Edmilson fala sobre artilharia, Thalles e revela quem é o seu ídolo
A briga pela artilharia do Estadual direcionou os holofotes para Edmílson, mas o baiano de Salvador não gosta de brilhar sozinho. Aos 32 anos, o atacante, que passou oito anos no Japão — onde disse que encerraria a carreira —, se incomoda com a vaidade no futebol, especialmente dos goleadores. Mas não só. Racismo, violência e falsidade fazem o jogador, normalmente tímido, sair do sério e descartar fazer carreira fora de campo no esporte.
— O futebol está muito chato. Não é mais como antes. Você vê e ouve cada coisa. Vai acumulando. Não pode ser muito verdadeiro. Prefiro falar a verdade, doa a quem doer. Jogador de futebol é muito vaidoso. Quando é bem visto acha que é mil maravilhas. — disparou Edmílson, filho de um policial militar aposentado e de uma ex-cozinheira.
Antes de fazer um duelo particular com Fred, atacante da seleção brasileira e do Fluminense, Edmílson conversou com o EXTRA sobre as novas atribuições do jogador que tem a responsabilidade de fazer o principal no futebol, os gols. O início de carreira profissional aconteceu no Palmeiras, onde fez dupla de ataque com Vagner Love na Série B de 2003.
EXTRA: No futebol em que os atacantes são cada vez mais vangloriados, em que o Cristiano Ronaldo diz “Eu estou aqui”, como é ter que fazer os gols e ainda pensar no time?
Edmílson: Atacante hoje tem que ajudar a marcar. Nao pode jogar mais parado. Jogar numa posição so. No mínimo duas. No Palmeiras eu jogava de meia. No Japao aprendi taticamente. Mudou muito o futebol. Antes era mais fazer gol. Quando a gente é novo so pensa em fazer gol mesmo. Depois os técnicos ensinam a criar espaço, a gente vai botando na cabeça. Tem que ajudar.
EXTRA: Hoje você disputa a artilharia, mas sempre fala de ajudar o clube, do grupo. É o artilheiro da humildade?
Edmílson: Futebol tem muita vaidade. Eu nunca tive esse problema. Um grupo se faz com 30 pessoas. Tem jogador que nao esta aqui hoje que me ajudou. Tenorio, Ney, Michel Alves, Sandro Silva, eles fazem parte disso. Voce escuta muitas coisas. As vezes quer apelar, falar besteira, mas tive sempre cabeça boa. Mesmo sem jogar ajudei muito, aos novos principalmente. Essa fase não me engrandeceu em nada, não me enche os olhos. Me sinto bem. Estou ajudando. Mas não pensando em mim. Individualismo é querer ser artilheiro, ganhar prêmio, mas isso não me engrandece.
EXTRA: Qual foi o maior atacante que você viu jogar?
Ronaldo é meu ídolo. Gosto do Romario, Edmundo, Henry. Quando vi o Ronaldo com 17 anos, ele brincava. Também pelas superações dele. Ídolo não é so fazer gol, é na dificuldade, em tudo. Ele é exemplo.
EXTRA: Fred tem o que que os outros não tem?
Ele é um perigo a todo momento. Se vacilar ele faz gol. Adquiri respeito. Jogou na Europa, foi campeão, disputou Copa, vai pra outra. Matador. Uma coisa é que com experiência ele se posiciona bem. Sabe o caminho. Pensa que ele está morto, mas ele já sabe como ele vai se mexer. Ele antevê o jogo. Ja desenha a jogada.
EXTRA: Hernane saiu da Bahia e fez sucesso no Rio. Espera repetir?
Hernane fica mais preso na área. Sai pouco. Eu saio mais. Mas hoje eu sou centroavante, gosto mais. Se precisar vou fazer outras funções.
EXTRA: Como vê os casos de racismo no futebol estando em um clube de vanguarda na igualdade racial?
Não deveria existir. Tem que ter atitudes severas. Tem que banir. No Japao ou Europa todo torcedor tem a carrinha na tela. Torcedor botou faixa dizendo que so podeis jogar japonês, tinha coreano, foi banido por três anos. Tem que ter uma pena e severa. Nao tem que ir pro jogo.
EXTRA: E a violência?
Antigamente era briga de torcedor dos dois times, hoje é dentro da própria torcida. Tem que ir ver a família, criança, nao so clássico, todos os jogos a família nao quer ir. Os estádios ficam mais vazios. E fica feio. Vamos ter Copa. Espero que nao aconteça racismo, violência.
EXTRA: Acha que seu futuro no futebol vai parar na China, voltar pra Arabia, por causa da idade? Ou prefere ficar no Brasil pra encerrar?
Pretendo parar com 35. Tenho 32. Eu tinha sonho de ser piloto. So que não tinha condições. Via muito o Ayrton Senna. Unico lugar que eu iria era para o Japao de volta. E Estados Unidos um ano ou dois.
EXTRA: Não quer trabalhar com futebol?
O futebol está muito chato. Não é mais como antes. Você vê e ouve cada coisa. Vai acumulando. Não pode ser muito verdadeiro. Prefiro falar a verdade, doa a quem doer. Jogador de futebol é muito vaidoso. Quando é bem visto acha que é mil maravilhas.
EXTRA: Que conselho daria para o Thalles?
Que continue esse menino bom, que escuta. Hoje qualquer garoto que ouve uma crítica já xinga, ele é diferente. Escuta bastante, tem família humilde. Que ele não mude. Por que o futebol bota você lá em cima e depois lá em baixo. Que seja humilde, converso com ele bastante. So tem alegria para dar pro Vasco. Ele é raçudo, trombador, dá porrada, é chato, não pipoca.
Fonte: Extra