Destaque na Espanha, Paulo Vitor desabafa sobre os tempos de Vasco
Uma das principais promessas do Vasco entre 2017 e 2018, Paulo Vitor surpreendeu na época ao deixar o clube para assinar com o Albacete, então na segunda divisão da Espanha. Quatro anos depois, o projeto do atacante começa a dar resultados: depois de passar pelas divisões inferiores do país, o atacante está prestes a tirar a cidadania espanhola para ser promovido ao elenco principal do Valladolid.
Agora com 22 anos, Paulo Vitor garante ter amadurecido neste período na Espanha. Sem jogar no Albacete, desceu um nível ao assinar com o Marbella, da terceira divisão. Mas o passo atrás logo o impulsionou para o Valladolid, onde vem se destacando na equipe B. A subida para o elenco profissional só não aconteceu ainda por falta de vaga extracomunitária.
- Estar no time principal do Valladolid é a conclusão do projeto. Tenho que esperar, estou tirando a nacionalidade, no próximo mês vou fazer uma prova. O Ronaldo disse que vai fazer de tudo para sair o mais rápido possível. A partir da próxima temporada já vou estar no time A - contou Paulo Vitor ao ge.
Relação especial com Julio Baptista
No clube onde Ronaldo Fenômeno é presidente, outro ex-jogador brasileiro forjou laços com Paulo Vitor. Técnico da equipe B, Julio Baptista viu potencial no jovem atacante após uma primeira temporada abaixo da expectativa.
- O Julio me ajudou muito, conversou muito comigo, fez de tudo. Falou para mim que a missão dele era resgatar e fazer eu voltar a jogar a ser o jogador de antes. Ele acreditava no meu potencial. Eu agradeci a ele e falei que ia fazer de tudo para retribuir a confiança dele. No treino a gente tem uma relação muito boa, bem aberta, de chegar e conversar com ele tanto coisa de trabalho quanto pessoal. Ele está sendo uma pessoa muito importante nessa fase que eu tô vivendo. O que ele fez por mim é difícil até de falar. Vou ser sempre grato - disse Paulo Vitor.
Paulo Vitor credita a Julio Baptista a evolução técnica em sua passagem pelo Valladolid. Desde questões táticas até a forma de finalizar, tudo teve influência do treinador.
- Eu sempre tive muita força, muita velocidade, mas não sabia muito a hora de tomar a decisão. Ele me ajudou muito nisso. Ele cobra muito a chegada dentro da área, de ficar perto do gol, a intensidade. Quando ele assumiu, eu tinha a mania de bater com o peito do pé. No Marbella, fiz gol no Valladolid assim, o gol que me fez estar aqui. Ele falou: "Moleque, lembra o gol que fiz na Copa América? A partir de hoje você só vai bater tirando na bola" - lembrou PV.
Contrato renovado até 2025
Atualmente, o atacante é o artilheiro do Valladolid B na terceira divisão, com sete gols marcados em 18 jogos. O desempenho lhe rendeu a renovação de contrato até 2025. O time principal do Valladolid está em segundo lugar na segunda divisão e se aproxima do retorno à elite espanhola. Desta forma, Paulo Vitor tem boas chance de enfrentar Barcelona, Real Madrid e companhia na próxima temporada.
Sem espaço no Vasco após um bom início em 2017, Paulo Vitor não pensou duas vezes ao aceitar a ideia de ir para a Espanha. No Marbella, cuja empresa proprietária é a agência que gerencia as carreiras de Benzema, Éder Militão e Casemiro, ele ganhou minutos. Como Ronaldo era amigo dos donos do clube, foi ver uma partida e se interessou por Paulo Vitor para levá-lo ao Valladolid.
- Foi tudo planejado. Eu poderia ter voltado para o Brasil ou mesmo para o Vasco, só que teria aquilo de bater e não dar certo. Eu não estava aceitando isso, decidi ficar mais um tempo e escolhi o projeto do Marbella, porque eu teria minutos.
Contratado pelo Valladolid, Paulo Vitor mal acreditou quando se encontrou com Ronaldo Fenômeno. A experiência de ter o ídolo como presidente do clube foi diferente.
- A gente nunca sabe quando ele vai aparecer. Na primeira vez que eu o vi, eu fiquei quase uma semana bobo dentro de casa. Ele é um cara muito aberto. É um cara sempre passando a experiência dele. Sempre quando tem oportunidade ele tenta estar junto, ver o jogo, ver o treino. Ele acompanha mais o time A, mas sempre que tem oportunidade ele está junto com a gente.
Desabafo sobre os tempos de Vasco
Na conversa por telefone com a reportagem do ge, Paulo Vitor trocou algumas vezes palavras em português pelo espanhol, uma mostra de como conseguiu se adaptar ao novo país. A nível pessoal também houve mudança. O período na Europa fez o atacante mudar conceitos e se sentir mais preparado para o futebol.
- Hoje eu sou batedor de falta, de escanteio. Coisa que eu não chegava nem perto de ser no Brasil. Questão tática, obediência, disciplina, eu mudei radicalmente. No Brasil todo mundo sabe o meu histórico (risos). Aqui eu terminava treino e ficava vendo vídeo tático, perguntava ao treinador o que tinha que melhorar, treinava finalização. Isso me ajudou muito. Não adianta ter um potencial, mas não realizar esse potencial.
O fato de não ter realizado esse potencial no Vasco ainda incomoda Paulo Vitor. O atacante surgiu como grande promessa no Campeonato Brasileiro de 2017. Depois, com os altos e baixos naturais de um jovem, foi perdendo espaço.
- Faltou um pouquinho de paciência. Acho que eu poderia ter sido melhor e mais aproveitado. Desde que saí do Vasco, sempre acompanhei: vejo que falta paciência, trabalho... Não tem isso.
- Um jogador aqui de 23 anos é a idade em que começa a estourar. No Brasil, o que jogador que não vai bem já começa a ser dúvida com 17 anos. Eu lembro que fui bem contra o Athletico-PR e saí aplaudido. Depois falhei e já me criticaram. Quando eu estava em um momento de dificuldade eu já era ruim? Como era o critério? Isso não acontece só comigo, segue acontecendo. Tenho gratidão ao Vasco e à torcida, mas ficou para trás - completou.
Hoje, no Valladolid, Paulo Vitor vê a chance de estourar de vez no futebol. Sem esquecer os momentos no Brasil.
- Quero realizar esse sonho de estourar na Europa, para mostrar para as pessoas que a vida é uma roda gigante. Não tem nada melhor que calar a boca das pessoas fazendo acontecer. É um desafio. Eu quero isso, mostrar que venci, estourar no time do Ronaldo Fenômeno e mostrar que, sim, eu tinha potencial de ter estourado e ser melhor aproveitado.