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Direção do Vasco planeja mudança de sede em maio

Em 12 de março, em nota oficial, o Vasco anunciou que, para implementar a nova estrutura planejada pela gestão de Jorge Salgado, mudaria a sede administrativa de São Januário para o Centro do Rio. Um mês depois, a ideia ainda não foi colocada em prática.

O ge apurou que estes 30 dias, além de darem tempo ao planejamento da ida de um lugar a outro, foram usados para uma auditoria interna analisar e aprovar o caso. Por qual motivo? A sala comercial, que provavelmente receberá quase todos os departamentos do clube, estava desativada há cerca de oito meses. Trata-se de um escritório de advocacia. E pertence a Carlos Roberto Osório, o primeiro vice-presidente geral eleito - a propriedade é dividida com o irmão dele, José Eduardo Osório.

São 800 metros quadrados, em dois andares, de um prédio que fica na Praça XV de Novembro. Foi o próprio Osório quem ofereceu o espaço em um contexto no qual o Vasco fazia orçamentos de locais para se mudar. Alguns analisados careciam de pequenas obras, o que geraria um custo que o clube não poderia arcar dada a dificuldade financeira.

Segundo a nota oficial divulgada pelo clube na época, o contrato é de comodato (empréstimo gratuito), ou seja, não haverá pagamento de aluguel e, sim, de custos fixos de manutenção, como condomínio, água e luz.

Coube à Diretoria de Integridade - criada no primeiro ato de Salgado após a posse - avaliar o caso. A pasta tem como objetivo, nas palavras de Salgado, ser um "organismo independente para garantir a governança, a transparência e a lisura dos atos de nossa administração". Desde o começo da gestão, aliás, ela tem revisado todos os contratos firmados pelo clube no passado recente.

Sob comando de Luís Aragão, indicação do presidente, a Diretoria de Integridade avaliou o uso de uma sala de um atual integrante da direção. E, ao lado do departamento jurídico, ajudou na elaboração do contrato.

- Existem diversos fatores para que tenhamos tomado a decisão temporária de mudança da sede administrativa do Vasco, mas os principais são a integração entre as áreas, a maior eficiência dos gastos da sede, e o aumento de produtividade de nossas equipes executivas e seus times internos. Especificamente no que se refere ao local oferecido por comodato pelo primeiro VP Geral, Carlos Osório, o clube solicitou que o modelo de locação fosse passado pela Diretoria de Integridade, que já deu parecer favorável, e pedimos também que fosse avaliado pelo Conselho Fiscal. Apenas após esses dois pareceres favoráveis daremos prosseguimento à assinatura do contrato. Analisamos outros imóveis no Centro e aquele com melhor custo-benefício por metro quadrado para o clube foi o que escolhemos - explicou o CEO do Vasco Luiz Melo, em nota enviada pela assessoria ao ge.

Questionado pelo ge se o caso não era um conflito de interesse, Osório respondeu:

- Quem tem de definir se há conflito de interesse são as estruturas formais do clube, como a Diretoria de Integridade e o Conselho Fiscal. O fato de eu achar se há ou não é irrelevante no caso. Quem tem de analisar é o Vasco, com absoluta independência, isenção e transparência. Eu não quero fazer nada ao clube que possa ter conflito. Se o Vasco entender que pode, ótimo. Se entender que não pode, sem problema algum. É uma ajuda ao Vasco. Não há cláusula de multa para saída antecipada ou qualquer coisa do gênero. Até o final desta administração, o local estará à disposição. Eu achei que era uma oportunidade ao clube, que terá a palavra final e sem custo algum.

Oposição pede esclarecimentos

O assunto gerou dúvidas em alguns vascaínos. O grande benemérito Denis Carrega Dias protocolou, em 15 de março, um pedido de explicação por parte da Diretoria Administrativa no Conselho de Beneméritos. Nas palavras dele, o objetivo foi:

- A gente quer saber como vai funcionar, quais os critérios para a mudança, como isso se deu. Foram medidas que simplesmente foram tomadas sem explicação aos poderes do clube. Queremos saber quais as implicações e se isso não vai gerar mais despesa.

O pedido ainda não foi analisado pelo presidente do conselho, Antônio Peralta. Candidato da chapa "Somamos", Luis Roberto Leven Siano também publicou no Instagram críticas à medida. Assim como outros agentes políticos do clube de São Januário.

Foto: Hector WerlangPrédio que provavelmente receberá o Vasco fica no Centro
Prédio que provavelmente receberá o Vasco fica no Centro

Motivos para a mudança

O Vasco estima que economizará recursos com a iniciativa. Atualmente, cada sala tem o seu ar-condicionado, a sua alimentação e a sua limpeza, por exemplo. Unificar os serviços, pela estimativa, reduziria custos. Além disso, haveria o compartilhamento de computadores e impressoras.

Mudar a sede foi um tema abordado na campanha por integrantes da Mais Vasco, grupo que elegeu Salgado. A saída de São Januário possibilitaria que pequenas obras de manutenção de algumas áreas do estádio sejam feitas. E, além disso, no entender da direção, facilitaria o trabalho no dia a dia.

Atualmente, os departamentos estão distantes uns dos outros. É uma realidade que, por exemplo, obrigava o ex-presidente Eurico Miranda, com as limitações da idade avançada, usar um automóvel, na própria dependência do clube, para se deslocar da presidência ao futebol - atualmente, este departamento está no CT do Almirante.

Na gestão Salgado, como em todas as outras, quando há uma reunião marcada parte da direção tem de caminhar de uma extremidade do estádio a outra. Há o entendimento de que a integração e o trabalho em conjunto ficam prejudicados. Na mudança, cerca de 100 estações de trabalho estarão em um mesmo local.

Até a pandemia do novo coronavírus dificultou o trabalho administrativo em São Januário. Por conta do protocolo da CBF, em dias de jogos, o estádio tem de ser desocupado com quatro horas de antecedência tanto em partidas profissionais como da base. Ou seja, nesses dias, o expediente tem de acabar mais cedo.

Fonte: ge