Felipe e a missão de fazer do Vasco um time de talento constante
No início da carreira, eram as arrancadas pela esquerda; no auge da forma física a habilidade com a canhota e dribles desconcertantes; agora na maturidade, a precisão dos passes de um futebol simples em que menos é mais. E entre um período e outro, fases nem tão brilhantes. Mas, aos 33 anos, Felipe continua com o mesmo talento indiscutível, por vezes apagado pela forte marcação ou por aparente displicência em campo. Talvez a expectativa do alto nível a cada partida acobertasse o chamado jogo coletivo, como os técnicos costumam dizer. Mas, como o próprio técnico Ricardo Gomes enfatiza, o meia do Vasco faz a diferença em campo. Foi ele que avalizou a permanência do craque quando chegou ao clube.
Pazes com a torcida
E, no que depender do próprio Felipe, que quer continuar respondendo aos críticos em campo, e de todos no clube ele permanecerá sendo o ponto de desequilíbrio do meio-campo vascaíno. Como manter o brilho do meia aceso é o grande desafio e o time do Vasco precisa deste brilho para jogar com talento. Mas a regularidade depende realmente mais do camisa 6 do que da comissão técnica. O meia, de poucos sorrisos, costuma fechar a expressão à primeira crítica, refletindo no seu comportamento nas quatro linhas.
Como em seu retorno em julho do ano passado, que ficou aquém do esperado. Logo, veio a desconfiança da torcida, que acreditava ter de volta o jogador vencedor de seis títulos pelo clube. Conquistas lembradas por ele no momento crítico do início do ano quando foi vaiado após as derrotas e teve a antiga fama de chinelinho do jogador relembrada.
Mas o que eles viam era um camisa 6 perdido no futebol brasileiro depois de cinco temporadas no Qatar com rápida passagem pelo Santos onde foi fazer a independência financeira. Nos 18 jogos pelo time em 2010, o último brilho deixado no Brasil parecia ter ficado no passado. O drible desconcertante de perna esquerda que era quase impossível marcar, apesar de todos os marcadores saberem de cor, estava na memória de quem o viu ganhar os títulos cariocas por Flamengo e Fluminense, em 2004 e 2005. A comissão técnica fez a sua parte e foram necessários quase seis meses para a readaptação completa.
No Qatar, só se treina uma vez ao dia na parte da noite. O ritmo de jogo é muito mais tranquilo. Foi o que aconteceu com ele, precisou se readaptar ao futebol brasileiro, muito mais corrido. Quanto mais tempo passar lá fora, mais vai sentir. Agora, está totalmente readaptado garantiu o preparador físico Armando Marcial.
Readaptado ao futebol brasileiro, Felipe cadencia o meio do Vasco no seu ritmo, graças à boa condição física. Elogiado por todos na reapresentação do time em Atibaia, o jogador nunca teve problemas de peso e usa o futevôlei para manter a forma nas férias e durante seu afastamento pela diretoria no início do ano, que nunca teve explicação clara. Prática que a comissão técnica até aderiu, de forma adaptada, como aquecimento. Momentos de maior descontração do camisa 6.
Neste período todo, foi a melhor atuação do Felipe. E mostrou que a parte física está ótima. Aos 38 minutos do segundo tempo contra o Bangu, ele deu um pique de 30 metros disse o ex-jogador Júnior, que também passou da lateral para o meio na carreira.
Cercado pelos jovens
Para quem conhece Felipe desde os primeiros passos na base do Vasco, não é surpresa. Com a vontade de jogar e parte física em forma, ele continuará sendo fundamental no meio campo de qualquer time.
Apesar da idade, ainda é um jogador fenomenal. Lancei como lateral-esquerdo, depois como segundo volante, quando tinha força para marcar e corria muito. Agora, está na posição ideal para o talento dele. Está mais perto do gol e deixa os jogadores na cara do gol disse o técnico do Vitória, Antônio Lopes, que o colocou pela primeira vez no meio no Mundial de Clubes da Fifa de 2000.
Experiente, Felipe mantém a vitalidade se cercando dos jovens que chegam a São Januário. É comum vê-lo sempre junto aos companheiros, que demonstram respeito.
Às vezes, você fica pensando como ele consegue colocar a gente na cara do gol afirmou Éder Luís.
(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)
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