Ferj envia edital de convocação aos clubes do RJ para uma reunião virtual
Uma reunião entre a prefeitura do Rio, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e clubes que disputam o Campeonato Carioca, realizada neste domingo, debateu um plano para a volta do futebol carioca. Dirigentes presentes ao encontro - Fluminense Botafogo não enviaram representantes - informaram que os treinos devem ser liberados a partir de terça-feira, e os jogos sem público, a partir de 14 de junho.
A reunião deste domingo ocorreu um dia após o estado do Rio bater o recorde de mortes causadas pelo novo coronavírus - no sábado, foram 248 óbitos causados pela Covid-19 em 24 horas. Desde o início da pandemia o estado registra 37.912 casos e 3.993 mortes provocadas pelo vírus.
A mudança no panorama do Carioca começou com os testes dos clubes pequenos, realizados nos últimos dias, e passou por viagens a Brasília tanto do prefeito Marcelo Crivella quanto dos presidentes de Flamengo e Vasco. Eles se reuniram com o presidente da República, Jair Bolsonaro, que defende a volta dos jogos.
Crivella se reuniu com o comitê científico no sábado e não debateu sobre futebol - os membros ainda são contra o retorno de treinos e jogos -, mas se discutiu a preocupante situação de casos e mortes na cidade. O recado era que não era o momento de abertura.
Neste domingo, o prefeito avisou aos clubes que o estado está no pico da curva e inicialmente sugeriu a volta dos treinos no dia 8 de junho e dos jogos no dia 10 de julho, dando tempo para amenizar a crise sanitária causada pelo novo coronavírus.
Mas a pressão, liderada por Flamengo e Vasco, com apoio da Ferj e dos clubes pequenos, pela liberação imediata fez efeito, e o prefeito cedeu.
O Flamengo já voltou a treinar no gramado do Ninho do Urubu na última terça-feira, mesmo sem autorização. Para esta semana, o clube anunciou que os treinos estão mantidos, incluindo o desta segunda.
- Houve pressão do Flamengo e do Vasco, mas todos pequenos também querem a volta. Em julho não podia voltar porque o Brasileiro já vai entrar por janeiro. Precisamos voltar em junho - disse o presidente do Madureira, Elias Duba.
Duba mandou representante, não foi ao encontro, pois pertence ao grupo de risco, mas disse que os jogadores do Madureira voltam a treinar na terça. O clube vai fazer nova bateria de testes de coronavírus e decidiu confinar os jogadores em hotel para realizar os treinos e voltar aos jogos.
O presidente do Vasco, Alexandre Campello, não confirmou as datas exatas de retorno dos treinos e dos jogos, mas referendou a ideia de meados de junho para a volta das partidas do Carioca.
- Na realidade, a gente está tratando muito de como voltar, da forma como o futebol vai voltar. Mas com uma tendência de o futebol voltar a ser jogado no meio de junho. Isso ainda está sendo discutido, nesse momento está liberado para volta da fisioterapia e de alguns exercícios ligados à fisioterapia. Ainda está sendo discutida a volta efetivamente aos treinos, mas com um pensamento de o futebol voltar a partir do meio de junho - disse Campello.
O prefeito Marcelo Crivella divulgou nota na noite deste domingo. De acordo com o prefeito, os clubes não poderão fazer "treino coletivo e rachão" até o início de junho, daqui a uma semana. As outras atividades estão liberadas a partir de terça: "O entendimento foi pela adoção de um protocolo de segurança para que, nesta fase inicial, os clubes permaneçam apenas com fisioterapia, reabilitação muscular dos atletas, fisioterapia com bola, desde que levando sempre em consideração o protocolo de segurança contra a expansão do contágio da doença", informa a nota.
- Estou muito satisfeito com nosso diálogo e vou submeter todas as questões tratadas ao nosso comitê científico, sempre pensando em primeiro lugar em salvar vidas - afirmou Crivella.
Em nota divulgada após a reunião, a Ferj comunicou que "o prefeito revelou que o Comitê Científico (da prefeitura) classificou como irrepreensível o Protocolo Jogo Seguro de retorno aos treinamentos, produzido pela Ferj e os médicos. Houve entendimento de que, sob a orientação e acompanhamento dos clubes, os jogadores estão mais bem cuidados e em maior segurança."
Ainda no texto, a nota da Ferj diz que existe a "previsão de volta do futebol possivelmente para meados de junho, mas sem público, os clubes devem progredir, passo a passo, com fase de avaliação clínica, testes físicos, exercícios de reabilitação dos efeitos da inatividade muscular e atividades de recuperação da capacidade laborativa".
A Ferj enviou um edital de convocação aos clubes para uma reunião virtual às 15h desta segunda. Pelo documento, os temas debatidos na Ferj serão:
1) Protocolo “Jogo Seguro” (fase 2).
2) Registro de novos contratos. Prazo reduzido.
3) Condição de jogo.
4) Intervalo mínimo entre as partidas.
5) Mandos de campo.
6) Jogos fora do Estado do Rio de Janeiro.
7) Outros assuntos pertinentes às partidas complementares do Campeonato Carioca passíveis de discussão por decisão preliminar favorável da maioria.
Inicialmente, o encontro, que teve como sede o Riocentro, teria a presença de todos os times da Série A do Carioca - ao menos foi a convocação feita por Rubens Lopes, presidente da Ferj. Porém, o Fluminense e o Botafogo, instituições que já se manifestaram contra a retomada das atividades na pandemia do novo coronavírus, não enviaram representantes - as duas direções se manifestaram (veja notas acima).
- Está sendo decidido pelo prefeito e pela sua comissão científica a volta aos treinos. Assim como o Campello falou, o (Rodolfo) Landim (presidente do Flamengo) falou, nós temos de voltar a treinar. Os atletas estão ansiosos. Há um calendário a ser cumprido. Os jogos ainda não têm data definida. O primeiro passo é definir os treinos. O pedido dos clubes é para voltar a treinar o quanto antes para que tenha o retorno em meados ou final de junho - disse Carlos Alberto Pereira, diretor executivo do Macaé.
Ainda não está claro como e onde os clubes do interior vão treinar. O Boavista deve retomar as atividades na capital do estado.
- Não tivemos a participação do governador, nem de nenhum representante do executivo do Estado. Entendo que aqueles clubes que têm sede em outros municípios estão aqui sob orientação das prefeituras locais. Não chegou a ser discutido, mas me parece que nessas cidades não teria problema - disse Campello.
O debate deste domingo foi o capítulo mais recente de um movimento iniciado na semana passada. Na terça-feira, Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Alexandre Campello, presidente do Vasco, foram a Brasília debater com o presidente Jair Bolsonaro a volta do futebol - mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal que dá a governadores e prefeitos a prerrogativa de adotar e flexibilizar as medidas restritivas para diminuir o risco de contágio com a doença. Na quinta-feira, igualmente em Brasília, foi a vez de Crivella se reunir com o presidente da República para debater o mesmo tema.
Alfredo Sampaio, presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio (Saferj), que se recupera após ter testado positivo para a Covid-19, manteve a posição de priorizar a segurança dos jogadores:
- O sindicato mantém a posição de voltar aos treinamentos só com toda a segurança. Mas tem muitos atletas de clubes menores que querem voltar, até pela necessidade que estão passando. Essa reunião não foi para discutir uma volta, devem estar discutindo treinamentos, protocolos, mas acho que a gente deveria ter uma segurança do governo se pode ou não. Em um primeiro momento a gente não concorda, vamos ter de respeitar o desejo dos atletas, mas nós particularmente somos contra porque estamos vendo que a doença ainda não está sob controle e leva risco para eles.