Futebol

Felipe fala sobre Juninho, Copa do Brasil e fase atual do Vasco

\"Felipe\"


Revelado no Vasco e integrante de uma geração que ganhou alguns dos principais títulos da história do clube, Felipe trocou a tranquilidade do Qatar para, no meio de 2010, retornar à Colina. A esperança era de que ele pudesse ser o maestro do time e ajudar na retomada do clube após anos difíceis. O título da Copa do Brasil serviu para deixar o camisa 6 com o nome ainda mais eternizado na história cruz-maltina.

Mas este ano não foi só de glórias para Felipe. Durante a Taça Guanabara, quando a equipe estava em uma grave crise, ele foi perseguido pela torcida e, ao lado de Carlos Alberto, foi afastado do elenco sem explicações concretas. Depois, acabou reintegrado com o aval do recém-contratado técnico Ricardo Gomes.

Para Felipe, a conquista da Copa do Brasil foi como dar uma resposta pessoal dentro de campo de que não era o culpado pelos problemas do Vasco. O meia disse que houve o risco de sair do clube, e pela porta do fundo.

- Na Taça Guanabara, tentaram me colocar de culpado, e não era eu. Tentaram manchar a minha história no Vasco, mas graças a Deus que os jogadores e as pessoas que estão lá me conhecem, sabem do meu potencial e caráter. O Ricardo Gomes também, já que tinha trabalhado comigo antes. Isto ajudou bastante. Se fosse outro, poderia acreditar na história de outras pessoas e me afastar de vez. De repente eu não estaria mais no Vasco. Minha resposta foi dentro de campo. Não tenho mais 18, tenho 33, quase 34. Sei da minha responsabilidade e sei que ajudei bastante, tenho um percentual bom nesta conquista - desabafou.

A taça e chance de disputar mais uma Libertadores, no entanto, parecem ter serenado a mágoa de Felipe. Se antes o discurso do jogador era de que poderia se aposentar a qualquer momento, agora ele já fala até em ampliar seu contrato, que termina no fim de 2012. Não passa pela cabeça do jogador defender outra camisa que não seja a cruz-maltina.

- Acho que ainda posso jogar por mais algum tempo. O Juninho é um exemplo, tem 36 anos e vai jogar. Eu tenho 33, de repente tenho mais uns três ainda para jogar. Quando meu contrato com o Vasco acabar, vou ter 35. Pretendo sentar com a diretoria e talvez estender um pouco mais. Realmente não tenho a intenção de jogar em outro lugar que não seja o Vasco.

Por tudo que viveu e ainda irá viver nesta segunda passagem na Colina, Felipe tem a certeza de que deixar o Qatar foi a decisão mais acertada que poderia ter feito.

- Sem dúvida. Apesar de eu manter contato com o pessoal do Qatar e receber convites para voltar, estou muito feliz aqui. Pretendo continuar no Vasco. Minha intenção é encerrar minha história no futebol no Vasco.

Confira a entrevista completa com o camisa 6 vascaíno:

GLOBOESPORTE.COM: Depois de quase duas semanas do título da Copa do Brasil já deu para cair a ficha de que você o jogador mais vitorioso da história do Vasco?


FELIPE: Fico muito feliz de entrar na história do clube desta forma. Esta marca é extraordinária. O Vasco existe há 112 anos, e ser o único a conseguir dois títulos internacionais e dois nacionais é um orgulho grande. A motivação de buscar mais também é enorme. A Copa do Brasil foi um presente ao grupo que temos hoje. O ambiente é maravilhoso, as pessoas que trabalham no futebol são ótimas. Tudo estava se desenhando para esta conquista. Todos estavam jogando bem, e quando não fazíamos um bom jogo, tínhamos um pouco de sorte. Deu tudo certo.

Como que é a relação da sua família com o Vasco? O título ajudou a aumentar a identificação dos seus filhos com o clube?


Meus filhos são vascaínos, gostam muito de acompanhar os jogos. O de dois anos (Thiago) quando vê uma camisa do Vasco começa a falar \"papai, papai\". Teve uma época que só queriam andar com a camisa do clube para cima e para baixo. O de seis anos (Lucas) pede para ir aos jogos e gosta de jogar também. Nos jogos de 21h50m não deixamos ir por causa da escola no dia seguinte, aí é uma briga. O mais novo ainda não entrou em campo comigo porque é muito pequeno e não gosta de barulho. Foi na minha apresentação e chorou por causa da confusão de gente.

Acredita que este grupo tem potencial para repetir o sucesso daquele time do fim da década de 90, do qual você fez parte?

Aquele elenco era mais qualificado, mas este é mais unido, muito mais família. Tem uma sintonia melhor no vestiário, dentro e fora de campo. Acredito que este grupo tem tudo para fazer uma história legal no clube. Começou com o título inédito da Copa do Brasil.

Apesar de já não ser um garoto, quem acompanha o seu dia a dia nota o grande prazer que você ainda tem para jogar futebol. Alguma coisa o incomoda atualmente na vida de jogador?


Estou sempre com a garotada brincando para descontrair. Para mim isto é fundamental. Amo jogar futebol, e treinar é um prazer. Gosto muito. A parte ruim é ter que viajar. Depois que meus filhos nasceram, fico preocupado de pegar avião. Antigamente eu não tinha isso. Por ter dois filhos, fico receoso. Concentração também é chato. Em casa, saio com a minha família. Minha época de badalação já acabou. Levo a esposa para jantar, vou ao cinema, teatro... minha rotina é essa. Antigamente eu também tinha responsabilidade. Nunca tive problema em boate, por exemplo. Saía porque era solteiro, mas era na data certa, quando podia. De maluco eu não tenho nada, sou muito responsável.

Você está sempre cercado dos jovens e se tornou um porta-voz do elenco para tratar de assuntos com a diretoria. Como funciona na prática esta sua atribuição?


Do mesmo jeito que eu pedia ajuda ou conselho quando era jovem, agora eles pedem a mim. Os mais novos podem ficar mais sem jeito, mais acanhados para falar. Na minha época quem fazia este papel era o Mauro Galvão, Edmundo, Evair... Hoje sou eu quem faço, até pela minha vivência dentro do clube. Então, sempre tento aconselhar e pedir para a diretoria um reconhecimento ao trabalho deles. Claro que cobro que eles também façam por onde. Fiquei feliz com a convocação do Allan, em ver que o Romulo se tornou fundamental. Outros também estão evoluindo, como o Fellipe Bastos, Bernardo, Dedé, Anderson Martins... Se o Vasco conseguir mantê-los, tem tudo para acontecer uma história legal.

Esta sua função \"extra-jogador\" pode ser considerada um estágio para quando você resolver se aposentar, já que pretende continuar no futebol? Você acredita que tem o perfil para qual cargo?

É complicado dizer. Não sou um cara que sabe fazer média com as pessoas. Para mim, o que é certo, é certo, o que é errado, é errado. Isto independente se vai agradar A ou B. Sempre fui assim, muito sincero. No futebol, de repente isto pode criar algumas situações ruins. É preciso ter mais jogo de cintura. Mas hoje já acho que tenho muito mais, mas sigo transparente. Se eu achar que alguma coisa está errada, eu falo mesmo, independente se vai desagradar o Joãozinho ou o presidente.

Como foi o reencontro com o Juninho? Ele mudou em alguma coisa desde a época que vocês jogaram juntos?


Já tinha reencontrado o Juninho no Qatar. Ele chegou há dois anos, quando eu ainda estava por lá. Apesar de termos sido adversários, tivemos um convívio muito bom. Ele é muito profissional, exemplar. Vão vê-lo fazendo musculação, tomando os suplementos... O Vasco nem vai precisar dar, parece que ele leva de casa (risos). No meu caso, se me dão o suplemento, eu tomo. Se não me dão, não tomo. Ele já tem os dele. Acho que ele será um bom exemplo para os mais jovens.

Como tem sido a adaptação dele com o grupo? Quando você retornou ao Vasco também conviveu com esta \"idolatria interna\"?

No início as pessoas ficam um pouco acanhadas, e ele também, já que não conhece todo mundo. Alguns jogadores ficam mais tímidos porque têm ele como ídolo. Isso aconteceu um pouco comigo também, é normal. Apesar de eu conhecer a maioria dos funcionários, os atletas eram diferentes. Mas foi tudo legal.

O que mais chamou a atenção do Juninho na estrutura do clube?


Ele gostou muito do vestiário, que está muito mudado. A fisioterapia e a musculação não mudaram muito, mas o clube está fazendo por onde para melhorar a estrutura.

Fonte: ge