Entra-e-sai de jogadores de qualidade duvidosa nos clubes esfria torcedores
Houve tempo em que os grandes clubes do Rio promoviam troca-troca de craques. Inventado por Francisco Horta nos anos 70 para compensar a falta de dinheiro, virou febre e incendiou o futebol carioca. Agora, num campeonato sem estrelas e com cada vez menos recursos financeiros, o jeito é apelar para o entra-e-sai de coadjuvantes. Alguns podem até superar expectativas, outros o torcedor já sabe que não deixarão de ser sucatas.
Reforços de segunda ou terceira linha - a maioria vai jogar na Série C do Brasileiro - entram e saem do Rio. O Flamengo traz a base do mineiro Ipatinga, vice-campeão mineiro e filial do Cruzeiro. É impossível uma torcida esfregar as mãos e sonhar futuro melhor ao saber que chegaram para resolver os problemas os meias Walter Minhoca e Leo Medeiros e o atacante Diego Silva. Pode até ser que surpreendam, bem como o volante Leo e o meia Deni, do Nova Iguaçu. O Vasco acena com o atacante Faioli, do Americano.
O desmonte mais provável é o do Cabofriense. Semifinalista nas Taças Guanabara e Rio, vai perder o volante Ânderson e o atacante Sorato para o Bahia, adversário na Série C do Campeonato Brasileiro. O presidente do Cabofriense, Valdemir Mendes , teme não conseguir montar time a tempo. Até o técnico, Ademir Fonseca, anunciou sua ida para o Paysandu, rebaixado para a Série B. O único que deverá sentir o gosto de disputar a elite da Série A e até a Libertadores é o zagueiro João Paulo, pretendido pelo Goiás.
- Temos feito boas campanhas nos Campeonatos Estaduais nos últimos anos. Com isso, nossos atletas e treinadores se valorizam. É complicado manter o grupo, mas nos esforçamos para contratar outros bons jogadores - afirmou Valdemir Mendes.
Ano passado, o time também foi desmantelado. O técnico PC Gusmão parou no Cruzeiro, o meia Teti, no Vasco, Oziel e Joílson, no Botafogo. O presidente do Cabofriense bem que tentou desta vez, mas não teve como manter Ademir Fonseca no comando do time e deu férias aos jogadores, que se reapresentam dia 20.
O Madureira deve perder para o Vasco Roberto Lopes e Fábio Júnior. Outro que se destacou no Campeonato Carioca, o América não sabe se conseguirá manter a equipe, que segue nos treinamentos. Os veteranos Válber e Robert estão na mira do Bahia - o volante de 38 anos recusará a proposta devido aos salários atrasados no clube baiano. O atacante Chrys vai para o futebol japonês ou peruano.
- O Santiago recebeu propostas de Flamengo e Botafogo, é outro que pode sair, fez um bom campeonato - afirmou o auxiliar técnico Aílton.
Hoje técnico das divisões de base do CFZ, Júlio César, o Uri Geller do Flamengo, ponta dos anos 70 e 80 que entortava tantas defesas, considera Santiago a melhor revelação do Campeonato Carioca e em condições de dar frutos. A má passagem pelo Vasco não é problema. Júlio César lembra que teve de ser emprestado ao Remo e Andrade ao futebol venezuelano no início de carreira para voltarem amadurecidos ao Flamengo de Zico.
- Santiago foi o que mais ousou, o melhor do campeonato, a falha no jogo contra o Botafogo não apaga a boa campanha. É um bom zagueiro.
Júlio César se queixa da falta de talento aliada ao medo de errar no atual futebol carioca. Percebe que há medo de driblar e de dar um passe simples de um metro.
- Com esse gramado perfeito do Maracanã, chuteira especial importada, é brincadeira. Por isso o Válber voltou a jogar, deitou e rolou. Com jogadores de tão pouca técnica, somos obrigados a dizer que o Flamengo fez um bom negócio ao contratar esses jogadores do Ipatinga - afirmou Uri Geller, dos tempos em que o troca-troca criava frisson no torcedor.
Tempos cada vez mais distantes no futebol carioca.
- SuperVasco