Dívidas fantasmas no Vasco: prejuízos aumentam em mais de R$ 100 milhões
Balanço publicado por Jorge Salgado aponta "descontrole administrativo". Escritório de Paulo Reis, antigo advogado vascaíno, apresentou perdas em processos que nem a diretoria conhecia
No fim de 2020, a diretoria do Vasco, ainda sob liderança de Alexandre Campello, foi surpreendida pelo acréscimo de R$ 83 milhões em dívidas até então desconhecidas. Tratava-se de ações trabalhistas que, segundo o escritório de advocacia contratado pelo clube, teriam que ser pagas.
O escritório pertence a Paulo Reis, antigo aliado de Eurico Miranda, que no passado chegou a ocupar a vice-presidência jurídica da associação. Em março de 2021, o contrato com a empresa dele foi rescindido.
No começo deste ano, a direção encabeçada pelo presidente Jorge Salgado contratou uma auditoria para checar a situação. A investigação encontrou R$ 36 milhões em dívidas até então desconhecidas pelo clube, além dos valores que apareceram subitamente por meio do escritório.
A soma das duas quantias, R$ 119 milhões, foi acrescentada repentinamente ao endividamento vascaíno. Até setembro, conforme balancete publicado pelo clube referente ao terceiro trimestre, essa cifra não havia sido contabilizada pelo financeiro cruz-maltino.
– Em 2020, o escritório apresentou informações dando conta da elevação de dívidas judiciais trabalhistas, a maior parte advinda de exercícios anteriores. Isso é ainda mais surpreendente quando se constata que o mesmo escritório era responsável pela gestão do contencioso trabalhista há longa data e nunca havia informado sobre a existência desse elevado passivo – descreve a diretoria no balanço.
A história foi relatada nas demonstrações financeiras referentes a 2020, publicadas dias atrás, em 30 de abril. O documento se refere ao caso como "descontrole administrativo das ações trabalhistas".
Ao término de 2020, o endividamento do Vasco chegou em R$ 832 milhões. Muito acima dos R$ 748 milhões existentes ao término de 2019, segundo o mesmo balanço, que acaba de ser publicado.
A cifra relacionada ao ano passado foi reapresentada com valores diferentes nesta nova versão. As demonstrações apresentadas no ano passado apontavam "apenas" R$ 645 milhões em dívidas.
O que dizem os envolvidos
Procurado pelo blog, o Vasco respondeu em nota que fará uma análise individualizada das ações apresentados pelo escritório de Paulo Reis.
O clube informa que o Ato Trabalhista – mecanismo mediado pela justiça que permite o parcelamento de dívidas com ex-funcionários – aumentou de R$ 43 milhões em 2019 para R$ 136 milhões em 2020.
– A due diligence (investigação) nos processos trabalhistas realizada pelo escritório Ideses TVM, no início da nossa gestão, teve por escopo o levantamento do passivo trabalhista e a análise global dos processos, com identificação de fases processuais relevantes e informações financeiras. Não houve tempo hábil para realizar uma análise pormenorizada dos processos, que são muitos – afirma a direção vascaína.
A diretoria de Salgado também diz que advogados e consultores estão avaliando a melhor forma para tratar desse passivo trabalhista, com a promessa de que "será muito bem controlado a partir de agora".
Paulo Reis foi procurado pelo ge. O advogado preferiu não se manifestar. Ele diz que, por questão de ética, só pode se reportar ao cliente.
O blog também fez contato com a BDO. A empresa foi contratada por Alexandre Campello no início de sua administração, em 2018, para realizar auditoria externa no balanço. Cabe à auditora checar os números apresentados pelo clube para atestar a veracidade deles.
No balanço referente a 2019, não houve nenhuma ressalva no parecer redigido pela BDO sobre o balanço apresentado. Ao mercado, esse parecer sem ressalvas funciona como uma sinalização de que os números descritos no documento são confiáveis. Ou eram.
A BDO afirma que "questões relacionadas a pontos específicos das demonstrações devem ser questionadas diretamente ao clube".
Fonte: Blog do Rodrigo Capelo - ge