Fernando Horta revela propostas para CT, São Januário e mais
Descentralizar o poder no Vasco, valorização das categorias de base e mudança do estatuto. Essas são as principais propostas do empresário Fernando Horta, candidato à presidência do clube carioca. O atual presidente da escola de samba Unidos da Tijuca, maior vencedora do carnaval do Rio de Janeiro nesta década, concedeu entrevista para falar sobre sua plataforma de governo. Caso seja eleito, ele pretende conciliar o comando das duas agremiações.
Nas eleições presidenciais do dia 7 de novembro, concorrerão também Alexandre Campello e Julio Brant, além do atual presidente Eurico Miranda. O ESPN.com.br fará pedido de entrevista para todos os presidenciáveis.
Julio Brant e Alexandre Campello já foram entrevistados.
Procurado por meio da assessoria do Vasco, Eurico Miranda não quis falar com a reportagem.
Leia abaixo a entrevista com Fernando Horta:
ESPN - O que você pretende implementar no Vasco do que usa na Unidos da Tijuca?
Fernando Horta - Há semelhanças entre administrar um clube é uma agremiação de escola de samba partindo da premissa que a paixão move os públicos. O Vasco, por estar cercado de comunidades carentes, pode beneficiar-se através de projetos de inclusão. Valorizar a comunidade, projetando ações de cunho social. As leis de incentivo que a Unidos da Tijuca aplica à sua gestão é outra situação que é viável estabelecer no Vasco. Podemos potencializar centenas e até milhares de crianças que vivem ao redor de São Januário. Oferecer oportunidades de esporte e cidadania muito além do Colégio Vasco da Gama e enquadrar-se às leis nas esferas federal e estadual. Um Vasco para todos, movimentado de esportes, educação, cultura. Mudar com segurança sem perder a confiança.
O Vasco vai trabalhar priorizando suas respectivas equipes dando autonomia para o bom desenvolvimento e a busca por excelência de resultados. Na nossa equipe todos serão cientes de suas responsabilidades assim como acontece na Unidos da Tijuca. Minha equipe conseguiu potencializar a Unidos da Tijuca a colocando sempre no patamar de cima na busca incessante por títulos. O Vasco já é uma potência. Precisamos impulsionar isso porque o Vasco parou no tempo ao virarmos o século. Vamos resgatar os áureos tempos de glória do Vasco e assim como a Unidos da Tijuca, o clube entrará nas competições para ser protagonista e não coadjuvante.
ESPN - Como você avalia atual gestão do Vasco?
Fernando Horta - Uma gestão que quer se reeleger usando o slogan “Contas Pagas” e que está devendo salário e direito de imagem mesmo depois de vender um jogador por 45 milhões de reais não pode ser levada a sério. Uma gestão que teve o parecer do Conselho Fiscal pela reprovação das contas, que passou 3 anos e conseguiu deixar o quadro social votante menor do que já era, não dá pra aceitar.
Logicamente, para avaliar essa gestão a gente precisa começar em 2001, quando o Eurico assumiu pela primeira vez. Ali já estava ruim. Quando o Eurico ficou fora do Vasco e esteve mal das pernas, achei que ele ia mudar. O camarada só muda na vida quando passa uma situação financeira muito ruim ou de saúde. O Eurico passou as duas e não mudou. Enganou a mim e outros que acreditarem que agora ele ia gerir o Vasco de forma compartilhada. Não tem como qualquer vascaíno de bem e racional avaliar a gestão do Eurico como boa. Não tivemos grande modernização ou expansão do patrimônio, não participamos da Libertadores, não ganhamos nenhum título nacional, não atraímos investidores do tamanho que o Vasco merece e precisa. Resumindo, paramos na década de 90. Temos um clube constantemente fechado, sem espaço para o sócio, sem renovação ou abertura política, sem abertura para projetos inovadores e que se mostra ineficaz na parte financeira. Nós vamos tirar o Vasco da década de 90!
ESPN - Você era vice do Eurico em 2014. O que fez você sair?
Fernando Horta - O fato do Eurico não ter mudado. Eu era o nome de consenso dentro do Vasco para assumir em 2014, mas motivos pessoais não permitiriam que eu me dedicasse como o Vasco merecia. Fui procurado pelo grupo do Júlio, mas acho que o momento do Vasco é de alguém mais tarimbado, com experiência de vida e credibilidade entre os Vascaínos antigos. Então, eu caminhava pra não apoiar ninguém mas através de pessoas próximas a mim, o Eurico me propôs uma administração compartilhada. Naquele momento acreditei que a experiência dele no clube, junto com minha presença e credibilidade junto a colônia e ao mercado de maneira geral, poderia tirar o Vasco da lama. Acontece que depois que viabilizamos o clube financeiramente, isso em meados de 2015, ele se fechou com os seus filhos e não dava mais abertura, não escutava mais ninguém. Ali eu vi que nem as dificuldades que ele passou na vida, o fizeram mudar. Me afastei e só não comuniquei minha saída porque o Vasco estava muito mal e eu não poderia ser covarde de sair no pior momento. Quando o Vasco passava alguma situação que eu podia ajudar, como a doação que fiz de um ônibus pro clube, eu fiz.
Resolvi esperar o processo eleitoral chegar, e me lancei candidato, sem expôr o clube, sem plantar crise.
ESPN - Atualmente, como você se posiciona politicamente dentro do clube?
Fernando Horta - Não há hoje como falar que o Fernando Horta não é oposição dentro do clube. Rompi totalmente com o Eurico e nesses 3 meses como oposição, eu e o nosso grupo já fizemos várias ações pra denunciar as irregularidades na lista de eleitores, pra impedir a farra de distribuição de novas benemerências que o Eurico está tentando fazer, ou seja, estamos lutando pra tentar garantir um processo eleitoral mais limpo possível.
ESPN - O que você pretende mudar na gestão do Vasco?
Fernando Horta - Praticamente tudo. Vamos mudar o estatuto do clube que é antigo e não atende aos dias de hoje. Vamos devolver o Vasco aos sócios e torcedores. Outra prática que eu sempre usei na minha vida profissional e na administrativa e que será verdadeiramente implantada no Vasco é a delegação de tarefas. Eu também não consigo e nem quero trabalhar sozinho. Não sou o dono da razão. Na mudança do estatuto o Conselho Deliberativo vai ter um papel importantíssimo na aprovação de medidas importantes para o clube. Também vamos criar um Conselho Administrativo e um Departamento de Planejamento Estratégico, para profissionalizarmos e acelerarmos os processos dentro do Vasco. Para mim, o trabalho de equipe com seus poderes descentralizados é primordial para o desenvolvimento de uma empresa, clube ou qualquer outra entidade. Agora vai começar a "era do nós".
ESPN - Quais os planos do seu grupo para São Januário?
Fernando Horta - Em relação a São Januário eu venho dizendo que se resume a uma palavra: oportunidade. Essa semana tivemos uma reunião com os arquitetos que elaboraram um projeto incrível chamado Novo Complexo São Januário. É dessas pessoas que o Vasco precisa e que eu já deixo as portas abertas. Pessoas que querem servir ao Vasco, e não do Vasco. Esses arquitetos dispensaram tempo, dinheiro para elaborar um projeto grandioso, levando em conta todos os detalhes e necessidades para a reforma de São Januário, com todos os estudos de viabilidade. Agora, eu não sou um homem de bravatas e promessas. Eu não estou aqui para, e nem posso iludir o vascaíno e fazer estelionato eleitoral. É lógico que é um desejo ver São Januário reformado e seria uma honra poder viabilizar isso na minha gestão. Se não for possível nos próximos 3 anos, tenho certeza que deixaremos o Vasco mais perto desse objetivo que é ter nosso estádio, que é motivo de orgulho pra todo vascaíno, mais confortável para o torcedor. Outro ponto que vamos trabalhar incessantemente é na busca com o poder público para melhorias no entorno do estádio para facilitar o acesso. É muito difícil iniciar qualquer obra no estádio, sem que o poder público mexa no entorno de São Januário. Vamos pressionar as autoridades pra que isso aconteça. Também já fechamos com a Cadeg um estacionamento para 1000 carros, onde vamos disponibilizar translado. Isso vai permitir que o vascaíno possa curtir seu tradicional almoço ou happy hour tranquilo, deixe seu carro estacionado e chegue para o jogo sem preocupações, além de aliviar o fluxo nos arredores.
ESPN - E a construção do CT?
Fernando Horta - O CT vai ser feito. Eu assino aonde você quiser. Eu só não posso apresentar um projeto sem realizar um processo transparente para o sócio e torcedor ter a certeza de que buscamos o melhor custo benefício. Mas o Vasco vai ter um CT de nível europeu.
ESPN - Quem são seus principais apoiadores?
Fernando Horta - Além da maioria dos sócios que efetivamente pagam suas mensalidades, recebi oficialmente o apoio dos grupos: Ao Vasco Tudo, Expresso da Virada, Malta do Vasco e Renovação Vascaína. Também conto com o apoio de diversos Beneméritos e Grandes Beneméritos como Jorge Salgado, José Luiz Moreira, Jose Carlos Osório, entre outras figuras importantes dentro do Vasco.
Além disso, procuro a união com as demais candidaturas e quero esgotar ao máximo as tentativas pra conseguirmos unificar todas em uma chapa única pra enfrentar o Eurico e vence-lo. Um dos candidatos que é o Otto Carvalho, uma pessoa com enorme bagagem no clube também, entendeu essa necessidade de união e abriu mão da candidatura dele pra vir nos apoiar. Espero que o Alexandre Campello e o Julio Brant também acompanhem esse movimento e entendam a gravidade do momento do clube e a necessidade de tirar o Eurico. O Vasco precisa de uma pacificação. Unidos somos imbatíveis. Confio muito que teremos sucesso nessa empreitada e a eleição será Eurico versus vascaínos. E os vascaínos vão vencer.
ESPN - Qual a sua relação com o Vasco?
Como surgiu a ideia de se candidatar a presidente? Fernado Horta - Minha relação com o Vasco começa junto com a minha relação com o Brasil. Assim que cheguei aqui em 65 me tornei vascaíno. Pouco tempo depois, já comprei meu primeiro título de sócio. Desde então acompanho presencialmente o clube e vivo o Vasco e hoje sou grande benemérito do clube.
Eu sempre quis o melhor pro Vasco, mas tentava me manter distante da política. Em 1988 concorri as eleições depois do candidato que seria da oposição desistiu. Era jovem na época e hoje dou graças a Deus por não ter vencido. Não tinha a experiência necessária para gerir o Vasco. Hoje, com 65 anos e uma carreira profissional e administrativa de sucesso e com mais 30 anos de Vasco na bagagem eu posso dizer sem dúvidas que, junto com a minha equipe, podemos e vamos resgatar o Vasco ao gigantismo que lhe é de direito.
ESPN - O que vocês pretendem fazer com as categorias de base do Vasco?
Fernado Horta - O Vasco tem uma característica única que é formar além de atletas, cidadãos. Isso vai ser ampliado na nossa gestão. Vamos reformar a escola, ampliar convênios com faculdades para os atletas, trazer palestras e eventos culturais para os jovens.
No que diz respeito ao rendimento, o Vasco é um dos maiores formadores de craques do Brasil. A base é e sempre será nossa prioridade. Os atletas vão ter espaço no profissional antes de contratarmos um jogador. Para esses jovens chegarem o mais maduro possível no profissional o nosso CT vai ter também estrutura para base. Isso vai facilitar essa integração. Também vamos ampliar e fazer um trabalho sério de monitoramento e captação a nível nacional. Onde tiver um futuro craque o Vasco tem que estar monitorando e trazer esse menino para cá.
ESPN - Fale sobre sua trajetória
Fernando Horta - Tenho 65 anos e sou natural de Lixa, Filgueiras, em Portugal. Cheguei ao Brasil em 1965, aos 14 anos. Seis anos depois iniciei a vida empresarial que sigo até hoje. Atuei em vários segmentos do mercado e sou presidente da Unidos da Tijuca. Ano que vem completo 30 anos de serviços prestados à escola, em três passagens: entre 1988 e 1992, 1997 até 1998 e a partir de 2000 até o momento.