Futebol

Edmundo "quer curtir a vida" após encerrar carreira

Aos 37 anos, Edmundo é um "animal ferido". Suas maiores dores são o clube e as críticas, que o atacante não agüenta mais. "Só falarão bem de mim quando eu morrer", disse. Seu último esforço será tentar livrar o Vasco do rebaixamento neste Campeonato Brasileiro.

As lágrimas do jogador após a derrota por 3 a 1 para o Cruzeiro, na última quinta-feira, quando ele terminou o jogo como goleiro, viraram desabafo na segunda, após o treino na Granja Comary, em Teresópolis.

O atacante demonstrava tranqüilidade, mas sofria com uma alergia que o fez voltar ao Rio. Ele não agüenta mais as críticas. Seu último esforço no futebol será feito para salvar o time do rebaixamento. Em dezembro, ele pára: vai curtir a vida, sem concentração, jogos e, principalmente, sofrimento.

"Sou e sempre serei apaixonado pelo Vasco. Quero ajudar o clube a seguir seu caminho na Primeira Divisão. No fim do ano, com certeza paro de jogar, mesmo sem estar preparado para isso. Quero ficar com a minha família, viajar com os meus filhos. Conto os minutos para isso acabar, pois não suporto mais. Vou seguir meu caminho: quero curtir a vida", destacou.

E o ídolo vascaíno ilustra seu exemplo. "Meu filho vai fazer aniversário no próximo dia 21 ele me ligou perguntando se a festa vai ser sábado ou domingo. Respondi que não poderia ser em nenhum dos dias porque eu não vou poder estar lá (dia 21, domingo, o Palmeiras recebe o Vasco em São Paulo)", completou.

O jogador demonstra abatimento pelas cobranças que sofre constantemente. "No Brasil, os ídolos do futebol não são respeitados. Alguns fazem besteira em outras modalidades, são pegos no doping, merecem respeito e ficam como ícones. Para mim, isso é pior do que acidente de carro. Falam muito sobre o acidente que eu tive, mas não foram a fundo para saber que é algo que já prescreveu e passou. Sou lembrado muito por coisas que fiz 15 anos atrás. Isso é chato", definiu.

As desilusões fazem com que Edmundo fale em arrependimento pela profissão escolhida. "Comecei para comprar uma casa para a minha mãe. Comprei a casa e uma porção de problemas. Se hoje tivesse 17, 18 anos, não seria jogador de futebol. Estudaria para ser outra coisa", explicou.

"Sou muito crucificado, mas tenho amigos, minha família. Estou marcado como um cara mau, que faz besteira o tempo todo. Muita gente nem se preocupa em verificar uma notícia. Às vezes penso se só fiz coisas erradas na carreira. Eu erro, sim, mas também fiz algumas coisas boas na vida. Só falarão bem de mim quando eu morrer", completou.

Experiente, o jogador acredita que sofre complô. "Tudo é vigiado. Em 2004, quando estava no Fluminense, joguei uma pelada na minha casa. Dezesseis pessoas e mais quatro estavam do lado de fora. Num lance, bati com o braço na grade e tive uma luxação. Eu morava ao lado da clínica São Bernardo (Barra da Tijuca) e, antes mesmo de chegar para ser atendido, alguém da pelada já tinha avisado à imprensa. Isso é complicado", apontou.

Fonte: Terra