Futebol

Edmundo: "Ninguém acredita no Vasco"

Falta pouco para Edmundo estrear pelo Vasco. O atacante garante estar 100% fisicamente para entrar em campo neste domingo, às 16h, e enfrentar o Flamengo, pela semifinal da Taça Guanabara. Aos 36 anos, o Animal mostra-se mais maduro, calmo e pronto para ajudar o Vasco a acabar com a incômoda sina de perder jogos decisivos para o Flamengo na última década.

Nesta sexta-feira, após o treino secreto comandado por Alfredo Sampaio em São Januário, Edmundo conversou por quase uma hora com os jornalistas. Falou sobre a estréia e como se sente para o jogo. Demonstrou apoio a Romário, revelou até ter ficado na torcida pelo Flamengo na Libertadores no ano passado. Disse que no futuro pensa ser empresário. E, principalmente, que confia no sucesso do Vasco.

Reestréia contra o Flamengo

"Não é um jogo qualquer. Tem uma rivalidade muito grande. Mexe com a cidade inteira. O meu retrospecto contra o Flamengo não vale nada. A realidade é diferente. É um outro jogo. Como o Flamengo já ganhou algumas vezes, o Vasco ganhou outras tantas. Não é a minha entrada que vai fazer o time do Vasco ficar maravilhoso e dar espetáculo do dia para a noite. O Vasco pode sim fazer bom jogos e outros nem tanto. Mas o importante é encontrar o equilíbrio. Uma estréia motiva bastante, mas é sempre muito difícil. Você vem de uma inatividade. Tive um mês de férias, fiquei mais um mês e meio treinando. São dois meses e meio parado sem jogar. Ainda tem o desentrosamento com o time. Só joguei aqui com o Morais e em um período curto. Tem a idade, o calor... Mas no domingo tem a torcida, o Maracanã... E isso faz uma diferença. Alguns vão encarar com uma pelada, outros como um jogo normal e outros como uma Copa do Mundo. Estou neste último grupo. A gente sabe que o Joel joga fechado, sai no contra-ataque. E contar com um pouco da sorte também. Esses grandes clássicos são decididos em detalhes."

Esperança da torcida

"Não sei se estou contagiando à torcida. Talvez contagiar não é a palavra mais adequada. Tenho visto no dia a dia os jogadores jovens com muita vontade, querendo crescer no futebol e dar alegrias aos torcedores do Vasco. A realidade do futebol brasileiro hoje é essa. Os clubes colocam nos profissionais jogadores muito jovens. Você queima etapas. E o Vasco está em uma transição. Estou tentando mostrar a eles a realidade. Com calma, para ninguém ficar muito assustado. Mas o jogo pode ser um divisor de águas na carreira de muitos jogadores aqui."

Reencontrar a torcida do Flamengo

"Agora reencontrar a torcida do Flamengo eu encontro todos os dias. E eles não são nada simpáticos (risos). Essas coisas que mexem para a cidade, com os amigos. Os meus que torcem pelo Flamengo nestes dias ficam me chamando para sair à noite, ir comer fora. São táticas, nê? Mas estou concentrado 100% para fazer o melhor. Mas respeito bastante a instituição do Flamengo. Até torço pelo Flamengo. Ano passado na Libertadores era melhor para o Palmeiras que o Flamengo ganhasse o título do que o São Paulo. Era muro com muro. E se o São Paulo está lá em cima para o Palmeiras era pior. Infelizmente ou felizmente existe a rivalidade. Um acaba crescendo ou não em cima do outro. Isso é saudável se os torcedores não forem ao Maracanã para brigar. Que seja assim no domingo. Que após o jogo os torcedores deixem o estádio em paz."

Vontade de vencer

"Temos que viver o hoje e a oportunidade é essa. É entrar e procurar dar o máximo. Demorei um pouco para perceber isso. Mas são 90 minutos de esforço para se ter 100 horas de alegria. Se você ganha um jogo no domingo vai ter tranqüilidade até o próximo domingo. Futebol hoje é 90% de transpiração e 10% de inteligência. Sei o que posso fazer. Vou estar 100% fisicamente. Vou correr para caramba. Tenho confiança senão não voltaria neste jogo."

Responsabilidade de ser o craque do time

"Responsabilidade eu sempre tive bastante. Sempre pequei por ação, não por omissão. Responsabilidade é algo positivo. Que só é dado para quem pode assumir. Não vivo muito de passado. Gosto de pensar no presente. Sozinho a gente não faz nada. Quero ajudar. Não tenho a mínima intenção de ser protagonista, de fazer os gols. A minha atenção é ajudar o Vasco a vencer. E é algo que ninguém acredita. Só a gente aqui mesmo no Vasco. A opinião pública acha que o Flamengo é a primeira força do Rio e o Vasco, a quarta. Mas a gente vai se dedicar ao máximo, correr para caramba. Vamos marcar forte, jogar com disposição."

Romário livre para jogar

"Fiquei contente por ele ser absolvido. Ficou provado que tudo foi um engano e que ele não teve a intenção. Gostaria até que o remédio que ele tomava fosse liberado porque o meu cabelo também está caindo (risos). Se ele vai voltar ao Vasco é um assunto dele com a diretoria. Ele representa muito para o clube. Tem a estátua, a camisa... Enfim, não estava aqui antes. Não sei direito o que aconteceu. Mas também não acredito que o desgaste não foi apenas pela escalação de um ou outro jogador. Vamos esperar e ver o que vai acontecer."

Alan Kardec como companheiro

"Se ele é titular do Vasco é porque tem as suas qualidades. Cada palavra que você fala ele presta atenção. E se dedica nos treinos. O importante é ele ter tranqüilidade. Ele é um bom garoto, inteligente, e temos um ano aí pela frente para conviver. Tenho mais coisas para ensinar a ele e também tenho que aprender. Já que na vida a gente aprende todos os dias."

Felicidade por voltar ao Vasco

"Estou em uma situação da vida que ou acordo feliz e venho treinar e me dedicar ou não venho. Se decidi jogar mais um ano é porque quero. Já passei todos os meus sonhos, tenho uma situação financeira tranqüila. E trabalhar agora tem que ser prazeroso. A molecada é ótima. Tem até que ser mais rebelde. Ter mais vontade mesmo. A molecada nem jogou uma partida grande ainda e já tem carro, o clube paga apartamento... Era profissional, tinha quatro convocações para a seleção brasileira e vinha treinar de ônibus. Mas tudo bem. A realidade antes era diferente. Hoje você paga em suaves prestações."

Técnico? Futuro como empresário

"Tudo o que a gente diz fica gravado e pode ser usado contra a gente amanhã (risos). Não digo nunca. Mas não tenho muita pretensão de ser treinador. É pior do que ser jogador. Tem que trabalhar todo dia, não tem folga. Como jogador podemos dar um migué. Falar que sentiu uma dorzinha aqui outra lá, forçar um terceiro amarelo, pedir para não viajar. Treinador não tem jeito. E ainda precisa aturar uns 30 malas como eu. Não faz muito o meu perfil. Acho mais fácil ser empresário. Chego lá no escritório na hora que quero, fico no ar condicionado, saio na hora que quero. Dá para ir à praia. E pelo menos finjo que estou fazendo alguma coisa. Se der certo, ótimo. Senão vou fazer outra coisa."

Fonte: ge