Dirigentes evitam falar publicamente sobre Euriquinho
Dono de uma frota de táxi, o vice-presidente de futebol, José Luís Moreira, luta contra o esvaziamento em duas frentes. Ao contrário dos motoristas que saíram as ruas para protestar contra o Uber, o dirigente evita reclamar publicamente da influência de Euriquinho.
Há três semanas, o filho do presidente convocou uma reunião com os jogadores sem a presença do técnico Celso Roth e da comissão técnica.
— Quem não estiver satisfeito, basta pedir para sair — disse, à época.
A lei da mordaça, que Eurico impõe aos jogadores nos momentos críticos, tem sido cumprida voluntariamente pelos integrantes da diretoria e da comissão técnica. O gerente de futebol, Paulo Angioni, outro antigo aliado de Eurico, preferiu se calar para tratar internamente dos problemas exibidos dentro de campo, que deixam o Vasco no caminho do terceiro rebaixamento em oito anos.
MEDO DE REPRESÁLIAS
Diante da dificuldade de precisar se os maus resultados do time são causa ou consequência do ambiente no vestiário, resta o silêncio que revela o temor. Ao contrário das divergências entre colegas de trabalho, em que todos têm direitos e deveres iguais, críticas ao filho do presidente levam o problema para o lado pessoal e intransferível.
— Quem manda aqui não é Euriquinho nem Zé Maria. Quem manda no Vasco, sou eu — disse Eurico, ao Globo, na semana passada
Para ouvir quem fale abertamente de Euriquinho, é preciso sair dos domínios de São Januário. Professor de Direito Administrativo da PUC-Rio, Manoel Peixinho separa o nome do filho da pessoa do pai.
— Euriquinho era um aluno muito educado, vinha a todas as aulas e teve excelente aproveitamento. Era muito discreto, sentava no fundo da sala, não se expunha — disse o professor, que é torcedor do Vasco. — A atual administração é um desastre, mas não tenho nada a falar do Euriquinho.
Até alguns dos adversários capitulam com medo dos processos e represálias, que a família adota contra quem ousa confrontá-los. Coordenador da operação em dias de jogos em São Januário, o herdeiro percebeu a movimentação da oposição num dia que marcaria a volta triunfal de Roberto Dinamite, em 2003. Acompanhado do filho Rodrigo, o ídolo havia sido expulso da tribunas um ano antes. Como faltava ingressos ao grupo, um de seus líderes se dirigiu ao guichê enquanto Euriquinho fazia o mesmo, pelo lado de dentro da sede.
Quando um estendeu o braço com o dinheiro, o outro já estava lá para se negar a vender mais um bilhete. Carregadas de palavrões e perdigotos, as palavras proferidas naquela janela estreita e escura remetem às sessões no confessionário de uma igreja. Na impossibilidade de externar o segredo alheio, cada um que pague pelo seus pecados.