Em seu quinto ano no clube, Pikachu se declara: "O Vasco é minha casa"
Camisas em quadros, fotos, desenhos e um controle de videogame personalizado. Tudo com o tema Vasco, tudo de Yago Pikachu. A sala da casa do lateral-direito reúne memórias do jogador, que iniciará, domingo, diante do Bangu, pelo Carioca, a quinta temporada em São Januário. Um ano que promete ser especial.
Desde 2016, quando foi contratado do Paysandu e se mudou de Belém ao Rio, Pikachu atuou em 205 jogos e marcou 38 gols. Virou o lateral com mais bolas na rede do Vasco. Ajudou o time a voltar para a Séria A em 2017. Virou líder do elenco. Foi campeão carioca. Virou referência da torcida.
Insuficiente. Pikachu quer mais. Com 99 gols em jogos oficiais na carreira, projeta o centésimo. De forma inédita no Vasco, clube que ele sonha ajudar a ganhar um título de maior expressão.
- Para ser perfeito mesmo, de falta. No Vasco ainda não consegui fazer. Fiz muitos no Paysandu. Quem sabe o centésimo não sai assim para poder corar e dar uma alegria? O Vasco é a minha casa. Tenho muitas amizades, conheço todo mundo no clube, do porteiro ao presidente. Tenho carinho e respeito por todos, e também sinto que eles têm por mim. Sou muito feliz aqui - projetou o atleta.
Os gols de Pikachu
Carreira: 102 (99 em jogos oficiais, 3 em amistosos)
Por times: Vasco (38, 1 em amistoso) e Paysandu (64, 2 em amistosos)
A conquista em questão é a Sul-Americana. Ao longo da entrevista, o camisa 22 citou algumas vezes o torneio. É, talvez, o principal objetivo dele e do Vasco na temporada:
- O torcedor merece por tudo o que está fazendo. É isso (ser campeão) que marca um jogador.
Ao lado da esposa Cristina e das filhas Giovanna (5 anos) e Luiza (1 ano e 8 meses), Pikachu revelou seu lado paizão, repassou sua trajetória no Rio, e disse que o time pode, sim, fazer frente ao Flamengo, elogiou Abel Braga e a ideia de praticar um futebol mais ofensivo, mostrou esperança em Germán Cano e escolheu os gols mais marcantes da carreira.
Você vai começar a quinta temporada no Vasco. Imaginava isso quando chegou em 2016? Tanto tempo lhe deu representatividade no clube e na torcida...
É raro isso na vida de um jogador, até complicado. Sinceramente, não imaginava isso quando cheguei aqui em 2016. Assinei, na época, por três anos e a ideia era cumprir, como aconteceu. No meio de 2018, teve a renovação até 2021. Estou muito feliz e orgulhoso dessa trajetória com muitos jogos e muitos gols.
Hoje, sim, tenho noção dessa representatividade. Se for falar nos anos anteriores, não tinha. Quando cheguei, o grupo tinha vários jogadores experientes e campeões. Do ano passado para cá, o grupo perdeu muitos atletas, então, sim, sei que sou referência ao lado de outros, como o Castan e Fernando Miguel. Tem muita gente nova, muita gente da base, então, eu posso ajudar, dar conselhos. Isso é uma coisa que antes eu não imaginava, mas com o tempo se vai amadurecendo.
A relação com a torcida, porém, foi igual desde o começo, não?
Foi bom desde o começo. Cheguei aqui com uma expectativa muito boa após ter feito um 2015 com 20 gols no Paysandu. A torcida adorou. Porém, a adaptação foi difícil. Eu não cheguei para jogar, mas para buscar o meu espaço. O grupo, na época, estava fechado. Aos poucos, fui crescendo com muito trabalho. O primeiro gol demorou a sair, mas surgiu no meio da Série B. Fui crescendo a partir dali. E hoje estou indo para a quinta temporada.
O torcedor deseja que eu fique o máximo do tempo possível. Eles pedem para representar bem dentro de campo. Hoje em dia é difícil um atleta ficar dois ou três anos no mesmo clube. Então, tenho essa identificação na rua. E não é só o torcedor do Vasco. O dos rivais mostram admiração, então, acho que isso mostra que o trabalho e a entrega em campo traz reconhecimento.
Um mudança é o comando técnico do time. Após a saída de Vanderlei Luxemburgo, Abel Braga assumiu. O que vai mudar?
Neste começo, o físico tem sido muito forte. É normal, pré-temporada tem de ser assim mesmo. Os treinos com bola dele são muito intensos. O torcedor verá na estreia que o nosso time terá a bola no pé, vai ditar o ritmo do jogo e vai pressionar lá em cima. Vamos jogar no ataque mesmo. Claro que, em alguns momentos da partida, vamos recuar para dar uma respirada. Agora, pelo o que eu vejo dos treinos, vamos ficar mais com a posse de bola. No ano passado, o nosso estilo era ficar esperando um pouco atrás e sair no contragolpe. Era a característica dos jogadores. Essa é a diferença que eu vejo no momento.
A sua posição muda: Abel deixou claro que será lateral ou tem chance de atuar como meia?
Claro não deixou, mas eu acredito que vou permanecer como lateral. É onde me sinto bem, joguei assim durante toda a minha carreira. Se for para ajudar o time, posso atuar no meio sem problemas. Em 2017 e 2018 foi assim. Vou estar à disposição sempre. Vou continuar trabalhando para diminuir a chance de erro e ir bem em toda a temporada.
Como lateral, entretanto, fica mais longo do gol adversário...
Sim, fico mais longe do gol. Mas me sinto à vontade para tentar ser um elemento surpresa. É tentar aproveitar o espaço entre volantes e zagueiro para fazer o gol. Na frente, é mais fácil ser marcado. Então, realmente, chego menos no gol, mas posso surpreender. Nunca foi meu objetivo ser artilheiro da equipe até porque agora temos o Cano. Há ainda o Talles Magno e o Marrony.
Mesmo sem objetivo, nos dois últimos anos, foi artilheiro do time.
A tática de não querer ser artilheiro deu certo. Sem pressão, consegui ser. Fui em 2018 e 2019. No primeiro, era ponta e depois, com Vanderlei, como lateral. Aí, fiz mais gols de bola parada. São números importantes. Vou trabalhar para isso, mas sem aquela responsabilidade para tal.
E quais foram os mais importantes para você?
Vou colocar um pelo Vasco e um pelo Paysandu, por tudo que o clube fez por mim. O meu primeiro gol como profissional foi muito importante porque foi o início de tudo (derrota para o Água Santa, pelo Paraense de 2012, por 2 a 1). E meu gol na Libertadores de 2018 com o Vasco contra o Jorge Wilstermann, em São Januário, porque era um objetivo jogar essa competição. Foi um gol bonito, cruzado. Coloco esses dois gols entre os mais importantes.
Lembranças de cada ano.
2016: coloco dois momentos bons. O título carioca e o acesso à Série A. Em 2017, a vaga na Libertadores. O 2018 foi a própria Libertadores. Há muito tempo o Vasco não participava. Foi um dos meus melhores anos no clube, tive participação muito efetiva. No ano passado, a vaga na Sul-Americana não era o que queríamos. Mas quando o Vanderlei chegou, muita gente falava de rebaixamento, conseguimos uma arrancada muito boa no campeonato, brigamos por uma vaga na Libertadores e nos classificamos para a Sul-Americana.
Espero que 2020 possa ser um ano de conquistas. Qualquer título é importante, tem a Sul-Americana, que acredito que possa ser o principal objetivo no ano. É um campeonato de mata-mata. Acredito que nesse tipo de campeonato, especialmente nos jogos em São Januário, possamos fazer a diferença. Quem sabe a gente não consiga esse título da Sul-Americana e volte à Libertadores novamente?
A relação com a torcida ao fim do ano motiva mais?
Foi uma motivação a mais. A campanha do sócio-torcedor foi fantástica. O clube conseguiu mais de 100 mil sócios em poucos dias. O Abel, quando chegou, disse que ficou impressionado com isso. O torcedor abraçou a causa e espero que continue e esteja ao nosso lado. O torcedor merece, por tudo o que está fazendo, uma conquista de Sul-Americana, uma Copa do Brasil. Seria uma forma de retribuirmos por tudo isso que o torcedor vem fazendo.
É possível bater o Flamengo, um rival histórico e campeão brasileiro e da Libertadores em 2019, logo agora no Carioca e nas demais competições?
Mostramos no jogo do Brasileiro do ano passado (4 a 4), que podemos jogar de igual para igual com qualquer adversário. É claro que cada jogo é um jogo, cada ano é um ano. Muitos jogadores que estavam conosco saíram, mas aquele jogo ficou marcado para todos nós. Acho que foi o melhor jogo do Brasileiro e temos aquilo como parâmetro.
É claro que o Flamengo conquistou tudo o que conquistou por méritos. E temos que fazer por merecer, trabalhar muito desde o Carioca, temos uma Copa do Brasil batendo na porta, a Sul-Americana começa em fevereiro. Temos que entrar fortes em todas competições. Temos muito a crescer, temos que nos adaptar rápido ao novo treinador (Abel) e dar 100%.
O argentino Cano é a única contratação e, pelo o que mostrou na Colômbia, onde marcou 41 gols no ano passado, dá esperança ao torcedor. Como ele é nos treinos?
O cara tem números impressionantes nos últimos dois anos. Foi artilheiro na Colômbia. É claro que o início é um pouco complicado para todos que trocam de país, cultura diferente. Estamos tentando entrosá-lo o mais rápido o possível com o grupo, procurando conhecer as características dele, a movimentação em campo. É um cara que vai nos ajudar bastante e temos total confiança nele. Que ele possa ser o artilheiro, junto com Marrony e com Talles. Os números mostram que ele é artilheiro. Eu, como lateral, tenho que fazer com que a bola chegue na frente para ele com qualidade para que ele balance a rede para nós.
Como superar as dificuldades financeiras que faz o clube atrasar salários?
Acreditamos na diretoria e no presidente. A partir do momento que ele nos deu a palavra, temos que acreditar. Sabemos que não é fácil, hoje poucos clubes honram com seus compromissos em dia, vivemos uma situação bem complicada. Mas a partir do momento que entramos em campo para treinar, esquecemos os problemas. Temos que fazer nosso papel em campo e tenho certeza que a diretoria está correndo atrás. Temos que acreditar, porque estamos no mesmo barco. Não podemos duvidar, porque será ruim para todos. Esperamos que esse ano seja diferente e que, dentro de campo, possamos fazer nosso papel e a diretoria faça a parte dela.
Estamos falando aqui e dá para perceber que você é um paizão mesmo.
Tenho amigos que em um ano jogam em dois clubes. Isso fica complicado para a família, com deslocamento e estudo. Quando se cria uma amizade, tem de mudar de cidade. E aí começa tudo de novo. Consegui me estabilizar aqui com a minha família. Isso é bom para as filhas na escola. Conseguimos fazer boas amizades, então, isso é importante. Somos só nós aqui. A família fica em Belém, o pessoal vem duas vezes por ano.
As minhas filhas olham as fotos de quando eu jogava no Paysandu e algumas camisas. A menor só fala em Vasco. A maior é mais esperta, entende melhor as coisas. Já contei algumas histórias de quando ela com dois meses entrou comigo no estádio. Ela entende isso. As duas torcem muito. A menor quando vê qualquer jogo na televisão acha que sou eu que estou jogando. Fala Pikachu, até porque tenho boneco no carro. Com o tempo, ela vai entender tudo. Tenho a tatuagem também. A mais velha ouve sobre futebol na escola e associa tudo também.