, no Brasil não existe um projeto de universidade para atender atletas de alto rendimento. Ele precisa de uma educação especial para adequar a rotina dele de treinamentos, jogos, viagens. Aqui, se ele faltar aula e perder prova vai ser reprovado.
Dano escolar desde a infância
Nas categorias de base o jogador é obrigado a estar matriculado em uma escola, porque a federação exige. Mas já na base é difícil. A criança estuda, treina e isso compromete a vida escolar. Desde cedo, o jogador não consegue se dedicar à escola. Esse dano escolar acontece desde cedo.
Ensino à distância como possibilidade
Hoje em dia, a oferta de cursos à distância seria uma forma de minimizar isso. É uma saída para aquele atleta que não tem tempo para se dedicar a isso. Isso depende muito de cada um, porque realmente é preciso uma força de vontade grande.
Fonte: ge