Ex-Vasco, Fábio Lima celebra primeiro gol pelos Emirados Árabes
A goleada dos Emirados Árabes Unidos sobre a Índia, em amistoso realizado ontem (29), teve um gosto especial para um brasileiro. O meia Fábio Lima, que tem passagem pela base do São Paulo e pelo Vasco, balançou a rede pela primeira vez com a camisa da seleção emiradense ao fazer o quinto gol da goleada por 6 a 0, no estádio Zabeel, em Dubai.
Fábio está na sétima temporada pelo Al-Wasl e foi naturalizado pelo país asiático no ano passado. Em julho, recebeu a primeira oportunidade na equipe nacional dos Emirados Árabes, que busca a classificação à Copa do Mundo de 2022, no Qatar.
"Estou muito feliz por ter marcado o meu primeiro gol pela seleção. Tivemos uma ótima preparação para esse amistoso contra a Índia, já pensando nos jogos das Eliminatórias. No mês de maio, vamos nos reapresentar novamente. Serão quatro jogos importantes aqui em Dubai e acredito que temos toda capacidade de ganhar essas partidas para conseguir a classificação", disse o atleta de 27 anos, em entrevista ao UOL Esporte.
Atualmente, ele é treinado pelo também brasileiro Odair Hellmann, que se despediu do Fluminense em dezembro após receber proposta do Al-Wasl.
"O começo de trabalho do Odair está sendo muito bom. Eu não o conhecia pessoalmente, mas sabia que ele tinha feito um trabalho muito bom no Internacional e no Fluminense. A expectativa do grupo era muito alta, pois é um treinador brasileiro que conhece bem o futebol. É uma pessoa que abraça o grupo, deixa à vontade os jogadores e cobra na hora que tem que cobrar. Como chegou no meio da temporada, ele precisa de tempo para implantar a filosofia dele", afirmou.
O meia fez elogios ao ex-treinador tricolor e acredita que, em breve, o trabalho realizado possa render títulos.
"Os jogadores já perceberam muitas mudanças como a posse de bola, a forma de atacar e organização. O Odair já está conseguindo colocar a ideia dele de trabalho no dia a dia. Eu converso muito com ele. Infelizmente, a temporada está corrida, mas a tendência é o time entender ainda mais o que ele quer e o propósito de jogo. Acredito em um futuro com títulos com Odair no comando", ressaltou.
Veja mais trechos da entrevista:
UOL Esporte: Como foi a adaptação à cultura e ao futebol local?
Fábio Lima: Nos primeiros meses, a adaptação foi difícil. Saí com 20 anos do Brasil, vim sozinho, sem família e sem falar inglês. Depois que as coisas se encaixaram, meu futebol foi se desenvolvendo. Graças a Deus, consegui me firmar no primeiro ano, consegui ir bem na temporada e fiquei entre os três melhores jogadores da Liga.
UOL Esporte: Como surgiu o convite para se naturalizar?
Fábio Lima: O convite para naturalização ocorreu ao decorrer dos anos. Eles tinham esse interesse desde o início por causa da minha idade e pelo projeto que eles têm de ir para a Copa do Mundo 2022, que vai acontecer no Qatar, país vizinho ao nosso.
UOL Esporte: E como anda a busca para realizar o sonho de disputar a Copa do Mundo?
Fábio Lima: Era um desejo pessoal também jogar por uma seleção. Tenho um carinho especial pelo país, pelo meu clube e pelos companheiros. Foi o lugar onde consegui desenvolver meu melhor futebol. Já disputei alguns amistosos com a seleção e estamos nos preparando para as Eliminatórias da Copa do Mundo [os Emirados Árabes ocupam a quarta colocação do Grupo G, fora de zona de classificação ao Mundial].
UOL Esporte: Para um jogador brasileiro, é melhor ser treinado por alguém do mesmo país? Isso pode facilitar em alguma coisa?
Fábio Lima: Particularmente, eu gosto muito de trabalhar com treinadores brasileiros pela questão da língua. O treinador brasileiro tem muita facilidade em lidar com os jogadores. Aqui temos muitos jogadores brasileiros, a presença dele deixa os atletas mais à vontade. O Odair se dá bem com todo mundo, inclusive com os jogadores locais. Isso está facilitando o dia a dia. Ele começou muito bem e acho que vai demonstrar para o que veio nos próximos jogos.
UOL Esporte: Além de estar na Copa do Mundo, quais os objetivos que ainda tem na carreira?
Fábio Lima: O objetivo da maioria dos jogadores é jogar uma Copa do Mundo e não é diferente comigo. No momento, quero muito ajudar a seleção a se classificar nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Temos um bom elenco, um treinador capacitado e estamos focados nisso. Além disso, quero me manter em alto nível sempre, continuar fazendo gols e, se possível, conseguir títulos com a camisa do Al-Wasl.
UOL Esporte: Quando você estava emprestado ao Vasco, o então diretor René Simões acabou não fixando junto ao Atlético-GO uma opção de compra, o que não o permitiu continuar no clube. Posteriormente, o dirigente admitiu que errou nesta questão. O que, de fato, aconteceu? Você gostaria de ter continuado mais tempo no Vasco?
Fábio Lima: Realmente, foi o Renê que me levou para o Vasco. Eu o conheci nas divisões de base do São Paulo. Ele era diretor na época. Depois da Copa São Paulo de 2013, eu iria voltar para o Atlético-GO, pois tinha contrato com o clube. Ele me ligou e perguntou se eu tinha interesse em ir pro Vasco. Aceitei a proposta, fui contratado para a base e subi para os profissionais. Consegui me destacar em alguns jogos com o Paulo Autuori.
Agradeço muito ao Renê por ter me levado para uma grande equipe como o Vasco. Tive a oportunidade de jogar com grandes jogadores. Acho que ele fez de tudo para eu permanecer no clube. Ele assumiu o erro de não ter colocado o valor fixo no contrato, mas isso não impediu o Vasco de adquirir meus direitos. Lembro que falei com o Ricardo Gomes para voltar ao Atlético, pois não estava tendo oportunidade no clube por causa desse problema no contrato.
Quando voltei para o Atlético-GO, fui muito bem. Ao fim da Série B, o Vasco tinha a prioridade de me adquirir, mas isso não aconteceu. Ninguém do Vasco entrou em contato comigo. Continuei no Atlético e fomos campeões goianos em 2014. Tenho um carinho muito grande pelo René, pois ele me ajudou muito na época em que estive no Rio de Janeiro. Agradeço a ele por isso. Queria ter continuado no Vasco sim, mas não foi possível. Hoje, estou muito feliz nos Emirados Árabes e no meu clube.
UOL Esporte: Como tem sido lidar com a pandemia aí nos Emirados Árabes? Pensou em voltar para o Brasil diante dessa questão? Como o país e as entidades esportivas têm tratado essa questão?
Fábio Lima: Foi um ano diferente para todos, mas acredito que o país soube se organizar para lidar com o problema da pandemia. Teve um lockdown no início aqui. O campeonato foi paralisado e ficaram faltando cinco ou seis rodadas para terminar. As autoridades preferiram não dar continuidade à Liga por medo de infecção generalizada. Nesta temporada, está indo tudo bem e os jogos ainda não têm torcida. Apesar disso, estão acontecendo reuniões para retomarem o público nos estádios e alguns jogadores já estão se vacinando também. Espero que tudo volte ao normal e os torcedores tomem as medidas de prevenção para evitar a disseminação do vírus.
Fonte: UOL Esporte