Futebol

Dorival sobre técnicos no Brasil: "Precisamos de estabilidade"

Com os filhos morando nos Estados Unidos, Caio Junior já chegou a largar o comando do Bahia para acompanhá-los e viaja com uma frequência razoável. Numa dessas passagens, enquanto caminhava com o carrinho de compras por um supermercado em Orlando, Flórida, esbarrou no colega Vagner Mancini em férias.

Pararam para conversar.

Mais de 1h de bate-papo.

E dali nascia a Federação Brasileira de Treinadores de Futebol (FBTF), lançada nesta segunda-feira, em evento realizado num hotel em São Paulo, e que teve a apresentação da entidade, a posse de sua diretoria e até mesmo a presença do técnico Luiz Felipe Scolari em mostra de apoio à categoria que tem nele a sua referência no país.

Foram aproximadamente seis meses entre o encontro em solo americano e a reunião de mais de 50 profissionais na capital paulista. Com o discurso de Mancini, seu principal idealizador, a federação foi oficializada e deve entrar em vigor sob a inspiração da Associação Brasileira dos Executivos (ABEX), com a benção de sete sindicatos - são necessários apenas cinco para regularizá-la - e deixando para trás a sua antecessora, a Associação Brasileira dos Treinadores de Futebol (ABTF), fundada em 1975 e considerada ultrapassada.

Na presidência da nova entidade, o experiente Zé Mário, 64 anos e fora do mercado desde 2009. Ele terá como vices Caio Junior, Vagner Mancini, Paulo Roberto Falcão e Dorival Junior. O carioca Alfredo Sampaio será o secretário-geral.

Essa é a estrutura que planeja ida a Brasília nos próximos meses para dar início à briga por seus direitos e não ficar para trás, em suas próprias palavras, do processo de profissionalização do futebol brasileiro.

\"Nossa ideia é formar uma diretoria forte no sentido de dar suporte para que possamos reivindicar soluções para as coisas que nossa categoria ainda sofre\", afirmou Mancini, ressaltando a presença de Felipão na primeira mesa da federação e sendo seguido por Falcão, que apontou a atitude do técnico da seleção como um exemplo para os demais.

Com experiência no comando do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Alfredo Sampaio praticamente ‘conclamou\" o nome do pentacampeão mundial na comitiva que visitará o Governo sob o argumento de que \"a presença dos tops será diferencial\".

Os técnicos contam com o apoio do ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Guilherme Augusto Caputo Bastos, o mesmo que atuou no imbróglio envolvendo o meia Oscar no São Paulo, para perseguir os objetivos da diretoria, entre eles, o maior respeito aos contratos, uma estabilidade mínima de três meses e ainda o recebimento de direitos de arena.

Assim como os atletas, os treinadores também estão de olho nos valores que os clubes faturam com os contratos televisivos de transmissão. Ainda não está claro a porcentagem que irão pleitear, mas o ministro Guilherme Caputo endossou a busca em seu discurso.

Para assegurar mais segurança nos cargos, os donos das pranchetas planejam ter também seus contratos registrados na CBF (Confederação Brasileira de Futebol), obrigando as equipes a pagarem integralmente os seus salários e pondo fim a uma situação em que, conforme Dorival Junior, ‘mais valeria não ter contrato\" e respaldada, ainda de acordo com o comandante cruzmaltino, ‘pela posição do Brasil no ranking da Fifa\".

\"No Brasil, não temos respeito. Nem sei mais por que assinamos contratos anuais, se são semanais. Precisamos de estabilidade para trabalhar, em 15 rodadas do Brasileiro, temos dez treinadores demitidos. Isso faz o futebol cair, e hoje, talvez, seja o pior momento do futebol brasileiro, tecnicamente\", disse.

Em meio a um discurso que ainda flutua entre a estabilidade no cargo e a melhor qualidade na formação, os técnicos estudam como se dará a manutenção financeira da federação.

Além de mensalidades, uma alternativa cogitada é a grana dos álbuns de campeonatos - a Panini foi uma das apoiadoras do evento realizado nesta segunda-feira.

Os treinadores acordaram e não querem ser apenas mais um ‘rostinho bonito\" nas figurinhas - e nem tampouco no balancete dos times.

Fonte: ESPN Brasil