Futebol

Dedé, o dono da área

O dono da área Foi uma unanimidade, ou quase isso: Dedé apontado como o melhor jogador do Vasco, o melhor em campo no jogo com o São Paulo, o melhor de toda a rodada na eleição do Globoesporte.com, presente na seleção dos principais veículos de comunicação, sem esquecer que já está presente também em outra seleção mais importante até, que é a seleção brasileira de Mano Menezes.

Que bom! Não é todo dia que os colegas e eu concordamos em análises de jogos de futebol.

Quando isso acontece, a grande proeza em geral não é deles, nem é minha, é muito mais do jogador que consegue despertar essa espécie de unanimidade. Ou seja: é mérito do Dedé.

Na minha análise particular, a vitória do Vasco, depois do início de jogo esfuziante de Lucas e do São Paulo, se deveu ao absoluto domínio que Dedé exerceu na defesa e no seu campo. Da sua área até a intermediária, ele tomou conta das ações.

E, a partir daquele ponto, Felipe, Diego Souza e Éder Luís resolveram as coisas para o Vasco.

No primeiro tempo, quem garantiu o empate foi Fernando Prass. E, no segundo, quem deu partida à vitória foi Dedé — zagueiro de área.

Na semana que vem, Dedé começa carreira nova, uma carreira na seleção brasileira, quando os olhos dos bambambãs internacionais, que já se voltaram para ele, estarão mais atentos ainda.

Será que Dedé dará sequência ao pensamento em voga na Europa de que o Brasil produz hoje melhores jogadores de defesa do que de ataque? Isso só saberemos mais tarde. Bem, aqui dentro, no ataque, temos a revelação do Neymar, que joga muito, joga demais, mas pelo qual o Santos acaba de recusar a considerável fortuna de R$ 100 milhões. Graças a Deus (para nós) ainda não é desta vez que Neymar vai mostrar na Europa se o Brasil ainda produz (ou não) grandes atacantes como os de outrora.

INVENCIONICE. O que o Brasil não produz mais, há muito tempo, é bom juiz de futebol, como já produziu outrora também. Nos jogos que vi no fim de semana, que não foram todos, houve pelo menos duas arbitragens de amargar: Sálvio Spínola em Flamengo x Grêmio e Marcelo de Lima Henrique em Atlético-PR x Santos. Um de São Paulo, outro do Rio. Desastrosos ambos, embora o primeiro desfrute a admiração de “especialistas”. Mas não do Leonardo Gaciba que, no Sportv, apontou com consciência os erros graves de Sálvio Spínola deixando de marcar pênaltis no jogo.

O outro, Marcelo de Lima Henrique, não marcou as faltas por serem faltas, nem deixou de marcá-las por não serem faltas. Simplesmente assinalou faltas a seu arbítrio, vale uma pra cá, depois deixa de valer uma falta idêntica pra lá... Faltas visíveis e violentas foram cinicamente ignoradas.

A ideia, absolutamente contrária às regras, de “deixar o jogo correr” é que tem provocado essa confusão e também a piora (se isso é possível) dos nossos juízes. Outro dia ouvi alguém se expressar assim: “A recomendação da comissão de arbitragem da CBF para não marcar qualquer falta”... Deixa eu ver se entendi. Como não se deve marcar “qualquer falta”, certamente teremos faltas que não serão marcadas, é isso? De outro alguém, ouvi que os juízes não devem marcar “faltinhas”... Mas, pelo que aprendi ao longo de muitos anos, pelo que sei e pelo que costumo dizer, no futebol não há “faltinhas” nem “faltonas”, não há “faltas claras” nem “faltas escuras”. É muito mais simples do que isso. No futebol, há falta ou não há falta. E ponto. A regra é essa, se querem mudar a regra, aí é outra coisa. Na transmissão de um jogo, Milton Leite, consciente como sempre, deu sua lição, um tanto indignado com o que via no campo: “Há uma tendência de não marcar faltas.

Mas o que é falta tem que ser marcado.” A não marcação de faltas só contribui para irritar os jogadores (com toda a razão do lado deles) e fazer com que o jogo fique mais violento do que já está (ou estava), até acabar em briga e confusão.

Adeptos da tese, como se diz, de “deixar o jogo correr” irresponsavelmente podem não ter essa capacidade de interpretação, mas na verdade só estão colaborando com os brucutus do futebol, com os esquemas de retranca e com a tática do rodízio de faltas. Ou então, por falta de refinamento e de prazer estético, gostam mesmo de apreciar brucutus, retrancas e jogos sem espetáculo.

É óbvio que existem esbarrões, choques, bolas divididas com virilidade — e que não são faltas.

Mas, se é falta, tem que marcar, para preservar quem entra em campo para jogar futebol. Isso é o mais importante, para isso foram feitas as regras — para preservar quem realmente quer jogar futebol.

O resto é modismo, invencionice.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Jornal O Globo