Futebol

Edimar fala sobre solidez defensiva do Vasco: 'Nossa linha é muito certinha'

Como de costume, o Vasco foi recebido com muita festa em Manaus, onde enfrenta o Guarani nesta quinta-feira pela Série B do Brasileirão: aeroporto lotado, gente cercando o local onde a equipe treinou. Isso tem sido uma constante na temporada. Foi assim em São Luís, em Maceió, Juazeiro, Muriaé... É justamente o que Edimar esperava - e procurava.

Na véspera do seu aniversário, o lateral-esquerdo que completa 36 anos no próximo sábado contou sobre o que o levou a jogar no Vasco. Sobre ter escolhido assumir essa responsabilidade num momento de carreira consolidada, com experiência na Europa e passagens por clubes grandes no Brasil.

Ao assinar contrato de um ano depois de jogar três temporadas no Bragantino, Edimar queria voltar a sentir o calor da torcida de um clube de massa. Ainda que isso significasse aumentar o risco de sofrer críticas, como já aconteceu mais de uma vez na temporada.

- Eu escolhi vir jogar no Vasco - afirma Edimar.

- Sinceramente, eu poderia continuar na Primeira Divisão, jogando por um grande rival do Vasco no Rio. Eu tive outras propostas, de time do Nordeste, de clubes da Série A. Mas eu coloquei na balança realmente o tamanho do clube, o tamanho do Vasco. Como falei: queria voltar a sentir esse calor do torcedor. Escolhi encarar um desafio que eu imaginei que seria difícil, talvez um dos maiores desafios da minha carreira. Mas também confiante de que poderia dar certo - acrescenta ele.

"Imagina, eu com 36 anos, voltando a vestir a camisa de um gigante brasileiro, que é o Vasco, e podendo levar esse time de volta para a Primeira Divisão. Seria e vai ser espetacular, entendeu? Eu sonho com isso todo dia", conclui.

Edimar recebeu a reportagem do ge depois do jantar, numa sala do hotel onde a delegação vascaína está hospedada em Manaus. Capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, ele passou uma boa parte da carreira rodando por clubes da Europa: jogou em Portugal, na Romênia, Portuga, Itália... Quando voltou, antes de ir para o Bragantino, defendeu o Cruzeiro por uma temporada e o São Paulo por duas.

Com propriedade para falar do assunto, ele comentou sobre o que a torcida do Vasco tem feito nos últimos jogos.

- Cara, espetacular. A minha experiência no futebol é grande, joguei em outras duas grandes equipes no Brasil, que são Cruzeiro e São Paulo. São equipes que também arrastam bastante torcedores. Mas igual ao Vasco... Eu estava até falando com os meninos hoje, é uma experiência única. Você vê, chegamos ontem 4h da manhã, o torcedor lotou o aeroporto, a festa que o torcedor faz. Na viagem para Muriaé também, chegamos na madrugada. E eu meio que já esperava isso, a decisão de vir para o Vasco foi para viver novamente esses momentos, de sentir o calor da torcida - disse Edimar.

"Eles não param. Vocês viram no último jogo com o Bahia, a torcida cantando o jogo todo. E você vê que é aquela coisa mesmo de alma", completou.

Sobre críticas: "Consigo assimilar"

A relação de Edimar com a torcida começou bem. No início do Carioca, na vitória sobre o Madureira em Conselheiro Galvão, ele caiu nas graças do torcedor ao conversar com vascaínos na arquibancada durante o jogo. Ele havia acabado de dar uma assistência para Getúlio. "Vai ter que pagar", brincou.

No decorrer da temporada, com as eliminações no Carioca e na Copa do Brasil e o início conturbado na Série B, vieram as críticas. Edimar ainda sofre com o fato de que Riquelme, com quem disputa posição na lateral esquerda, é cria do Vasco e muito querido pelo torcedor. Ele conta que consegue lidar bem com isso.

- Não é que eu esteja calejado, mas você entende o momento. Sei que, quando está na vitória, é muito fácil a pessoal ir lá e te aplaudir, te elogiar. No momento da derrota o torcedor é muito paixão, muito sentimento. Eu vejo que o torcedor não consegue controlar os sentimentos, então na derrota você sempre vai ser criticado. Mas eu também consigo assimilar algumas críticas. As que são positivas e me fazem crescer, eu pego para mim realmente. Aquelas que você vê que não têm fundamento, a gente exclui, fecha o ouvido - explica ele.

- Mas eu entendo as críticas do torcedor nesse sentido de querer ver o Vasco crescer, de ver o Vasco onde ele deveria estar, que é de volta na Primeira Divisão e sempre vencendo os jogos - acrescenta.

"Nossa linha é muito certinha"

Edimar foi titular em 18 dos 22 jogos disputados pelo Vasco na temporada. Chegou a perder a vaga para Riquelme neste início de Série B, quando começou no banco as partidas contra Ponte Preta e Tombense. Mas voltou. E sua volta coincide com o momento de maior solidez defensiva da equipe na temporada.

Com três gols sofrido até aqui, o Vasco só perde para o Sport (que sofreu dois) no ranking de defesas menos vazadas da Série B. O time ainda tem muita dificuldade para criar, mas passa a impressão de que, se conseguir um golzinho, a defesa segura as pontas lá atrás.

- O trabalho é diário, não somente na parte defensiva, porque a gente coloca defesa como os quatro ali de trás né, o zagueiro, os laterais, o volante também. Mas o Pec ajuda bastante, o Figueiredo ajuda bastante, o próprio Nenê tenta nos ajudar, os volantes... Acima de tudo, é o entendimento dos atletas, de querer fazer a coisa acontecer. Essa parte defensiva tem sido muito legal. Acaba os jogos, eu vejo o jogo compacto. Cara, nossa linha é muito certinha - acredita Edimar.

"Um trabalho bem feito tem que começar pela defesa, a gente trabalha muito focado nesse intuito, de ter uma defesa forte para ter um ataque forte", acrescenta.

Edimar conta que aprendeu sobre como defender no tempo em que atuou no Chievo, da Itália. E acredita que a amizade entre os jogadores do setor, principalmente com Anderson Conceição, facilitam as coisas dentro de campo.

- Eu acredito que, taticamente, sou muito evoluído. Meus tempos de Europa ajudaram, foram oito anos, trabalhei na Itália e sofri bastante na parte defensiva (risos). Mas aprendi bastante também. O que eu tento fazer é cobrar um posicionamento melhor do Pec, do Andrey, que ajuda bastante. Nossa evolução tem sido não só no trabalho, mas nas conversas. Eu e o Anderson temos uma amizade fora de campo também, estamos sempre conversando, falando sobre detalhes de jogo. Isso ajuda bastante no entrosamento. O Quintero também está sempre aberto para poder escutar e ajudar - disse.

"O Zé é um ser humano espetacular"

Muito se fala no Vasco que os jogadores abraçaram o trabalho de Zé Ricardo, que o elenco está junto com o treinador. Os bastidores da vitória sobre o CSA em São Januário mostraram um pouco desse clima, com o goleiro Thiago Rodrigues dedicando o resultado ao treinador.

Para Edimar, Zé Ricardo ganhou o grupo por ser um "ser humano espetacular". E deu o exemplo de quando teve um problema familiar recentemente, e o técnico passou a perguntar todos os dias se ele estava bem, como andavam as coisas.

- Eu vou falar do ser humano: o Zé é um ser humano espetacular. É um ser humano que te dá abertura para conversar com ele, um cara que está sempre disposto a ajudar. Não somente dentro de campo, taticamente, mas foram também. Está sempre conversando, vendo como você está. Eu tive um episódio para trás com a minha sobrinha, um problema de família. E todo dia ele me perguntava para saber como estavam as coisas, então é um ser humano fantástico. E como treinador, acho que tem feito um trabalho muito bom na questão de resgatar aquilo que é o Vasco da Gama, uma equipe de jogadores de muita garra, de operários realmente - disse o lateral.

- A gente sabe que é uma pressão muito grande sobre ele, essa questão da torcida, os resultados. Não somente nós o abraçamos, mas ele também nos abraçou. Na minha contratação ele me ligou, mandou mensagem dizendo que eu seria importante. Você sente uma aproximação muito grande. E não somente com ele, mas com a comissão técnica toda. O clube em si une as pessoas, o pessoal da fisiologia, do departamento médico, do marketing... Isso tudo vem funcionando numa maneira que te aproxima do treinador e das pessoas que trabalham no clube - completou.

Riquelme: "Margem de progressão muito grande"

Por falar em Zé Ricardo, sempre que fala sobre a briga por posição na lateral esquerda, o técnico do Vasco destaca o quanto Edimar contribui para a evolução de Riquelme. Esse foi, inclusive, um dos assuntos da ligação do treinador ainda antes de Edimar ser contratado pelo Vasco.

- Quando o Zé me contactou, ele falou que tinha um lateral que era um prodígio, que a torcida gosta muito dele e que tem um potencial incrível. O Riquelme tem uma margem de progressão muito grande, acredito que o Vasco tem grandes frutos para colher com o Riquelme - disse ele, que falou sobre a proximidade com o jovem jogador:

- Nossa relação é muito boa. Eu chego no CT e dou um abraço nele, a gente está sempre conversando, brincando um com o outro. Eu aprendi que, para crescer, você tem que entender até mesmo seu "rival", no bom lado da palavra. Eu costumo dizer que aprendo muito com o Riquelme e ele aprende muito comigo. A gente conversa muito diariamente, sempre estou dando conselho para ele, sabe? De poder se aliançar com pessoas que realmente vão levá-lo para cima, que vão levá-lo para o caminho onde ele será o sucesso que todos esperam e que ele já é - disse Edimar.

- Ele tem muito a crescer. A idade realmente traz um pouco de oscilação. Eu falo com ele: o seu dia a dia vai determinar quem você vai ser lá na frente. Não adianta nada visualizar seu futuro se não fizer hoje no dia a dia. Se ele fizer o dia a dia dele, a caminhada, tiver vontade de crescer, de aprender e se juntar com pessoas que vão ajudá-lo a crescer, acredito que o Riquelme tem um futuro muito brilhante. Porque qualidade ele tem - concluiu.

Fonte: Globo Esporte