Futebol

Edmilson relembra dobradinha com Juninho Pernambucano no Lyon

O atual Barcelona é visto como o maior adversário que um time pode ter pela frente. Mas, se a equipe espanhola já vem há alguns anos mostrando a sua força, não se pode esquecer que foi a partir da era Ronaldinho Gaúcho que o clube passou a ser temido.

“Ele chegou no auge, conquistou tudo, mudou a história do Barça. Tudo o que o Barça é hoje pode-se dizer que uns 80% se deve ao que o Ronaldinho fez. O time vinha numa seca terrível de títulos. E ele conseguiu, dentro do seu dom, do seu talento, mudar”, afirmou o zagueiro pentacampeão em entrevista exclusiva ao band.com.br, após participar do programa \"Os Donos da Bola\".

De 2004 a 2008 na equipe catalã, Edmilson teve a chance de jogar ao lado de Messi e ganhar a Liga dos Campeões. O jogador afirma ter enfrentado muita pressão no clube já que o time espanhol vinha de um jejum de títulos.

Edmilson revelou que estuda propostas para jogar no Campeonato Brasileiro. O zagueiro está sem clube desde que saiu do Ceará no ano passado e não decidiu se continuará a carreira dentro dos gramados.

Confira a entrevista na íntegra:

Band.com.br: Como era enfrentar o Messi nos treinos?
Edmilson: Eu joguei com ele na época em que ele estava subindo para os profissionais. Já nos treinos, a gente já via que ele era um jogador diferenciado, em termos de qualidade, de arranque, de velocidade, de domínio de bola. Isso em 2004. Com o tempo, ele foi subindo cada dia mais e foi sendo relacionado. Ele fez o primeiro jogo e, em pouco tempo, passou a treinar com a gente e fez o seu primeiro gol. Mas uma das coisas que eu sempre admirei nele é que ele continua sendo a mesma pessoa. O mesmo Messi de 2004 é o mesmo Messi de janeiro, quando eu fui lá [Barcelona]. A grande diferença dele é que ele não se envolve em polêmicas, é sempre muito discreto. Isso é algo muito significativo dentro da área profissional.

Band.com.br: Você imaginava que ele seria o Messi que se tornou hoje?
Edmilson: A gente sabia que ele seria um grande jogador. Inclusive, na nossa época, a gente não tinha essa referência até porque a gente tinha o Ronaldinho, que estava em um momento impressionante. O Ronaldinho saiu e ele [Messi] começou a ter o protagonismo que o Ronaldinho tinha. Desde 2007, ele [Messi] tem seguido uma linha de jogo, de gols, de conquistas fora do normal.

Band.com.br: Quem era melhor: o Barcelona da sua época ou o atual?
Edmilson: Acho que são fases, épocas. Aquele Barcelona nosso era quase a base que tem hoje com Xavi, Iniesta, Valdés, Puyol... Até uma época, o Eto’o jogou. A diferença técnica é que o nosso time era mais direto. O Ronaldinho pegava a bola, arrancava. Hoje, o Barcelona tem essa arrancada com o Messi, mas tem também a posse de bola, que todo mundo fala que é o diferencial do Barça.

Band.com.br: Qual pressão era maior: pelo título da Liga dos Campeões ou do Campeonato Espanhol?
Edmilson: Na minha época, teve uma pressão porque o Barça só tinha ganhado uma Liga dos Campeões em 92. E a gente ganhou [Liga dos Campeões] em 2006. De 1999 a 2004, o Barça ficou sem ganhar o Campeonato Espanhol. Ganhou o Valencia, o Deportivo [La Coruña], o Real Madrid... Então, quando eu cheguei, tinha essa pressão por título porque já vinha de oito anos sem ganhar o Espanhol e muitos anos sem conquistar uma Liga dos Campeões. A sede que tínhamos era de ganhar um Espanhol ou uma Liga dos Campeões. Hoje eu diria que o maior objetivo do Barça é igualar ou até ultrapassar o Real Madrid na Liga dos Campeões. O Barça tem quatro títulos e o Real Madrid, nove. A diferença é grande ainda, mas hoje o Barça pode priorizar a Liga dos Campeões.

Band.com.br: No Lyon, você foi tricampeão francês. A equipe chegou a ser heptacampeã nacional. O que o time tinha de tão especial?
Edmilson: Os três primeiros títulos foram super difíceis porque o Lyon ainda não era o Lyon. Era um time em projeção. O presidente fez um trabalho muito bom em relação à contratação e venda. O título foi muito difícil no primeiro ano, só conseguimos na última rodada. Ganhamos do time que estava em primeiro e passamos eles. O segundo ano foi melhor porque o time estava mais ajeitado. No terceiro, a gente chegou às quartas de finais da Liga dos Campeões e tínhamos jogadores que hoje estão no Chelsea, como Essien e Malouda. O Juninho [Pernambucano] estava em uma excelente fase. O Lyon foi, ano a ano, progredindo. Só em 2004 que passamos a ter um super time. Tinha o Juninho, o Élber, o Govou, o Malouda, o Essien, o Diarra. Nos outros anos, foram super difíceis.

Band.com.br: Como foi ter jogado ao lado de Juninho Pernambucano, que é ídolo em todo o lugar que ele joga?
Edmilson: O Juninho teve um espaço no Lyon que poucos jogadores no mundo conseguiram. Ganhar sete títulos seguidos, fazer os gols decisivos que ele fez... O que faltou para o Juninho e, para mim também, foi ter levado o Lyon a um título europeu, uma Copa da Uefa ou uma Liga dos Campeões. Ele conquistou tudo. Ele tem um senso de conquista muito grande. No Vasco já era assim, no Lyon foi assim e agora, novamente Vasco, acredito que acontecerá a mesma coisa.

Band.com.br: Qual foi o melhor jogador que você enfrentou e o melhor que jogou junto?
Edmilson: Teve vários jogadores que eu enfrentei. Vou falar de um especificamente. Enfrentei o Zidane na fase áurea dele, joguei contra ele no Barça e na Seleção. Ele foi um jogador diferenciado e peguei a fase em que ele estava no auge no Real Madrid. Foi um jogador que eu tive muita dificuldade para enfrentar e sempre foi difícil jogar bem contra ele. Em relação a um jogador que eu joguei junto: o Ronaldinho. No Barça, ele foi excepcional.

Band.com.br: O que aconteceu com o Ronaldinho Gaúcho, que foi melhor do mundo em 2005 e 2006 e depois nunca mais foi o mesmo?
Edmilson: Não sei o que aconteceu. Ele chegou no auge, conquistou tudo, mudou a história do Barça. Tudo o que o Barça é hoje, uns 80% se deve ao que o Ronaldo fez. O time vinha numa seca terrível de títulos. E ele conseguiu, dentro do seu dom, do seu talento, mudar. Na vida, as coisas são escolhas. O Ronaldo decidiu partir para um outro clube, para novas experiências, que foi o Milan na época. E etapa dele no Barcelona tinha mesmo acabado. Foram seis anos e ele já estava saturado em relação às cobranças. Ele foi buscar outros ares no Milan. Infelizmente, não conseguiu manter o mesmo nível que teve no Barcelona.

Band.com.br: Você ganhou Copa do Mundo, Liga dos Campeões... Faltou algo na sua carreira?
Edmilson: Jogar mais uma Copa. Em 2006, quase participei e acabei sendo cortado. E um Campeonato Brasileiro. Em 2009, cheguei muito perto com o Palmeiras e acabei não conquistando. São as duas coisas, entre aspas, que faltaram. Mas sou muito agradecido por tudo aquilo que eu consegui.

Band.com.br: Pensa em se tornar dirigente no futuro?
Edmilson: Ainda estou pensando. Não sei se vou parar, se vou seguir. Tenho estudado algumas propostas para o Campeonato Brasileiro. Por outro lado, são propostas que não me agradam. Estou pensado bastante. Acho que, até o mês de abril, já vou ter definido o que eu vou fazer. Em relação a pós-carreira, estudar gestão do futebol e parte de treinador. Vou pensar bem porque não quero dar um tiro errado, por exemplo, ser treinador e ver que não é isso que eu quero. Então tem que ser algo bem pensado e bem direcionado.

Fonte: Band Esportes