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Do local que foi expulso, Dinamite vê orgulho e democracia renascerem no Vas

O Vasco abriu suas portas para a democracia e para a recondução de Roberto Dinamite ao lugar que lhe é de direito: a Tribuna de Honra de São Januário. Parlatório de onde Getúlio Vargas e Luiz Carlos Prestes fizeram discursos históricos, o local agora dá voz ao orgulho vascaíno diante de uma tardia reparação.
Em 2002, antes de um jogo contra a Ponte Preta, Roberto e seu filho Rodrigo foram expulsos da tribuna pela antiga administração.

Na época, o ídolo maior do clube criticava a idéia de aposentar a camisa 11, ainda tinha cabelos pretos e chorou diante da perseguição política. Ontem, sorridente, com a cabeça branca e erguida, Roberto viu conselheiros e jornalistas, outrora banidos, circularem livremente por São Januário, assim como a camisa 11, vestida por Leandro Amaral.

— Estou sentindo muita emoção. Hoje (ontem), volto para a minha casa, um lugar que não é só meu, mas de todo vascaíno — disse, antes de receber homenagem da diretoria do Sport e retribuir com uma placa.

A fidalguia do gesto é um sinal dos novos tempos, ou da volta dos velhos tempos num clube que ficou marcado por sua tradição democrática, pelas portas abertas aos negros e pela integração da colônia portuguesa com as classes mais humildes do bairro. Depois de um período de amargar, as relações foram novamente adoçadas. Nos acessos ao público, foram distribuídos 16 mil sorvetes de coco por voluntários que tinham a frase “só alegria” estampada nas camisas. No campo, a volta do torcedor mascarado, o Mister M, saudava o novo presidente com uma faixa: “Daqui ele foi expulso, hoje reina”.

— Passei tanto tempo sem vir aqui, que nem sei explicar o que estou sentindo.

Só posso dizer uma coisa: é o Vasco! — exclamou Rodrigo Dinamite, hoje com 15 anos de idade.

Para celebrar o caráter acolhedor da festa, a sala de troféus ficou aberta.

Normalmente, a visitação é restrita aos sábados. Entre os primeiros troféus expostos, estava a Libertadores de 1998.

Dez anos depois, o clube quer se reencontrar com a tradição e com personagens daquela conquista.

Logo após ser nomeado como o novo vice de futebol, Manoel Fontes aprovou os nomes de Felipe e Pedrinho, campeões sul-americanos pelo clube. O zagueiro Roque Júnior, que também está nos planos, deve conversar ainda hoje com Dinamite.

Nas tribunas, os ídolos já estão de volta. O excapitão Mauro Galvão estava presente no local que homenageava Dinamite e Edmundo, com fotos históricas.

— Queremos trazer os ídolos de volta, o respeito e a transparência. E principalmente, restaurar o direito de ir e vir que faz parte da história do Vasco — disse o presidente, aplaudido de pé ao chegar às tribunas.

Para retribuir o apoio, a nova diretoria permitiu que sócios inadimplentes comprassem ingressos a R$ 15 para as tribunas. As torcidas organizadas não tiveram privilégios e só entraram no estádio no segundo tempo.

— Neste momento, o Vasco precisa de quem está dispostos a pagar para ajudar o clube — disse o presidente.

Além de reabertura da Tribuna de Imprensa, na parte social, boa parte do jornalistas pode ver o jogo ao lado de Dinamite na Tribuna de Honra. O presidente também desfrutava da liberdade.

Quando foi expulso, seu pai havia morrido há 50 dias. Ao voltar, trouxe vida nova e democracia ao Vasco.

Fonte: O Globo