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Ex-Vasco, Patric quer defender seleção japonesa e espera naturalização

Se a temporada da J-League terminasse hoje, Patric seria forte candidato ao prêmio de melhor jogador do campeonato. O atacante brasileiro tem sido cada vez mais decisivo para o líder disparado Sanfrecce Hiroshima e assumiu a artilharia isolada da liga ao marcar duas vezes nos 3x1 em cima do Vegalta Sendai. "Sem dúvida, é um dos melhores momentos da minha carreira em termos de gols", disse o amapaense, que conversou com exclusividade com o Futebol no Japão sobre seu desejo de defender os Samurais Azuis.

Naturalização adiada
No País do Sol Nascente desde 2013, Patric já completou os cinco anos que está entre os requisitos para se obter a cidadania japonesa. Porém, o fato de não ter o visto de forma contínua durante esse período o impede de completar o processo. "Em 2016, quando cheguei na minha cidade no Brasil, a imprensa foi no aeroporto e me perguntaram se eu tinha interesse de me naturalizar. Eu falei que sim, que era meu desejo me naturalizar e ter a oportunidade de jogar pela seleção do Japão. Quando voltei ao Japão, a imprensa toda veio em cima de mim, para saber se eu tinha mesmo falado aquilo, e eu confirmei. Foi uma repercussão muito boa por parte da imprensa, dos torcedores... teve até torcedor que fez uma camisa da seleção japonesa com meu nome e levou no Gamba Osaka para eu assinar. Infelizmente acabei me machucando, uma lesão muito grave [nos ligamentos do joelho], e tive que voltar para o Brasil em outubro. Meu visto ia vencer em janeiro. No processo de naturalização você precisa ficar cinco anos direto no país, sem perder o visto. E eu pedi, conversei com o diretor do clube para renovar o meu visto, mas acabou não entrando em um acordo, como o japonês é muito certinho eles não quiseram renovar. Então acabei perdendo esse visto e acabei perdendo os cinco anos", lamenta.

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À espera de um chamado da federação
Pelos métodos convencionais, Patric teria que completar mais cinco anos morando no país para solicitar a naturalização. Ou seja, apenas em 2022 o processo seria concluído, quando ele já estaria com 34 anos. Mas o atacante mantém a fé de que a JFA (Associação Japonesa de Futebol) possa intervir a seu favor para agilizar o processo. "Tentei procurar advogados, a gente está tentando ver uma melhor forma, para que possa dar certo. Até brinquei com a imprensa japonesa, que me perguntou isso em um jogo agora. Eu falei que o único jeito de me naturalizar agora, de ter chance de ir para uma Copa, seria se a federação japonesa me ajudasse. Eles até riram. Meu desejo continua, acho que teria uma grande chance de jogar pela seleção se tivesse conseguido minha naturalização. Até porque jogadores com minha característica não têm no Japão. Têm muitos jogadores bons em todas as posições, mas ali na frente, um centroavante mesmo, alto, de porte físico muito forte, não tem", afirmou.

Outro requisito é falar o idioma. Mas Patric garante que isso não é problema. "O intérprete está me ensinando. Tenho um livro para ler, é complicado... mas consigo me comunicar. Não fluente, mas entendo bastante coisa", assegurou o jogador, que já escreve em japonês nas postagens no Twitter e no Instagram.

Início difícil no futebol japonês
O atacante passou por vários clubes brasileiros, como Paysandu, Santa Cruz, Vasco e Atlético-GO, mas no Japão é que sua carreira decolou. O início, porém, foi complicado. Contratado pelo Kawasaki Frontale no começo de 2013, Patric jogou apenas 175 minutos em um semestre lá. Foram oito jogos pela J1, sendo só um como titular, e dois gols. "O treinador era o Kazama, que hoje está no Nagoya. Ele queria que eu marcasse bastante e isso não é minha característica. Sou aquele centroavante mesmo, de ficar dentro da área, finalizador. Mas eu tenho meu ponto forte também que é a força, né? Mas ele demorou a descobrir isso aí. O Kawasaki não estava vivendo um bom momento. Eu jogava um, dois jogos, aí passava três, quatro no banco. Ele sempre conversava comigo, que era normal, adaptação ao futebol japonês... Eu entendi que era normal também, mas na reta final, com cinco meses que eu já estava no Japão, aí eu comecei a fazer meu ponto forte mesmo, de pegar a bola e ir para cima dos zagueiros. Até o auxiliar técnico [Toru Oniki], que hoje é treinador do Frontale, me disse: 'Poxa, eu não sabia que você tinha tanta força assim.' Só que aí apareceu a proposta do Kofu, né? Se eu ficasse no Frontale, eu não ia jogar com o treinador que estava lá. E eu queria ficar muito tempo no Japão. Então eu decidi sair", conta.

A volta por cima no Kofu e a glória no Gamba Osaka
"Quando fui para o Kofu [no segundo semestre de 2013], já com o Jofuku-san, o time jogava só com um atacante na frente, aí eu utilizei meu ponto forte que era a força, tanto que eu joguei todos os jogos do segundo turno", conta. Em Yamanashi, ele atuou 16 vezes na J1 (todas como titular) e registrou cinco gols e duas assistências. Em 2014, depois de uma rápida passagem pelo Fortaleza, Patric retornou ao Japão, mas dessa vez para atuar no Gamba Osaka, onde foi um dos protagonistas de uma incrível reação. Durante a pausa para a Copa do Mundo, o time estava na zona de rebaixamento. Terminou o ano campeão da liga e das duas copas nacionais. Patric ainda foi escolhido para a seleção dos onze melhores do campeonato. "Em questão de títulos, esse foi o grande momento da minha carreira. Até porque consegui contribuir para a conquista da tríplice coroa", orgulha-se. O brasileiro virou ídolo em Osaka. Porém, tudo deu errado para ele em 2016, e a temporada se encerrou de forma precoce com uma lesão nos ligamentos do joelho. Não confiando que ele recuperaria a melhor forma, o clube optou por não renovar seu contrato. Na metade de 2017, o Sanfrecce Hiroshima apostou nele como esperança de ajudar a equipe a fugir do rebaixamento. E não seu arrependeu da contratação.

Hiroshi Jofuku, técnico que trabalhou com Patric no Kofu e agora no Hiroshima: o "retranqueiro" evoluiu e lidera com folga a J-League, com o melhor ataque, a melhor defesa e 10 pontos de vantagem para o segundo colocado (Foto: Hiroshima Sport)

De quase rebaixado a líder absoluto - o segredo do sucesso do Sanfrecce Hiroshima
"Pela visão que eu tenho, o Hiroshima já vinha há muito tempo jogando no mesmo esquema, com três zagueiros, os laterais bem avançados... Com o passar do tempo, os times vão estudando muito os esquemas das outras equipes. O Urawa também jogava quase da mesma forma e caiu muito o rendimento. No Hiroshima, os jogadores não estavam acostumados a perder, era um time campeão. Eles ficaram desmotivados, abalados, não tinham forças para reagir. Cheguei na metade do ano, eu e o Daiki [Niwa], a gente sentiu isso. Pude conversar com o Ao [Aoyama], o capitão, e com os jogadores mais experientes, para tentar dar uma motivada neles. Porque qualidade o time tinha, eu não acreditava que o time estava numa situação daquelas. Eu consegui ajudar numa pequena parcela, fazendo alguns gols para que a equipe não fosse rebaixada. O treinador, o [Jan] Jonsson, tem uma grande parcela. Com isso, eu pude renovar meu contrato para 2018", comemora.

Para Patric, a preparação física tem sido um diferencial do Sanfrecce em 2018. "Quando acabam os jogos, os jogadores do outro time quase todos caem no chão, enquanto nossa equipe está sempre de pé, e ainda correndo mais que o adversário. O novo preparador físico, o Seigo-san [Seigo Ikeda], é um cara que tem um conhecimento muito grande e passou muitos trabalhos físicos na pré-temporada. A gente sabia da sequência de jogos que ia ter nesse início de temporada e, se não estivesse bem fisicamente, talvez não ia aguentar", pondera.

O "retranqueiro" Jofuku mostra que também sabe atacar
O atacante destaca também a evolução de Hiroshi Jofuku como treinador. "Agora que voltei a trabalhar com ele, a filosofia dele mudou totalmente. Acho que nesse tempo em que ficou sem clube ele pôde se aperfeiçoar mais, acho que estudou mais, para tentar evoluir. E evoluiu bastante, porque os trabalhos que ele dá são diferentes. Falavam que ele era muito retranqueiro (risos), mas aqui no Hiroshima, não. Ele fala para jogar para frente, para pegar a bola e ir em direção ao gol. Ele mudou o esquema do time, com dois zagueiros, com dois atacantes na frente. E trouxe a confiança de novo para os jogadores. É um treinador que cobra bastante, que depois dos jogos assiste de novo e vê onde podemos melhorar, mostra o vídeo e conversa com a gente. No primeiro treino dele em 2018 ele montou um scout dos nossos jogos de 2017, ele assistiu todos os jogos antes de vir para o Hiroshima. Aí eu já vi que tinha mudança nele", revelou.

Ano passado, o Sanfrecce escapou da queda por apenas um ponto. Em 2018, faz campanha impecável. Em 14 rodadas, somou 37 pontos de 42 possíveis - já superou os 33 pontos conquistados em 2017 inteiro. Tem 88% de aproveitamento, que seria o melhor da história da J-League. A melhor marca até hoje, depois de 34 rodadas, é do próprio Hiroshima em 2015 e do Urawa em 2016, que terminaram com 74 pontos, o que dá um aproveitamento de 72,5%. O atual Sanfrecce prima pela defesa, que só sofreu seis gols até agora, mas já tem também o melhor ataque, com 22 marcados. 10 vieram dos pés (e da cabeça) de Patric. "Os jogadores novos que chegaram também estão ajudando bastante. A gente não está acomodado ali na parte de cima da tabela. O treinador não deixa que isso aconteça", diz o brasileiro.

Desejo de continuar morando no Japão
"Hoje eu me sinto em casa, sempre falo isso para os meus amigos, falo isso para todas as pessoas. Vou fazer quase seis anos no Japão e estou bastante adaptado, eu falo que aqui é minha segunda casa, que eu sou brasileiro, mas tenho coração japonês. Pretendo ficar aqui mais alguns anos porque é um país que eu amo. Tudo que eu tenho hoje eu agradeço a Deus primeiramente e também ao Japão, tudo que eu tenho eu conquistei aqui. É um lugar também onde meu filho está estudando, está aprendendo o idioma, já fala bastante. Minha esposa também gosta muito do país. Eu sempre falo, se pudesse passar 11 meses no Japão e um mês no Brasil era ótimo, porque aqui você não tem problema com violência, não vai entrar alguém na sua casa e levar suas coisas. Os japoneses são um povo bem correto, bem certinho, acolhedor mesmo. Independente se você é estrangeiro ou não, eles tentam ajudar. Estou bastante adaptado ao país e pretendo ficar muito tempo aqui", conclui.

Patric e sua marca registrada, comemorar gols como se estivesse atirando: "Criei essa comemoração porque jogava muito Call of Duty" (Foto: Getty Images)

Resultados da 14ª rodada da J-League:

12/05 - Shimizu S-Pulse 4x2 Shonan Bellmare
IAI Stadium Nihondaira (14.624)
Koya Kitagawa (23', 1x0), Crislan (40', 2x0), Koya Kitagawa (52', 3x0), Shota Kaneko (54', 4x0), Shunsuke Kikuchi (66', 4x1), Ryunosuke Noda (90+5', 4x2)

12/05 - Júbilo Iwata 0x2 Vissel Kobe
Yamaha Stadium (14.912)
Kazuma Watanabe (10'), Wellington Tanque (25')

12/05 - V-Varen Nagasaki 3x0 Nagoya Grampus
Transcosmos Stadium (8.252)
Keita Nakamura (3'), Keita Nakamura (49'), Musashi Suzuki (76')

12/05 - Kashiwa Reysol 1x2 Kawasaki Frontale
Sankyo Frontier Kashiwa Stadium (12.584)
Junya Ito (32', 1x0), Yu Kobayashi (58', 1x1), Yuto Suzuki (90+2', 1x2)

12/05 - Vegalta Sendai 1x3 Sanfrecce Hiroshima
Yurtec Stadium (15.115)
Hiroaki Okuno (12', 1x0), Patric (41', 1x1), Yoshifumi Kashiwa (71', 1x2), Patric (89', 1x3)

12/05 - Yokohama F-Marinos 1x1 Gamba Osaka
Nissan Stadium (21.576)
Jungo Fujimoto (52', 0x1), Jun Amano (61', 1x1)

13/05 - Urawa Reds 0x0 Sagan Tosu
Saitama Stadium 2002 (40.137)

13/05 - FC Tokyo 0x0 Hokkaido Consadole Sapporo
Ajinomoto Stadium (24.589)

25/07 - Cerezo Osaka x Kashima Antlers
Yanmar Stadium Nagai
[Adiado por causa da participação do Kashima na ACL]

Classificação - Artilharia
Média de público: na rodada: 18.974; no campeonato: 17.484
Média de gols: na rodada: 2,5; no campeonato: 2,4

Fonte: ge