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Em entrevista, PC Gusmão fala sobre sua carreira e trabalho no Vasco

Rio de Janeiro - Só há um invicto no Campeonato Brasileiro deste ano. É PC Gusmão, treinador do Vasco. Ele é o único personagem deste campeonato que ainda não sabe o que é perder. Foram sete jogos pelo Ceará, antes da Copa do Mundo, e outras seis partidas com o time carioca após o Mundial da África do Sul. Sua campanha soma oito vitórias (cinco pelo time de Fortaleza e três pelo Vasco) e cinco empates (dois no Ceará e três no clube de São Januário).

A Agência Estado conversou com o treinador para saber qual o segredo de seu trabalho para passar mais de um terço do campeonato sem perder. PC Gusmão apontou o \"coração vascaíno\" pela opção de ter deixado o então líder do Brasileirão para assumir um time em crise. Fez questão ainda de mandar uma palavra de conforto ao amigo Vanderlei Luxemburgo, que atravessa péssimo momento em Minas.

Agência Estado - Qual o segredo para não perder jogos?

PC Gusmão - É uma mistura de trabalho e sorte, mas, acima de tudo, de comprometimento de dois grupos que acreditam na voz do treinador. É muito mais pelo empenho dos jogadores do que qualquer outra situação. Acho que tanto os atletas do Ceará como agora também do Vasco estão assimilando minha forma de trabalho. E ela deu resultado no Ceará e tem dado também no Vasco.

AE - Mas de que tipo de trabalho você fala? Qual é essa forma?

PC Gusmão - Eu tenho palavras-chaves das quais não abro mão: disciplina, determinação, trabalho e, acima de tudo, respeito. Deles (jogadores) comigo e de mim com eles. Independentemente de a gente se gostar ou não, em um ambiente de trabalho é fundamental que todo mundo se respeite. Eles sabem que eu tenho de tirar o melhor deles para que todo mundo consiga o resultado. Essa é uma situação que vem se encaixando coincidentemente nesses dois clubes que eu trabalhei neste Brasileirão.

AE - A marca do Ceará no campeonato é a defesa forte, a menos vazada da disputa, e agora no Vasco o time não está sofrendo tantos gols também. É esse o segredo dos seus times?

PC Gusmão - O segredo do sucesso de qualquer equipe é ter uma defesa sólida. Porque geralmente o time campeão é o dono da melhor defesa do campeonato e não o que tem os artilheiros da disputa. Eu tenho como metodologia primeiro ajeitar os problemas da zaga para depois resolver os problemas do ataque. Até no ataque a gente tem jogadores de qualidade que sabemos que vão resolver. E na defesa precisamos sempre se adequar para não sobrecarregar ninguém.

AE - O que te levou a deixar o Ceará, que era um dos líderes do campeonato, para acertar com o Vasco, que estava na zona de rebaixamento?

PC Gusmão - O coração vascaíno pesou. Além disso, já estava passando da hora de eu voltar para minha cidade, para ficar mais perto das minhas filhas (Paula, de 22 anos, e Beatriz, de 17).

AE - Você não se sentiu mal por ter deixado um time que estava dando certo por um outro que não parecia ter jeito?

PC Gusmão - O que eu tinha para oferecer ao Ceará eu fiz com sucesso. Fizemos uma campanha impressionante na Série B do ano passado, saindo da lanterna até conseguir uma das vagas para a Série A, e depois de 18 anos. E todos reconhecem isso no clube. Me agradeceram muito por eu ter ajudado o Ceará a estar na elite do futebol. A torcida sempre me apoiou. Ela sabe que tudo que fiz mudou a história do clube. Eles me respeitam muito por causa disso. Nunca vou esquecer a festa que fizeram depois que chegamos a Fortaleza com o acesso garantido. Eu ainda deixei o time na liderança ao lado do Corinthians.

AE - Por que você acredita que desde sua saída, o Ceará não venceu mais?

PC Gusmão - O Ceará está montado, está pronto. Os jogos que ele perdeu são jogos em que a derrota não é nada de outro mundo. Perdeu para o Inter e para o São Paulo fora de casa. O que é natural. Empatou com Corinthians, Palmeiras e Atlético Goianiense em casa, o que também não tem nada de anormal. Empatou com o Guarani também fora de casa. Eles estão no caminho certo. O que deixei lá foi um grupo de jogadores fantásticos e, além de jogadores, amigos também. Além disso, tem a torcida que sempre esteve perto da gente e por quem tenho enorme carinho.

AE - Você encara essa chance no Vasco como a oportunidade derradeira de você ser mais respeitado entre os principais técnicos do Brasil? Entrar para o grupo de elite?
PC Gusmão - Não, até porque o respeito eu já conquistei e quem conhece o meu trabalho me respeita. Estar em um grande clube é uma oportunidade de conseguir trabalho com um grupo que assimila o que você quer, como a gente está fazendo. E eu não tenho vaidade de dizer que vou ficar esperando só grandes clubes para trabalhar. Eu não tenho isso. A partir do momento que tenho uma oportunidade em um time que te oferece uma estrutura básica de trabalho e um grupo bom para você comandar, isso é suficiente. Eu fui técnico do Flamengo e da Cabofriense. Trabalhei no Cruzeiro e no Itumbiara de Goiás. Nunca tive vaidade.

AE - Esse é o melhor momento da sua carreira?

PC Gusmão - Não também. No ano passado, tive um momento muito proveitoso no Ceará, já fui campeão goiano com um time pequeno que ninguém conhecia, o Itumbiara. Mas o trabalho que marca é sempre o do momento. O que ficou para trás ficou para trás.

AE - Quem é o técnico que te serve como referência?

PC Gusmão - O Luxemburgo.

AE - O que acha desse momento ruim que ele passa no Atlético Mineiro?

PC Gusmão - Momento bom e momento ruim a gente sempre tem na vida. Mas como o momento ruim dele está agora, mais na frente com certeza ele vai ter um momento melhor. O importante é ter equilíbrio. Nem se empolgar muito na hora boa nem se desesperar quando está tudo dando errado. É saber equilibrar e consertar as coisas.

Fonte: Agência Estado