Futebol

Dorival cobra estrutura no Vasco: "A disputa é cada vez maior"

Pôr a mão na taça: se falta algo na temporada para o Vasco, é isso. Afinal, o time já conquistou o acesso à Série A e o título da Série B nas últimas semanas. Sábado, diante da Portuguesa, às 17h10, no Maracanã, o ciclo de 2009 se fechará ao ser erguido pelos vascaínos o caneco oficial da competição.

Se o ano termina em termos práticos em São Januário antes do seu fim efetivo, 2010 começa mais cedo. Nesse aspecto, ainda há muito o que se resolver. A começar, pela permanência do técnico Dorival Junior no clube.

No treino de sexta-feira, em São Januário, um fato ficou evidente: Dorival já se transformou numa figura significativa na história do Vasco. Por pelo menos 30 minutos, o treinador ficou dando autógrafos, tirando fotos e conversando com torcedores dentro e fora do gramado. A torcida idolatra o comandante e na partida que rendeu o título da Série B ao Vasco, contra o América-RN, todos gritaram pela sua permanência. E ainda há muitos outros motivos para o Vasco correr atrás de mantê-lo.

São 24 anos de experiência no futebol. Dentro de campo, o jogador Dorival Junior vestiu as camisas de Ferroviária, Guarani, Avaí, Joinville, São José, Coritiba, Palmeiras, Grêmio e Juventude. Como treinador, já se vão seis anos e três meses. O pouco tempo foi suficiente para Dorival anotar cinco títulos no currículo. Foi campeão catarinense em 2004 pelo Figueirense, campeão cearense pelo Fortaleza em 2005, campeão pernambucano pelo Sport em 2006, campeão paranaense pelo Coritiba em 2008 e campeão da Série B do Campeonato Brasileiro pelo Vasco, este ano.

Ao fim desta temporada, Dorival espera permanecer no comando do Vasco em 2010 e cumprir a meta do clube de chegar às vagas para a Libertadores-2011. O feito foi conseguido pelo Grêmio há três anos, quando o time de Porto Alegre era comandado por Mano Menezes e o clube tinha como diretor executivo Rodrigo Caetano, hoje, em São Januário.

– Os trabalhos do Dorival e do Mano são parecidos. Queremos conseguir exatamente o que conseguimos àquela época pelo Grêmio. Essa é a meta – afirma.

Dorival, no entanto, vê situações distintas. Em entrevista ao Jornal do Brasil, o treinador explica que o caminho do Vasco neste próximo ano será mais espinhoso que o do Grêmio em 2006. O treinador acredita que o Campeonato Brasileiro ficou mais disputado em função de os clubes terem se adaptado melhor às exigências da fórmula de pontos corridos, promovida em 2003. Ao Vasco, resta se preparar.

Quando jogador você pensava em ser técnico de futebol?

Sim. Nos últimos anos de jogador visualizava essa possibilidade.

Hoje, você diria que uma das carreiras é mais marcante?

Como treinador, acabei fazendo um trabalho de mais reconhecimento. Disputei seis títulos e venci cinco deles. Os resultados, portanto, chamam mais atenção. Hoje, vejo como natural esse fato de ter tido mais perspectivas como técnico. Mas tive uma carreira de jogador com muitas conquistas também.

Você trabalha sua carreira com uma meta específica como, por exemplo, chegar à Seleção Brasileira?

Não penso nisso. Aliás, nunca pensei seriamente nessas questões. Em termos de Seleção, vejo um grande número de profissionais qualificados no mercado que estão mais próximos de chegar a isso do que eu. Estou começando, tenho muito o que aprender ainda. Vivo um bom momento na profissão, mas é cedo para esse tipo de coisa. Pensando a longo prazo, entendo que, se tiver que acontecer, vai acontecer.

Qual o momento mais inesquecível que você vivenciou no futebol?

Tive dois grandes momentos. Cresci sob as conversas de meu tio palmeirense, sempre ouvindo suas histórias, de modo que, quando joguei meu primeiro Palmeiras x Corinthians, foi muito emocionante. Admito que percorri todo o túnel antes de subir ao gramado chorando. Ver aquelas duas torcidas dentro do campo foi algo impressionante. O outro momento foi como treinador. Não foi o título do Vasco não, foi a partida contra o Ipatinga em que o Maracanã lotou completamente. Aquilo foi demais.

A vida de treinador implica mudanças de cidade constante. Como você lida com isso?

Hoje, moro no Rio, mas não com a família. Sinto muita falta, claro. Procuramos nos ver, no máximo, de 15 em 15 dias. Já estou acostumado: morei em Recife, em Caxias do Sul, enfim, em diferentes lugares. O efeito disso é que me retraio muito, acabo me fechando. Mas procuro ser bem para cima, encarar positivamente esse quadro.

Nas suas horas livres, quando está passeando em algum lugar da cidade, a torcida deve procurar falar contigo. Isso te incomoda um pouco ou você gosta?

Não me incomoda de maneira alguma. É prazeroso para qualquer profissional ter seu trabalho reconhecido. Temos que respeitar essa vontade do torcedor por demonstrar carinho pela gente.

Qual o peso desse trabalho no Vasco na sua carreira?

Importantíssimo. Valorizo demais a conquista deste ano pelo apelo, pela representatividade, enfim. Ter feito parte dessa conquista do Vasco foi extraordinário.

Em 2005, o Grêmio subiu de volta à Série A e chegou à Libertadores no ano seguinte com o Rodrigo Caetano, hoje no Vasco, e com o Mano Menezes de técnico. O Vasco pode se espelhar nesse caso para atingir a meta na próxima temporada?

Esse é o nosso projeto, mas tem que ver o seguinte: o campeonato (Brasileiro de pontos corridos), àquela época, não tinha delineado uma linha de ação a ser perseguida pelos clubes para obterem êxito. Hoje, está muito mais disputado, o quadro é diferente. Muitas equipes estão com estrutura para brigar por título, projeção de reforços etc. Portanto, o Vasco deve se qualificar.

Essa nova maneira de lidar com o futebol nos clubes brasileiros – profissionalização do futebol, contratos longos para treinador e prioridade em infraestrutura – é uma tendência?

Sim. É uma tendência e o clube que não trabalhar no sentido de segui-la, terá muitos problemas pela frente.

Que o Vasco cumpriu suas metas no ano, todos já sabemos. Mas você teria algo a lamentar em relação a essa temporada? Algo que não saiu 100%?

Hum... não. Tudo serviu para o crescimento do clube. Fomos eliminados da Copa do Brasil por um erro grotesco da arbitragem. Mas, de acordo com o trabalho que realizamos, não houve problema e tudo foi muito positivo.

Que tipo de reforço o Vasco precisa para 2010?

O nosso grupo é jovem o suficiente. Então devemos brigar por mais um grande nome na equipe, que traga experiência. Evoluímos muito durante a temporada, o time ganhou mais maturidade, mas um reforço com esse perfil será bom.

O que te faria recusar uma permanência no clube?

Não falei sobre isso com a diretoria. Espero que tudo se encaixe da melhor maneira...

Mas alguma coisa te preocupa no projeto do Vasco?

Estou tranqüilo, mas, bom, na verdade, claro que me preocupo no quesito crescimento do clube. Quero contar com um Centro de Treinamento para qualificar o trabalho, entre outras coisas. Mas conversaremos eu e diretoria quando for a hora. Acho que até o fim do Campeonato eu devo prosseguir o trabalho. O que me preocupa hoje é a Portuguesa, que é nosso próximo adversário. Não estou ansioso. Espero chegar a um acordo, mas tudo vai ocorrer dentro da normalidade. Tenho contrato até o dia 31 de dezembro e não há pressa. O ideal era que as conversas acontecessem, inclusive, após a Série B.

Fonte: Jornal do Brasil