Dedé vive encruzilhada antes do próximo passo na carreira
Na última quarta-feira, Dedé foi novamente submetido a exames que buscam a origem de suas dores abdominais. Mas atualmente, o maior problema do zagueiro não está na barriga, e sim, na cabeça. Aos 24 anos, ele está perto de dar um passo que pode ser crucial em sua carreira. Em cerca de dois meses seu futuro será conhecido. E não está sendo fácil tomar a decisão de qual caminho escolher. A pouco mais de ano da Copa do Mundo, ele sabe que um erro de estratégia pode custar caro, mesmo que sua perspectiva financeira seja promissora.
O jogador pouco fala sobre o assunto publicamente. As poucas entrevistas que concedeu nos últimos tempos foram em saída de campo, seja pela Seleção ou pelo Vasco. Consultada pelo GLOBOESPORTE.COM, a assessoria de imprensa do jogador avisou que o zagueiro quer continuar em silêncio. O momento é considerado crucial na carreira de Dedé. Ele e as pessoas que o cercam entendem que não pode haver erro na decisão sobre o destino do zagueiro a partir de julho, quando deve ser definida sua negociação pelo Vasco. O clube cruz-maltino acredita que pode vender o jogador por um valor que vai de 10 milhões a 15 milhões de euros (de R$ 25 milhões a R$ 38 milhões). A outra opção é pagar 5 milhões de euros (cerca de R$ 13 milhões) para comprar os 45% dos direitos econômicos do zagueiro que pertencem ao Grupo DIS e mantê-lo em São Januário. No entanto, a realidade financeira impede que os dirigentes se empolguem muito com a ideia.
Até pouco tempo o Vasco tinha quase a certeza de que venderia Dedé para um grande clube europeu. Mas recentemente, Corinthians e Cruzeiro tornaram-se os mais fortes candidatos a arrematar o zagueiro. Até hoje, foram duas propostas mais tentadoras para tirar Dedé do Vasco. Uma do Queens Park Rangers, clube inglês do goleiro Julio Cesar, no começo do ano passado. A oferta de 12 milhões de euros (R$ 31 milhões) animou a todos, menos ao jogador. Recentemente, por valor aproximado, o Anzhi, da Rússia, também tentou encher os olhos do zagueiro. Mas um objetivo fixo o manteve em São Januário até agora: a Copa do Mundo de 2014.
Jogar uma Copa, sim, que é a menina dos olhos do jogador eleito duas vezes o melhor da posição no Brasileiro (2010 e 2011) e a revelação do Campeonato Carioca de 2009 ainda pelo Volta Redonda. Dedé convive diariamente com a angústia de escolher entre três caminhos na sua carreira. Todos com prós e contras.
Defender um clube europeu poderia significar independência financeira e ganho técnico. Mas por outro lado, Dedé teria menos de um ano para se adaptar à sua nova realidade e, possivelmente, vencer uma disputar por posição. Assim, sem uma sequência de partidas, poderia sair da alça de mira do técnico Luiz Felipe Scolari.
Existe uma possibilidade remota de Dedé permanecer no Vasco, com o qual tem contrato até o fim de 2015. Se ficar em São Januário, ele tem sua vaga de ídolo incontestável garantida. No entanto, encontrará o risco de fazer parte de uma equipe que pode não ser competitiva no segundo semestre. Até o fim do ano passado, Dedé estava irredutível na decisão de não sair. Mas da maneira como terminou a última temporada para o clube e principalmente para ele, percebeu que ir embora era uma alternativa a ser considerada. Dedé sofreu duas lesões em 2012. Assim, pessoas próximas mostraram a ele que deveria aproveitar as oportunidades que estavam surgindo, já que poderia ficar desvalorizado no mercado e não conseguir um contrato tão vantajoso no futuro.
Apesar de toda a gratidão que tem pelo Vasco, Dedé avalia e pode optar pela transferência para um dos três clubes brasileiros que demonstraram interesse: Corinthians, Cruzeiro ou São Paulo. Embora sejam clubes em melhores condições do que o Vasco, atualmente, o zagueiro chegaria a elencos já formados e poderia ter de brigar por seu espaço entre os titulares. Assim, não teria tanto tempo para isso até o Mundial do Brasil. A rejeição do torcedor vascaíno, que veria o ídolo defendendo um rival, também pesa.
Mito ainda muito valorizado
O GLOBOESPORTE.COM consultou cinco empresários e um agente do futebol brasileiro para pedir avaliação da cotação do zagueiro do Vasco. Somente um pediu para não se identificar, justamente o que estimou o menor preço para Dedé - entre 5 e 7 milhões de euros. A justificativa é que o zagueiro, principalmente num Vasco enfraquecido financeiramente, passa por momento delicado, com recente queda técnica e em um clube que pode vendê-lo longe das condições - de preço, principalmente - ideais.
- Pode chegar um clube e dizer: \"leva aqui tantos milhões de euros à vista, depois pagamos o restante e libera o jogador\". O Vasco precisa de dinheiro. Eu, se fosse fazer esse negócio, esperaria porque esse preço ainda pode baixar mais - aposta o único empresário que não quis se identificar.
Para o empresário Carlos Leite, influente no mercado nacional e internacional, com representação de cerca de 100 jogadores, o Mito segue muito valorizado. Aos 24 anos, mesmo com 2012 irregular, Dedé ainda vale, pelo menos, 11 milhões de euros.
- Foi durante dois anos o melhor jogador do Brasil. Não é por três meses que vai se desvalorizar. Pode valer 11, 12, 13, até 14 milhões de euros. Não sou representante dele, mas gostaria de ser. Por outro lado, fico feliz dele ter dois empresários que conheço bem, duas pessoas batalhadoras, corretas, que vão fazer o melhor para o Dedé - diz Leite.
De fora do país, Wagner Ribeiro, empresário de Neymar e Lucas, hoje no PSG, comparou a situação com outro zagueiro da Seleção, David Luiz, que saiu do Benfica para o Chelsea por 23 milhões de euros.
- Por um zagueiro do nível do Dedé hoje se pode pagar de 10 a 15 milhões de euros. Ele não foi para a Europa ainda, por isso vejo esse preço menor que o do David Luiz, que foi para um clube top - comenta ele, que não acredita que no Brasil alguém consiga comprar o zagueiro.
- Soube que o Corinthians fez uma oferta de R$ 6 milhões, dentro de uma transação que poderia envolver jogadores. Mas aqui ninguém paga o valor do Dedé. Não foi tão bem em 2012 e nesse início de 2013, mas todo mundo sabe do potencial dele - diz Ribeiro.
O empresário Eduardo Uram não quis definir uma faixa de preço para a cotação do zagueiro. Disse que depende do estágio em que o futebol europeu o vê nos dias atuais. Classificou as diferenças entre clubes do topo e do subtopo.
- A precificação correta se dá em função do tipo de clube, do tipo de negociando de quem está operando e da procura pelo jogador. Se há Milan, Juventus, clubes grandes da Inglaterra, o Bayern de Munique, entre outros dos tops, o preço poderia ficar entre 15 a 18 milhões de euros. Mas acho que o Dedé até chegou a esse patamar em 2011, recusou ofertas e acabou descendo depois. Pode voltar a esse topo que eu falo, mas precisa se afirmar no subtopo, que pagaria entre 8 a 10 milhões de euros - avalia Uram.
Um dos mais antigos empresários do país, Léo Rabello, é enfático na avaliação sobre o preço que o Vasco pede (10 milhões de euros).
- Dez milhões de euros não vai conseguir nunca. Para zagueiro, com a Europa em crise, é muito difícil. Acho que só consegue muito abaixo disso - opina Rabello.
Gestor de carreira do falecido piloto Ayrton Senna por 10 anos, Fabiano Farah faz carreira representando grandes negócios no futebol da Europa. Recentemente foi contactado pelo Real Madrid para três grandes transferências, do brasileiro Kaká, do espanhol Xabi Alonso e do francês Benzema. Agente da ex-melhor do mundo Marta e dos ex-jogadores Ronaldo Fenômeno e Roberto Carlos, ele vê como ótimo negócio o investimento em Dedé.
- Acho que ele vale 10 milhões de euros. Ele tem uma característica muito importante que o mercado europeu gosta muito: é um cara que não se permite ficar na zona de conforto, tem atitudes muito positivas, tanto dentro quanto fora de campo. O jogador vale não só pelo que é em campo. O único porém seria os últimos problemas de contusões que teve, mas não sou médico para avaliar essa questão. Como agente do mercado não tenho dúvida que o Dedé é muito valorizado - diz Farah.