Especial: De onde e para onde? - a saga cruzmaltina em 2012
2012, ano de retorno à disputa de Libertadores, era um ano especial para o atual vice-campeão brasileiro e campeão da Copa do Brasil. Para tal, o Vasco fez lá o seu planejamento. Manteve sua comissão técnica, que ia muito bem. Manteve o elenco, quase que por completo, perdendo poucos jogadores como Bernardo, Élton e Jumar.
Como Libertadores sempre demanda uma qualidade superior dos times, o Vasco trouxe reforços. Poucos e, em sua maioria, modestos. Rodolfo, Thiago Feltri e os estrangeiros Carlos Tenório e Abelairas. Desses, três chegariam para compor parte do esqueleto do time titular planejado para a temporada:
Com problemas de lesões, entre elas a grave contusão no tendão do Aquiles de Tenório, Cristóvão Borges jamais conseguia escalar o planejado time. Até porque esse time, além de não sair do papel por causa dessas contusões, era deveras utópico, em virtude da conhecida fraca produção de Felipe e Juninho juntos entre os 11 de início.
Sendo assim, o treinador vascaíno iniciou a temporada no esquema base (4-3-3), porém com Fellipe Bastos/Eduardo Costa compondo a meia e Juninho e Felipe revezando nas partidas. Alecsandro, titular na temporada anterior, mesmo nunca agradando tanto, era titular em virtude da lesão do equatoriano Tenório. E o camisa 9, porém, dava conta do recado, jogando bem e fazendo gols.
Em determinadas ocasiões, principalmente a partir de quando Nílton voltou de lesão, Cristóvão Borges passou a utilizar o 4-2-3-1, com Nílton e Rômulo de volantes e Juninho de trequartista (meia de criação).
O time ia bem, apesar da eliminação na Libertadores. Duelava pela liderança do nacional com o Atlético Mineiro.
Eis que abrem a janela. E o mundo com seus dinheiros tira da colina Fágner, Rômulo, Allan e Diego Souza. Rodolfo e Thiago Feltri, em processo de adaptação e melhorando nas atuações, se contundem. Carlos Alberto é erradamente reintegrado. Felipe entra em ciclo de pequenas lesões. E Éder Luís desaparece sem a presença quase que permanente de Fágner no apoio. (mas Fellipe Bastos foi comprado)
Com tal situação caótica, o treinador ex-interino Cristóvão Borges se viu em uma situação ainda mais caótica. Como reorganizar esse time?
Como se sabia desde a conquista da Copa do Brasil, o forte desse Vasco de Ricardo Gomes/Cristóvão Borges era o entrosamento, o conjunto, a equipe no sentido primitivo da palavra. Esse era o melhor jogador do Vasco. E com a saída de tantos jogadores isso estava perdido. O que fazer, Cristóvão?
O treinador vascaíno tentou manter a formação base (4-3-3), trocando apenas as peças do esquema. Chegaram Auremir, William Matheus e Wendel. E com isso, o Vasco, com tantas perdas por negociação e lesão, se organizava de tal modo:
Assim, o time conseguiu ficar por várias partidas invencível. No placar e defensivamente. A mudança tática ficava na primeira linha, a linha defensiva, agora praticamente jogando, de fato, em linha. Quase num esquema de quatro zagueiros, uma vez que os novos laterais, diferente dos antigos, pouco apoiavam o ataque.
Quando a defesa deixou de ser invencível, o time passou a ser vencível. Aliás, facilmente vencível. Como alternativa para tal situação, Cristóvão Borges testou alguns esquemas diferentes, como o 4-4-2 (com meio de campo em forma de losango) e até um 4-4-2 em linhas (diante do Náutico).
Nada tático surtia mais efeito. O time não se encaixava nas novas configurações. Talvez porque aquele principal jogador, o conjunto, foi embora. Ou talvez porque a qualidade tenha partido. Ou até mesmo porque Cristóvão Borges deveria acompanhar o fluxo de seu time, e organizar a equipe de uma maneira renovada, assim como eram as suas peças.
Fato é que o Vasco não era mais o mesmo. Até que o sacode em casa para o Bahia determinou o maduro e pertinente pedido de demissão de Cristóvão. O treinador não abandonou o barco, só foi inteligente para perceber de que as suas ações não eram mais refletidas dentro de campo. Madura e sábia decisão.
A TRANSIÇÃO
No primeiro jogo sem Cristóvão, diante do caótico Palmeiras, em São Januário, o time, comandado pelo auxiliar Gaúcho voltou a vencer e a jogar minimamente bem. Mudanças táticas, no entanto, não foram vistas. A grande diferença foi que elas foram refletidas dentro de campo, diferentemente do que vinha acontecendo.
O time de Gaúcho, se é que se pode falar assim, se organizou em um 4-4-2 (meio em losango) já utilizado por Cristóvão. Destaques para Wendel e Carlos Tenório, muito bem pela esquerda. E John Cley e Juninho, pelo meio.
MARCELO OLIVEIRA
O novo treinador já foi anunciado, é Marcelo Oliveira, que fez um brilhante trabalho no Coritiba, dando continuidade no trabalho de acesso de divisão de Ney Franco em 2010. Em dois anos de trabalho pelo clube paranaense, o treinador mineiro conseguiu chegar por duas vezes na final da Copa do Brasil, uma delas contra o Vasco, a ótima 5ª colocação no Brasileirão 2011, e a dois títulos estaduais, um deles de maneira invicta. Excelente trabalho.
Marcelo Oliveira chega a São Januário para romper com a memória do time melhor que lá estava até pouco tempo. Para renovar os ideias táticos e, principalmente, conseguir refleti-los dentro de campo.
O novo treinador em tempos de Coritiba adotava religiosamente um 4-2-3-1, extremamente bem sucedido. No Vasco a tendência é a escolha pela mesma filosofia. Caso isso aconteça, o provável time base que deve estar na cabeça do treinador mineiro tende a ser um dos abaixo:
Apesar da forte suspeita da adoção do esquema mais modinha do mundo, mas eficiente, 4-2-3-1, ainda não se sabe como será o trabalho, em especial tático, de Oliveira no Vasco. O treinador é novo e já demonstrou ser talentoso, mas agora será a sua grande prova de fogo.
A torcida deve esperar mudanças. E acima disso, melhoras. A assimilação tática dos jogadores deve voltar a existir, e o time deve reencontrar o caminho das vitórias. No entanto, deve se ter em mente que o trabalho verdadeiro do treinador só realmente aparecerá com o tempo, e que o atual time não é um dos melhores que o Vasco já teve. Portanto, em caso de insucesso nos resultados, colocar na conta do novo treinador será injusto e irresponsável.
Tempo para quem sabe o que faz. E a consciência de que sem ovos, não se tem omelete, por melhor cozinheiro que seja (com o perdão do clichê).
por Igor Rufini
em A Prancheta
Entre em contato com autor: igorfrufini@a-prancheta.com
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