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Em entrevista, Kleber fala sobre o time atual do Vasco

Como um Gladiador, Kleber não aceita perder. Ao falar do futebol brasileiro, ele explica um pouco do seu temperamento. O atacante, visado por adversários, árbitros e tribunal - já foi punido duas vezes pelo STJD -, recorreu a uma comparação com o ídolo do Vasco, Edmundo, lembrando que sofre muito com uma derrota.

- No Palmeiras falam que ele era maluco, de querer ganhar, treinar. Era um cavalo. Com 34 anos puxava fila. Ficava 'cego' de querer ganhar, perdia um pouco da noção, da razão, e acho que é muito parecido comigo em relação a isso - analisa Kleber, de 31 anos.

Em entrevista exclusiva ao EXTRA, ele fala sobre as chances de o Vasco se classificar na Série B, a troca de treinadores e de sua possível permanência depois das eleições de novembro. Ex-Cruzeiro, Palmeiras e Grêmio, o centroavante faz críticas a arbitragem do futebol brasileiro como um todo, e assina embaixo sobre a atitude de Emerson Sheik, que com a frase "CBF, você é uma vergonha" foi julgado pelo STJD.

- Não tem que ser punido coisa nenhuma. A gente tem que dar nossa opinião. Realmente é lamentável algumas situações que acontecem. A gente vê a cada ano parece pior que o outro em relação a algumas coisas. A CBF poderia mudar e a gente não vê mudança", disparou.

CONFIRA A ENTREVISTA

JOGO EXTRA: COMO ESTÁ SENDO A SUA PRIMEIRA SÉRIE B?

Acho que é mais difícil do que eu esperava. Esperava times um pouco mais fracos. Série B são times difíceis, lugares difíceis, campos ruins, muito quente.

VOCÊ TEVE VÁRIAS LESÕES E NÃO SE REENCONTROU NO GRÊMIO. POR QUE VEIO PARA O VASCO?

Para mim é um ano importante por causa das lesões. Foram dois anos de Grêmio e três cirurgias, com quatro meses de recuperação cada. Doze meses sem jogar em dois anos. Tendo que toda vez fazer duas pré-temporadas por ano. Esse ano foi isso por causa da Copa. Foi uma no começo do ano, uma quando voltei de lesão e outra por causa da Copa. Foram dois anos difíceis no Grêmio, não consegui jogar o que vinha jogando antes. Teve uma cirurgia que fiz que fiquei quatro meses parado, ia voltar a jogar e fraturei a costela treinando, fiquei dez dias parado. Me recuperei da cirurgia, fizeram um jogo treino para eu pegar ritmo, e fraturei. Isso foi quinta ia para o jogo no domingo. Foram os dois anos mais complicados da minha carreira. Resolvi sair por isso também. Aqui não está sendo pra mim. Tive propostas de alguns times da Série A, e quis jogar no Vasco pelas pessoas que conheço, Rodrigo, Fabricio, Douglas, Diego Renan, Pedro Ken, Edmílson, e o Adílson que foi o principal. Vasco é time grande, tenho certeza absoluta de que vai subir, pela grandeza, pelos jogadores. Foram esses os motivos que fizeram eu jogar no Vasco. Conversei com Edmundo, com outras pessoas que me falaram bem, Rodrigo Caetano, outros jogadores que passaram por aqui.

QUAL A GRANDE VIRTUDE DESSE GRUPO EXPERIENTE?

É o perfil dos jogadores. Por mais que já tenham jogado em time grande, são jogadores que gostam de trabalhar. Fabricio é um cavalo, Guiñazu, Rodrigo, são jogadores sérios, que não são marrentos. Se o Vasco tivesse esse time ano passado não cairia. Os resultados não vão acontecendo e as pessoas pensam: "Os caras estão loucos". Eu sei que não cairia por causa dos jogadores.

E SE O VASCO SUBIR VOCE FICA?

Tenho vontade de ficar. Mas depende do que vai acontecer ano que vem. Não sabemos como vai acontecer as coisas. A maioria dos jogadoress acaba no fim do ano. Talvez o ano que vem seja totralmente diferente. Difícil planejar. Ano que vem não sei se serão os mesmos jogadores. vamos ver.

SÃO QUATRO GOLS SEUS APENAS NA COMPETIÇÃO. É POUCO? NÃO SAI MUITO DA ÁREA?

Meu modo de entender o jogo é diferente em relação a gols. O gol do Douglas contra o Bragantino foi uma troca. Eu fazendo a jogada dele e ele a minha. Tem que ser assim. Não importa quem vai fazer o gol. O futebol moderno é troca de posições, movimentação. Se ficar parado, estático, lá na frente, teoricamente vai fazer mais gol, se for sobrar vai ser para você. Mas muitas das vezes a bola não vai chegar. E quando não chegar não tem ninguém para abrir espaço. Eu estava fazendo a jogada, Douglas percebeu e entrou na área. Assim que tem saído os gols. Não tem que ter vaidade. Até por causa da situação. Não só do Vasco. Da gente. A gente quer ajudar. Tem o clube primeiro. Tem que subir. E vai subir.

ESSE CAMISA NOVE CLÁSSICO PARA VOCÊ ACABOU, ENTÃO?

Não me considero centroavante, nunca me considerei. Não sei se vai acabar. Mas o time que tem um centroavante de área é muito refém dele. Tem que jogar para ele. E eu discordo disso. O centroavante tem que jogar para o time. Ele vai ser o artilheiro. Mas é mais difícil o time ser campeão.

O BRASIL NA COPA NÃO JOGOU PARA O FRED?

O Brasil não vai jogar para o Fred. O Fluminense pode jogar. As grandes equipe do mundo nao jogam para o centoavante. O Benzema toda hora está fazendo jogada, tem habilidade, sai da área, dribla. O Barcelona não tem. O Bayer tem um que sai da área para os lados. É difícil. Vai ter mais dificuldade de ganhar competições. O próprio Cruzeiro..., se ficar parado está mais fácil de marcar. O futebol está muita correria, muito físico.

VOLTARIA PARA O GRÊMIO?

Tenho mais dois anos de contrato. Não sei. Foram dois anos difíceis para mim. Minha esposa reclama do frio. Meu filho vivia doente. Aqui é diferente. É difícil. É um grande clube, tem pessoas maravilhosas. foi o time que mais fiz amizade com funcionários e jogadores, de levar para a vida. É um dos clubes onde as pessoas são parceiras, gente boa, gostei muito. Mas foi muito difícil em relação a futebol, jogar.

OS TREINADORES ATRAPALHARAM? VOCÊ TEVE PROBLEMA COM O LUXEMBURGO?

Não dá nem para falar sobre isso. Eu voltava, tinha que recuperar lugar. A única vez que eu joguei foi quando eu cheguei. Foi a melhor fase. Treze jogos e 11 gols. Tive a primeira cirurgia. Depois disso só lesões. Não dá para falar .O Enderson foi o último e quando voltei de cirurgia nem trabalhei com ele. Caio Júnior a mesma coisa. Começou e saiu. Mas não tive problema com ninguém.

COM O FELIPÃO NO PALMEIRAS HOUVE DISCUSSÕES. FICOU RESOLVIDO?

Foi muito difícil trabalhar no Palmeiras naquele ano. A diretoria teve muito problema, acabou caindo depois que eu saí. Meu problema maior não foi com o Felipão, foi com a diretoria do Palmeiras. Não deixou saudades. Pelo contrário. Levou o time para segunda divisão. Foi difícil em relação à diretoria. Teve uma situação com o Flamengo para eu poder sair. O ambiente ficou ruim, acabei saindo depois.

QUERIA IR PARA O FLAMENGO?

O Palmeiras ia vender, pediram mais, depois não quiseram vender. A proposta para mim era melhor, no Palmeiras o salário não chegava perto do que seria o Flamengo, eu ia ter um momento legal, não quiseram dar reajuste. Enfim...

TEVE O JOGO DO FAIR PLAY...

Não teve nada a ver que era o Flamengo. Eu achava que a bola era do Palmeiras. Poderia fazer com qualquer outro time. Eu entendi daquela forma. Acabou gerando todos os problemas.

JÁ IMAGINOU UM CLÁSSICO CONTRA O FLAMENGO, QUE VOCÊ AINDA NÃO JOGOU?

Contra o Flamengo seria legal por ser o clássico da cidade. Deve ser legal jogar pelo Vasco na primeira divisão, contra Corinthians, Cruzeiro... Infelizmente estamos na Série B. Mas ano que vem...

A IMPRESSÃO SOBRE OS CLUBES CARIOCAS FOI BOA?

Eu já esperava o que fosse ver. Muita gente fala bem, algumas falam mal. Normal de qualquer clube. Em relação a estrutura é o que sempre me falaram, dificuldade financeira tem mesmo, infelizmente. Agora, o ambiente é muito bom. Não esperava que fosse tão bom, até pelas dificuldades.

O EMERSON SHEIK, DO BOTAFOGO, FALOU PARA AS CÂMERAS AQUELAS COISAS...

Da CBF? Normal, opinião dele. Jogador tem que falar mesmo. Ele está certo. Não tem que ser punido coisa nenhuma. A gente tem que dar nossa opinião. Realmente é lamentável algumas situações que acontecem. A gente vê a cada ano parece pior que o outro em relação a algumas coisas. A CBF poderia mudar e a gente não vê mudança. Ele é um cara que sempre falou o que pensa, deu opinião forte. Entendo e vejo da mesma forma que ele. A minha opinião é muito parecida com a dele. Não discordo. Acho que ele está certo.

A ARBITRAGEM NA SÉRIE B E NA SÉRIE A É DO MESMO NÍVEL?

Muito igual. Os jogadores também ajudam a ficar ruim. Todo mundo tem uma culpa. Teve um lance, aquelas faltas que você fica com raiva. Sabe que vai ser encostado e ele já cai, com a mão em cima da bola, o juiz dá falta. Esses tipos de falta o juiz é que tem que mudar. Você nunca vai ver isso lá fora. Os jogadores vivem reclamando. Mas vai reclamar, é um lance que tem que acabar, para muito o jogo. O jogo no Brasil é muito chato. Lá fora a bola não para. Esse tipo de falta tem que acabar, e outros lances também, outras coisas que acontecem. Senão realmente O Brasil vai ficar muito chato de jogar futebol. Muita discussão, muita coisinha. Qualquer coisinha você é punido. Aí vai para o STJD. Julgam lá e fica três jogos fora. O juiz não viu a falta e os caras julgam lá. Tem que punir sim a agressão, a coisa seria, mas o juiz não viu ali não tem porque ir lá julgar e ficar três jogos fora. O próprio time não sabe se vai contar com o cara. O jogador não sabe se vai para o jogo, se vai concentrar. Isso acaba prejudic
ando.

E SUA RELAÇÃO COM O JOEL, COMO ESTÁ?

É um cara muito alegre, brincalhão, deixa o ambiente leve. A gente nunca teve ambiente pesado entre os jogadores. Para o torcedor e no clube que ficou um pouco. Ele é diferente do Adilson. Joel brinca toda hora, fala coisas engraçadas para quebrar o clima. O ambiente sempre foi muito bom. As pessoas reclamavam do estilo. O jogo contra a Portuguesa foi a mesma formação do Adílson, que teve a melhor sequência de vitórias no ano, antes do jogo com o Ceará. Foi o mesmo time. Por mais que mexa, voltou ao mesmo esquema.

ACHA QUE O ADILSON NÃO DEVERIA SAIR?

Difícil falar. O ambiente estava pesado para ele. Entrava no estádio e tomava vaia. Eu achava que não tinha necessidade. Porque vai interferir no trabalho dele e no nosso. Em relação à vinda do Joel, para a torcida isso não acontece, ele entra, o ambiente fica mais leve. Mas o time é o mesmo. Ele que montou. A gente está indo aí. Por mais que mexa, vai ser mais ou menos isso aí até o final. Esse time que vai acabar jogando. A gente não gostaria que ele tivesse saído, a maioria dos jogadores e para a comissão era unanimidade. O erro estava em nós, e continua em nós. Se não ganhar não é o Joel, somos nós, que não vamos fazer o que tem que ser feito.

A SUA OPINIÃO SOBRE TORCIDA ORGANIZADA FAZER PROTESTO QUAL É?

No Vasco e no Palmeiras as torcidas estão sofrendo há muito tempo, é difícil falar. No Corinthians é absurdo, ganhou tudo, até par ou ímpar. Com uma desclassificação ir fazer o que fez, é exagero. Violência nunca tem que ter. Mas a cobrança em time grande, a pressão é grande, a torcida vendo ano após ano, dois rebaixamentos, Vasco e Palmeiras, que também pode ir para o terceiro, é complicado. Mas violência não tem que existir.

VERDADE QUE VOCÊ ENCAROU TORCEDORES NO SUL?

Teve uma discussão numa saída em Porto Alegre que acabei batendo boca. Imagina se eu for no Extra te xingar, te agredir. Quer cobrar vai no estádio, vai falar. Mas eu saindo do restaurante com minha filha, meu pai, não vai. Vai ter que ouvir. Posso discordar, mas não vou te xingar na frente da sua filha. Eu não faço isso. Se fizer vai ter o problema que realmente teve.

VOCÊ CITOU O EDMUNDO. O JOEL JÁ FALOU QUE VOCÊ É INVOCADO. VOCÊ CONTINUA O MESMO DE SEMPRE?

Eu já fui um pouco Edmundo. Hoje não vejo assim. Ele mais velho era diferente também. É um cara que tem opinião forte, fala o que pensa. Em campo era parecido. Já ouvi falar. Não tive a felicidade de jogar junto. Joguei contra. Ele no Vasco e eu no Palmeiras. No Palmeiras falam que ele era maluco, de querer ganhar, treinar. Era um cavalo. Com 34 anos puxava fila. Ficava cego de querer ganhar, perdia um pouco da noção, da razão, e acho que é muito parecido comigo em relação a isso. Teve um dia que o Joel me chamou de zangado dos sete anões. A gente empatou com o Bragantino, nem joguei, e vim para o treino 'cego'. Pô, já foram cinco chances de ser líder. Eu sofro muito com empate, com derrota, ainda mais em casa. Eu chego e o Joel fez essa brincadeira, todo mundo riu. Eu não ri. Tava muito puto com o resultado. Eu pensei, "o cara brincando e a gente empatou". Mas é o jeito dele. Ele falou que quando a gente perde não pode sofrer demais, e é verdade, e quando ganha não pode comemorar demais. Vai sempre ter um jogo importante. Não sofrer nem ficar feliz demais. E eu sofro demais. Eu vou para casa, nem adianta falar comigo, durmo cinco da manhã, é difícil aceitar. Fui casar dois dias depois de perder a Libertadores. Parecia o pior casamento da história. Tava um clima horroroso. Minha esposa até hoje fala.

E A FAMÍLIA, OS FILHOS, NÃO TE DEIXARAM MAIS TRANQUILO? (Kleber tem quatro filhos. Maria Fernanda, 13, Julia, 9, Giovanna 4, e Gabriel, 9 meses).

Agora acabou (risos). O lado bom da Série B é estar sempre domingo em casa para curtir os filhos. Na Série A é difícil ter fim de semana livre. Mas não quero jogar a Série B nunca mais.

E ESSA COISA DE GLADIADOR, GOSTA?

Um cara de uma rádio começou a apelidar, acabou pegando. Nunca me achei, nunca fiz questão ...

Fonte: Extra Online