Ex-Vasco, Auremir comenta passagem pelo clube e importância de Juninho
A vida é bela, mas também tem seus percalços. Os obstáculos muitas vezes parecem impossíveis de se superar e o temor de não conseguir concretizar os objetivos aumenta. Às vezes lutamos contra inimigos, e outras vezes contra nós mesmos. As batalhas são duras e exigem muito de nós, mas o esforço e a perseverança sempre são recompensados.
Foi assim com Auremir. O lateral-direito brasileiro precisou superar as dificuldades na infância, quando não tinha dinheiro para ir treinar, ficou meses sem receber no Náutico, chorou abraçado com um torcedor no Fortaleza e superou até a depressão antes de dar a volta por cima e se destacar na Turquia.
Hoje, o jogador defende as cores do Sivasspor, atual nono colocado do Campeonato Turco, e vive boa fase na Europa, sendo titular de sua equipe e acumulando boas atuações.
Auremir desfruta seu bom momento e a tranquilidade no Velho Continente, mas nem sempre foi assim. Para chegar onde chegou, o lateral precisou superar muitas dificuldades desde o início de sua trajetória.
"Sempre quis ser jogador de futebol. Eu vim de uma família pobre, mas graças a Deus nunca precisei trabalhar para ajudar em casa ou passei fome. Eu ganhei bolsa de futsal e estudei em bom colégio particular. Mas era complicado porque eu passei muitas outras dificuldades. Muitas vezes eu não tinha dinheiro para comprar a passagem e ir treinar, e tinha que pedir dinheiro emprestado para amigos da base que já tinham contrato para conseguir ir", conta, em entrevista exclusiva à Goal Brasil.
Auremir, porém, conseguiu superar as dificuldades e se tornar profissional. Revelado pelo Náutico, ele se destacou no Timbu e logo recebeu uma chance no Vasco. O lateral se encantou com o Gigante da Colina e até hoje tem um carinho especial pelo clube carioca. São várias as boas recordações, sendo a principal delas, o convívio com Juninho Pernambucano, um de seus grandes ídolos.
"O Vasco foi o maior clube em que já joguei e foi um sonho, porque era um timasso em 2012 com Dedé, Juninho, Felipe, Alecsandro... E o time era vice-líder do Brasileiro. Foi um dos últimos anos de boa campanha na Série A do clube. Eu fui muito feliz lá, e acho que dividir o vestiário com o Juninho é a melhor recordação que tenho", diz.
"Um mês antes de ir para o Vasco, quando estava no Náutico, eu enfrentei o Juninho e o Vasco, e ele foi o jogador que mais chamou minha atenção, porque mesmo com 37 anos, ele corria o campo todinho. Ir jogar ao lado dele depois e compartilhar o vestiário foi um sonho. E ele me ajudava muito também, porque também sou pernambucano. Foi das maiores alegrias que tive na vida", lembra.
Experiente e um dos melhores meias do futebol brasileiro nas últimas décadas, Juninho sempre tem muito o que ensinar, e com Auremir não foi diferente. O lateral aprendeu muito e seguiu vários conselhos do ex-jogador. O principal deles, porém, é bem curioso. Foi o corte de um vício, mas não se trata de drogas.
"O Juninho me ajudou muito e me deu vários conselhos. Um dos principais é meio engraçado (risos). Quando eu conheci ele e joguei com ele, o que mais me chamou atenção foi o profissionalismo e a humildade. Ele e o Felipe ajudavam muitos jogadores e garotos da base dando dinheiro, carona, levando pra almoçar... E uma das manias dele, que ele é meio doido, é não tomar refrigerante", revela.
"Eu fui na casa dele uma vez e na despensa tinha uma prateleira lotada de suco. Ele me disse para pegar um suco porque não tomava refrigerante, porque faz mal. Demorou um pouco (risos), mas faz três anos que não tomo refrigerante e não tenho lesão muscular. Meu desempenho físico é muito melhor. Parece besteira, mas é um detalhe que faz toda diferença", confessa.
No entanto, se Auremir viveu o lado bom de defender um gigante do futebol brasileiro, ele também sentiu na pele o lado ruim. Como todos sabem, o Vasco, já nessa época, vivia grave crise financeira. Não à toa, Juninho e Felipe ajudavam muitos atletas e garotos da base. E o lateral acabou voltando ao Náutico por conta disso, já que o Cruzmaltino não tinha dinheiro para pagar o Timbu. Sem receber, o time nordestino pediu o retorno do seu jogador.
Inicialmente, a volta de Auremir teve, novamente, um lado bom e um lado ruim. "O Vasco não pagou o Náutico e solicitaram a minha volta. Eu tive que voltar por questões jurídicas. Voltei em 2013 e nós caímos para a Série B, mas mesmo caindo, eu joguei bem e fui dos que mais jogou no ano. Fiz 39 partidas naquela temporada", relembra.
Depois disso, porém, as coisas pioraram muito e Auremir viveu um drama, precisando lutar para superar a pior fase da sua carreira. "No ano seguinte me chamaram para reduzir meu salário. Eu disse que só aceitaria se pagassem meus salários atrasados, que eram três meses de salário, o 13º, as férias e os direitos de imagem. Eu trabalhei e era meu direito receber. Mas aí, me disseram que iam reduzir 45% do meu salário e não iam me pagar o que me deviam", reclama.
"Eu não aceitei e então me afastaram. Fiquei nove meses sem receber, sem ter ninguém para me dar treino e não podia jogar porque tinha um contrato de cinco anos, até 2018. Fiquei nove meses na Justiça, pagava do meu bolso um personal para não perder a forma e meu empresário me ajudava. Eu treinava e voltava para a casa todos os dias. Não jogava, não recebia, não conseguia mais pagar minhas contas, gastei tudo o que tinha guardado e tive que fazer um empréstimo que eu pago até hoje", lamenta.
"Eu entrei em depressão. Eu não queria ver bola nem saber de futebol. O que mais me machucava nem era estar sem jogar, era a forma como as coisas aconteceram. No ano em que a gente caiu, o Cristóvão Borges assumiu o Bahia e me queria lá, e eu pedi para ser emprestado, mas o presidente, o Paulo Wanderley, não me deixou ir. Ele gostava muito de mim e me elogiava porque eu nunca atrasava em treino e cumpria todas as minhas obrigações com profissionalismo", conta.
"Eu pedi para sair porque estava sofrendo, mas ele não me deixou ir embora. Eu fiquei no clube, mas pedi para ele me pagar o que me devia, já que não ia me liberar. Ele disse que me pagaria. Aí entrou um novo presidente, o Glauber Vasconcelos, que acabou com a minha vida naquele momento", revela.
No entanto, depois de muita luta, Auremir venceu a batalha na Justiça e conseguiu a liberação. Era hora de buscar um novo clube. Mas você se engana se pensa que as dificuldades acabam aí.
Sem jogar há nove meses, o lateral foi contratado pelo Paraná dois dias antes do encerramento das inscrições para a Série B do Campeonato Brasileiro de 2014. Em grave crise financeira, o clube queria contar com o jogador, mas não tinha como arcar com seus salários e o elenco já estava com seis meses de vencimentos atrasados. Auremir teria que jogar sem receber, ganhando apenas uma ajuda de custo do time paranaense. Em um intervalo de dois anos, ele saiu do Vasco na Série A, para jogar no Paraná sem receber na Série B.
O lateral, porém, não desistiu. Conseguiu se recolocar no mercado mesmo fazendo apenas cinco partidas pelo clube do Sul do Brasil e se transferiu para o Fortaleza na temporada seguinte, onde recuperou a sua carreira. Auremir foi muito feliz por lá, mas não quis continuar no time por conta de um episódio de muito sofrimento.
"Eu gosto muito do Fortaleza e fui muito feliz lá. Consegui recuperar a minha carreira, fui campeão estadual e joguei 42 jogos no ano, mas eu não quis continuar para evitar um sofrimento muito grande. O Fortaleza ficou oito anos na Série C, e no dia em que a gente não conseguiu o acesso em 2015, contra o Brasil de Pelotas, eu fui um dos últimos a sair do estádio", lembra.
"Na saída tinha um grupo de torcedores, e eles me aplaudiram. Quando cheguei no carro, um deles bateu no vidro, pegou na minha mão e começou a chorar e me abraçar. Nós dois choramos juntos, e minha mãe e minha mulher, que estavam no carro, também. Ele começou até a pedir pra eu renovar. Eu não quis continuar lá para evitar esse sofrimento. Eu não queria ver aquele povo chorar de novo e ter isso nas minhas mãos", explica.
Depois do Fortaleza, Auremir rodou um pouco e voltou a se destacar no Guarani, sendo um dos destaques da equipe na Série B do Brasileirão deste ano. Com o bom futebol mostrado no Bugre, surgiu a oportunidade de se transferir para o Sivasspor. O lateral não pensou duas vezes: aceitou a oferta e fez as malas para a Turquia.
Normalmente, os jogadores demoram para se adaptar a um campeonato novo, com um estilo de jogo diferente, as diferenças táticas e também não só as mudanças dentro de campo, mas principalmente fora, com clima, língua, país e cultura distintas. Auremir, porém, conseguiu se adaptar rapidamente e já é titular do Sivasspor.
"A adaptação não tem sido tão difícil. A comida é parecida, só não tem muita carne de boi, picanha, essas coisas, e minha mulher reclama um pouco, mas é boa a comida aqui. O futebol é mais dinâmico, mas estou me adaptando bem. Já a língua é mais complicada (risos). Eu consigo pedir comida: arroz, macarrão, frango, suco, mas no resto... É bem difícil, não tem tradutor no clube, só um cara que traduz para inglês e francês, e eu entendo só um pouco de inglês. Eu até já pedi comida errada algumas vezes, comi um frango apimentado ruim uma vez (risos), mas tá dando para me virar e o google tradutor salva demais", brinca.
Auremir, como não poderia ser diferente, está muito feliz. Depois de superar muitos obstáculos na carreira e vencer a depressão, ele desfruta do bom momento na Turquia e sonha alçar voos mais altos. "Não tenho vontade de voltar ao Brasil agora. Quero continuar aqui, porque tenho condições de fazer um bom trabalho e me manter aqui. A segurança nem se compara com a do Brasil. Você anda na rua às duas horas da manhã, não tem roubo e a qualidade de vida é bem melhor também. Dá saudade de cuscuz, feijão, comida brasileira e da família, mas tenho vontade de ficar por aqui um bom tempo, e jogar nos melhores clubes e ligas em um futuro próximo", sonha.
E não é para menos. Para quem superou todos esses problemas e já é um vencedor, não existem limites. Basta lutar e correr atrás de seus sonhos. Afinal, como Auremir bem sabe, o esforço e a perseverança sempre são recompensados.
Fonte: GoalMais lidas
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