Futebol

Ex-Vasco, Fellype Gabriel inicia nova carreira

Para quem vive do futebol, definir a hora de pendurar as chuteiras pode ser difícil. Às vezes, a carreira é interrompida por lesões precoces; às vezes, a escolha é pessoal. Este é o caso de Fellype Gabriel, que oficializou sua aposentadoria dos gramados há cerca de oito meses, em agosto de 2020.

O ex-meia foi revelado pelo Flamengo, onde conquistou a Copa do Brasil de 2006, e também acumula passagens por outros clubes do futebol brasileiro. Ao ge, Fellype Gabriel projetou novos desafios na carreira e destacou a gratidão ao técnico Oswaldo de Oliveira.

Os dois trabalharam juntos pela primeira vez no Kashima Antlers, no Japão. Por lá, conquistaram a Copa do Imperador, a Supercopa do Japão e a Copa da Liga pelo Kashima. Mas a gratidão do ex-jogador é pelo aprendizado.

- Oswaldo mudou a minha vida, sem dúvida nenhuma. Ele me levou (ao Japão), eu não o conhecia pessoalmente. Falo que fui um jogador antes e outro quando saí do Japão, para melhor, lógico. Oswaldo me ensinou a jogar em várias posições. Eu era meia, e quando fui para lá comecei a jogar de segundo volante, lateral-esquerdo, atacante. Isso fez uma diferença muito grande na minha volta ao Brasil, no Botafogo - diz.

A parceria cruzou o Pacífico e se repetiu no Brasil, quando Oswaldo assumiu o Botafogo em dezembro de 2011. Dois meses depois, Fellype Gabriel assinou com o clube carioca, onde viveu sua passagem de maior destaque na carreira.

O bom momento no Botafogo rendeu ao meia carioca sua única convocação à seleção brasileira principal, para a disputa do Superclássico das Américas, em 2012. Na base, o meia vestiu a amarelinha em convocações às seleções sub-15, sub-16, sub-17. Na sub-20, ele disputou a Copa do Mundo de 2005, vencida pela Argentina de Messi.

- Foi a realização de mais um sonho, ainda mais para mim que tive várias convocações na base. Você poder disputar profissionalmente, ser convocado, é um sonho realizado. Vivi um momento maravilhoso. A convocação até me pegou de surpresa, porque eu não estava esperando. (...) Difícil a ficha cair na hora. Depois que a gente vai pela primeira vez, a gente toma um gostinho e quer votar (risos) - afirma.

- Quando vi que aconteceram outras convocações e eu não tinha voltado, recebi uma proposta dos Emirados Árabes. Pensei "ah, vou". E isso acaba te afastando também de uma convocação.

Comparado a jogadores "vovôs" que seguem em atividade no Brasil, Fellype acredita que se aposentou ainda novo. A escolha por pendurar as chuteiras, segundo o ex-meia, foi pessoal, sem relação com as diversas lesões que sofreu na carreira.

Fellype também defendeu outras grandes equipes do futebol brasileiro, como Cruzeiro, Palmeiras e Vasco - nestes dois, foi pouco aproveitado por problemas físicos; no Palmeiras, atuou por apenas 20 minutos.

Ao Flamengo, ele diz que "deve muito", pela realização do sonho de chegar ao futebol profissional. Passou ainda por Nacional (Portugal), Kashima Antlers (Japão), Al Sharjah (Emirados Árabes), Portuguesa e Boavista, seu último clube.

Novos ares

Atualmente, Fellype Gabriel mora com a família na cidade de Orlando, na Flórida (Estados Unidos). Ao ge, ele conta que a carreira de jogador quase seguiu rumo a terras norte-americanas. Uma mudança repentina de planos influenciou na sua função atual.

- Eu tinha uma ideia de morar fora do Brasil em 2018, quando joguei o Carioca pelo Boavista e vim de férias para cá. Chegou um momento em que houve a oportunidade de eu ir para o Orlando City. Eu já estava por aqui, houve uma mudança no diretor e as coisas não aconteceram. Aí falei "ah, acho que vou ficar por aqui mesmo". Eu já tinha uma casa, vinha com frequência, e o futebol aqui vem crescendo bastante - afirma.

Em meados de 2018, quando surgiu a chance no Orlando City, ele também tinha propostas de clubes do Nordeste. À época, Fellype tinha acabado de deixar o Boavista, seu último clube.

O ex-meia segue no futebol, mas agora trabalhando com gerenciamento de atletas. Priorizando atletas no Rio de Janeiro, Fellype Gabriel aproveita as relações que construiu nos tempos de jogador, em que defendeu três dos quatro grandes clubes do estado (só não jogou pelo Fluminense). Ele também projeta a disputa da Copa do Mundo de 2026, nos Estados Unidos, México e Canadá.

- Tenho jogadores na base do Botafogo, do Vasco, do Boavista, já pensando justamente nisso, no crescimento do futebol norte-americano. (Com a Copa), está crescendo bastante a procura pelo futebol. Acho que é o esporte que mais cresce nos EUA, mais até que o basquete. Aqui, quando eles entram em um esporte é para fazer a diferença - completa.

- Eu tinha uma visão tática muito boa, mas sempre gostei mais dessa parte administrativa. Minha vontade era fazer gestão, mas como vim para os Estados Unidos, o mercado aqui é um pouco mais fechado.

Tendo a vivência de dentro do campo - e, por vezes, dos problemas fora dele -, Fellype Gabriel fala sobre o desafio de conciliar os interesses de atletas e clubes com situações financeiras delicadas. O empresário cita Botafogo e Vasco, dois clubes que defendeu, como exemplos.

- A gente torce para que possam se reconstruir. Você acaba criando uma relação com o clube desde que os garotos são novos, conhece o gerente geral da base. O negócio tem que ser bom para todo mundo, não só para o jogador ou o clube. Tenho um atleta que assinou contrato de formação com o Botafogo. Eu poderia (dizer) "ah, vamos para cá que por aqui é melhor", e não. Temos que entender o projeto - finaliza.

Fonte: ge