Futebol

Ex-volante do Vasco, Victor Boleta virou taxista

No volante do táxi, um homem negro, de 1,80m, e com fala mansa faz corridas diárias pelas ruas e avenidas, sobretudo na Barra da Tijuca. Na foto da licença, o rosto não chama atenção, mas quando o motorista começa a contar suas histórias, o passageiro percebe que não é um taxista comum. O ex-lateral esquerdo Victor Boleta agora só sobe pelos flancos das ruas do Rio de Janeiro.



Velho conhecido das torcidas de Fluminense e Madureira, além do Vasco, há dois anos o ex-jogador se dedica ao táxi, à faculdade de fisioterapia e a jogar futebol sete. Hoje, o lado torcedor será mais forte. Vascaíno de coração, vai torcer para o Fluminense vencer o Madureira hoje, às 16h, em Moça Bonita, para o Cruzmaltino se classificar para semifinal da Taça Guanabara. Mesmo nutrindo um carinho especial pelo Tricolor do subúrbio.

— Não tenho como torcer para o Madureira, mesmo com o coração na mão. O clube me proporcionou chegar ao Vasco e ao Fluminense, mas se o Madureira ganhar o Vasco não se classifica. Aí não dá para torcer. Do jeito que as coisas estão, é melhor o Flu vencer — disse o ex-jogador.

\"Nunca levei calote. As pessoas entraram no táxi sem dinheiro e deram cheques, que compensaram.\"

Taxista: primeiro emprego

Atleta desde os 6 anos, Boleta não sabia o que seria da sua vida aos 30, quado decidiu pendurar as chuteiras no Olaria. Sem experiência a não ser com a bola nos pés, foi um amigo que lhe deu a ideia do táxi para o “primeiro emprego”. Foi a solução encontrada para pagar as contas da vida pós futebol.



— No início, eu dirigia diariamente, mas por causa da faculdade hoje rodo apenas duas vezes. O dinheiro que ganho não é o mesmo que recebia em time grande, mas é mais que o dos pequenos. Dá para pagar as contas, gastar nas festas e viajar — contou.

E as histórias como taxista… Essas não faltam. O ex-lateral já foi reconhecido por torcedores do Fluminense, recebeu cantada de mulher, mas diz que o assédio é ainda maior de homens.

— Uma vez um cara tentou passar a mão em mim. Eu me estressei e pedi para ele sair do carro, se não eu sairia da minha razão — disse Boleta, que quase sofreu dois calotes: — Nunca levei, mas porque dei sorte. As pessoas entraram sem dinheiro e deram cheques. Que compensaram.

Despedida numa noite de verão

Victor Boleta acordou um dia, em meio à pré-temporada do Olaria em janeiro de 2011, e decidiu pendurar as chuteiras. Mesmo com a apenas 30 anos, o ex-lateral não via na época mais perspectivas na carreira. Passou durante cinco anos por times pequenos e ficou desmotivado.

— Quando parei de jogar, eu tinha na cabeça que queria voltar à faculdade. Não tinha mais o prazer de jogar profissionalmente, viver em função de treinos, viagens, abrir mão da minha vida pelo futebol — disse o ex-jogador, que não acreditava que fosse ganhar mais dinheiro: — Na idade que eu estava, sabia que não teria mais sucesso financeiro. Preferi seguir o meu sonho e fazer fisioterapia.

Por causa da nova profissão, o ex-atleta foi convidado a fazer estágio nas categorias de base do Flamengo, na Gávea. No entanto, ele ainda não aceitou a proposta.

— Surgiu a possibilidade, mas ainda não fui porque quero um lugar mais perto da minha casa — contou.

O ex-lateral foi chamado a voltar a jogar, mas preferiu deixar o futebol de campo de lado. Hoje, Boleta é ala titular do Flamengo Iate-Modus e da seleção brasileira de futebol sete, onde foi bicampeão em torneio mundial.

Fonte: Extra Online