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Ex-Vasco, zagueiro Gustavo comenta sua passsagem por São Januário

Jogar na Itália é um desafio para qualquer jogador, mas para um zagueiro é ainda mais. Gustavo, defensor do Lecce, conversou com a Trivela sobre a carreira, o começo no Guarani, a passagem pela rival Ponte Preta, o tempo no Paraná e a fase mais marcante, pelo Palmeiras. Além de um problema com o Schalke 04, que rendeu uma suspensão de quatro meses.

Depois de passagens apagadas por Cruzeiro e Vasco, o zagueiro é titular no Lecce e fala com carinho da equipe do Palestra Itália, clube que ainda tem muito carinho e onde considera que sua carreira brilhou mais.

Como foi sua primeira experiência no exterior, aos 21 anos, no Levski Sofia e depois Dynamo Moscou?
Surgi no Guarani como promessa e acabei saindo cedo. Foi uma experiência boa, ficou a experiência de ter aprendido. É lógico que era muito frio, sozinho, não foi tão boa quanto eu esperava. Em outros aspectos, eu cresci como pessoa, como jogador. Deu para voltar para o Brasil e fazer tudo de bom, retomar minha carreira no Goiás, Ponte Preta, Paraná e depois Palmeiras.

E você foi para lá sozinho, não levou família?
Então, isso que foi um pouco difícil. Meu irmão ficou comigo um tempo. Em um ano só faz dois meses de calor, então tive essa dificuldade.

E como defensor, o que você sentiu de diferente em relação ao futebol que você jogava no Brasil?
Principalmente porque o futebol é muito mais duro, muita mais tática. O futebol brasileiro é um futebol mais moleque. O jogador brasileiro faz jogadas que podem definir o jogo em um lance.

Falando sobre sua passagem no Palmeiras, você chegou a ter bastante destaque, em 2007 e 2008, inclusive chegou a ser cogitado para a Seleção. O que aconteceu para você deixar o clube de hora de uma hora para outra?
Eu já tinha trabalhado com o Caio Júnior no Paraná, em 2007. Fazia quase 12 anos que o Palmeiras não ganhava um Campeonato Paulista e eu fico feliz de ter participado jogando. E cheguei a ser cogitado para ir para a Seleção... Fico triste da forma como saí, agradeço também de ter ido para o Cruzeiro, que é uma grande equipe, mas eu também fiquei chateado, porque por mim eu não teria saído do Palmeiras. Até hoje tem o meu fã clube, com o carinho do torcedor. Foi um grande marco na minha carreira. Até hoje eu agradeço. O [Venderlei] Luxemburgo tinha as preferências dele e eu achei que precisava procurar novos ares. Fui para o Cruzeiro, joguei o Campeonato Mineiro. Depois, na metade do ano, eu tive uma lesão, não tive mais muitas chances de jogar.

O que mais atrapalhou na sua passagem no Cruzeiro então foi a lesão?
É, foi a lesão, porque eu cheguei a jogar bastante jogos no Cruzeiro, joguei a semifinal e a final. Depois começou o Brasileiro e na sexta rodada eu me machuquei. Fiquei um pouco chateado por isso, mas a gente tem que valorizar também o Cruzeiro, um grande clube, uma grande estrutura, me abriu as portas. Mas eu digo sempre que o Palmeiras foi o grande marco da minha carreira.

E no Vasco, o que aconteceu?
No Vasco o que realmente houve é que quando eu cheguei estava com um desequilíbrio muscular. Acabei fazendo um trabalho para ter a mesma musculatura, que estava um pouco atrofiada devido a essa lesão no joelho. Mas faltou um pouco de atenção, faltou um pouco de carinho. Acho que pelos resultados, por precisar dar uma resposta imediata e eu precisava de tempo, readquirir confiança. E depois veio a suspensão da Fifa, por causa do pré-contrato com o Schalke 04. Mas tudo tem o seu lado bom da história.

E como foi esse pré-contrato com o Schalke? Por que você foi punido?
Essa é a pergunta que eu faço até hoje. É uma coisa que me dói. Fui punido por quatro meses pelo pré-contrato que assinei com o Schalke, é uma coisa que me deixa chateado lembrar disso. Mas acho que serviu como lição.

Falando ainda de uma passagem sua no Brasil, apesar de ter começado no Guarani você foi muito bem pela Ponte Preta. Você teve algum problema por causa disso com os torcedores do Guarani?
Olha, foi até engraçado isso. Eu sou de Campinas, moro em Campinas com a família toda, é uma cidade que eu amo, sempre vou morar em Campinas, é a minha raiz. Quando eu fui para a Ponte foi até engraçado que tiveram alguns torcedores do Guarani que ficaram chateados, mas entenderam meu lado profissional. E até a torcida da Ponte Prete, lógico, tinha aquela desconfiança, mas depois de um dérbi que eu me lembro que ganhamos por 3 a 1 com dois gols do Élton, fazia tempo que a Ponte não ganhava do Guarani, em 2004, e para mim foi uma coisa que marcou. E depois daquele jogo a torcida passou a me tratar um pouco diferente. Eu tenho um carinho muito grande pelos dois. Todo mundo me pergunta qual time eu prefiro, eu falo sempre que agradeço os dois. O Guarani por ter me dado a oportunidade de surgir, a Ponte Preta por eu ter jogado lá. Principalmente nesse ano, quando eu recebi a suspensão, e a Ponte abriu as portas para eu poder treinar, agradeço à comissão técnica, que nem está mais lá, o Jorginho e o Omar Feitosa, é uma coisa que eu vou levar para o resto da vida.

Falando agora do futebol italiano, a Itália é considerada uma das grandes escolas de zagueiros. Como tem sido para você atuar nesse futebol tão aclamado pela defesa?
Olha, desde que eu tirei o passaporte italiano era um grande objetivo jogar no futebol italiano. Estou há quatro meses aqui, cada dia aprendendo, cada dia crescendo. E é lógico, tem o frio, a língua, que para um defensor, diminui essa dificuldade, é preciso conversar com os companheiros. O futebol italiano é muito tático, você não pode errar, se errar é capaz de tomar um gol, porque todos os clubes aqui na Itália tem grandes jogadores. Eu só fiquei fora de duas partidas até hoje, joguei dez partidas, nove pelo Campeonato Italiano, um pela Copa Itália. Fico feliz de ter oportunidade, fizemos um grande jogo contra a Inter, que tem grandes jogadores, como [Samuel] Eto’o, [Diego] Milito. Meu primeiro jogo aqui contra o [Alberto] Gilardino, contra a Fiorentina, ganhamos por 1 a 0. Eu estou me esforçando ao máximo, cada dia entender que eu tenho que fazer o meu melhor, estamos sendo elogiados aqui pela imprensa, principalmente pelo presidente. Em tão pouco tempo jogando bem, eu quero me dedicar cada vez mais, crescendo, e nesse um ano de contrato fazer o melhor pelo meu time.

Os dois jogos que você ficou fora foram os jogos que o Lecce levou mais gols. Será que tem alguma relação?
Olha, eu sempre digo, para um defensor, quanto menos gols tomar, mais será elogiado. Então temos que tentar entrar em campo e tomar o menor número de gols possível. Eu até falo com uns amigos mais próximos que contra o Milan e a Juventus o time tomou quatro gols em cada e eu não joguei. No primeiro era o meu primeiro jogo, fiquei no banco por opção do treinador. Depois, joguei dois jogos importantes, contra a Roma, perdemos de 2 a 0 e contra a Inter [empate por 1 a 1]. Fico feliz em tão pouco tempo poder ajudar. As pessoas elogiam o trabalho, a gente fica feliz por isso. Mais feliz por ter essa oportunidade na carreira. Estou muito feliz, é cada vez trabalhar mais para ter êxito aqui na Itália.

E qual a expectativa que você e o Lecce têm?
Primeiro, é um clube que subiu da Serie B, então, fazer o necessário para não cair. O clube se preocupa em permanecer na Serie A. Aqui é uma escola de futebol, a cada dois jogos é uma batalha. É lógico que em todos os clubes que passei, Palmeiras, Paraná, que brigava pelo estadual, Cruzeiro, são clubes que você sempre estará visando o título, aqui é algo diferente na carreira, para a permanência na Serie A. É lógico que esse é o primeiro passo, se der para algo mais, vamos buscar também.

E como está a vida em Lecce?
Olha, agora está esfriando um pouco, chegando o inverno, ventando bastante. Quando estava calor era bom, porque é uma cidade com praia, né? (risos). É uma cidade de 100 mil habitantes, pequena, tem praias belas. É lógico, brasileiro gosta de quando está calor. Mas as pessoas são bem receptivas, o pessoal é acolhedor, eu estou bem adaptado aqui em Lecce, a vida é tranquila.

Você já está entendendo alguma coisa de italiano?
Estou, já entendo bastante, a cada dia se aperfeiçoando, aprendendo, melhorando. É importante aprender para poder falar com os outros jogadores. Vou aprendendo, né? A gente aprende no dia-a-dia, é nossa obrigação, vamos aprendendo.

Desta vez você está com a família em Lecce?
Eu estou com a Juliana, minha mulher. E mais maduro também, já são quase oito anos de diferença de quando eu fui para a Rússia. Hoje, com 28 anos, é muito diferente.

Com a família é bem mais fácil?
Com certeza. Você chega em casa, tem com quem conversar, pode sair, passear na cidade, ir a um restaurante, uma loja. E o melhor de tudo é que tem a segurança, a cidade oferece muita segurança. Dá para andar tranquilo nas ruas. Quando sobra folga dá para viajar. Duas semanas atrás, eu joguei em Roma e acabei ficando em Roma. Essas coisas você acaba não tendo no Brasil pelo calendário, porque é uma competição atrás da outra, às vezes joga quarta e domingo, perde dois jogos já concentra três dias, você acaba até ficando sem muito tempo com a família.

Fonte: Trivela