Dedé deixa o Vasco para atenuar caos financeiro do clube
Quando Dedé chamou a atenção no Vasco pela primeira vez, não foi como herói, mas como vilão. Uma entrada dura em Carlos Alberto durante o treino quase deixou o então capitão fora de uma decisão de turno do Campeonato Carioca de 2010. Recém-chegado, o zagueiro contratado do Volta Redonda era, naquele momento, uma aposta de um clube com poucos recursos para buscar jogadores renomados. Passados quase três anos, ele se tornou um dos principais atletas do Brasil, que nesta semana terá confirmada sua transferência para o Cruzeiro. Aquele zagueiro que num primeiro momento foi um investimento barato é a esperança de um futuro mais tranquilo para São Januário em termos financeiros.
Ao receber cerca de R$ 14 milhões por 45% dos direitos econômicos de Dedé, o Vasco espera colocar em dia os dois meses de salários atrasados de jogadores e funcionários, além dos direitos de imagem de alguns atletas - que não são pagos há mais de seis meses -, aliviando o conturbado ambiente atual. Os recursos com a venda do zagueiro são o retorno esperado para um clube que inicialmente se mobilizou para fazer dele o seu representante na Copa do Mundo de 2014. No entanto, depois percebeu que precisa deixá-lo sair em nome da sua saúde financeira.
- As pendências do Vasco são muito grandes, então não é possível dizer que essa negociação, se ela ocorrer, resolveria todos os problemas do Vasco. Mas temos questões emergenciais a solucionar, e para isso, é natural que usemos esses recursos - explicou o diretor geral do clube, Cristiano Koehler.
Por pouco, Dedé não teve uma passagem relâmpago pelo Vasco. Ainda em 2010, o zagueiro chegou a assinar um pré-contrato com um clube da Coreia do Sul. Mas a negociação não se concretizou por vontade do próprio zagueiro, que recebeu do ex-companheiro de Volta Redonda Júnior Baiano o conselho de permanecer no Brasil e buscar seu espaço em São Januário.
O auge de Dedé no Vasco se deu na temporada seguinte. Em 2011 formou-se o primeiro ídolo desenvolvido em São Januário neste século. Desse ponto de vista, o zagueiro foi a contradição de uma tendência no clube, que repatriou referências como Edmundo, Pedrinho, Felipe e Juninho. As atuações quase irrepreensíveis e o título da Copa do Brasil o transformaram no Mito, aos olhos da torcida.
Nesse momento os clubes do exterior passaram a olhar com Dedé com mais atenção, até que o clube conseguiu que um grupo de investidores comprasse uma parte dos direitos econômicos de Dedé e o garantisse no Vasco até, no mínimo, o fim da Libertadores de 2012. No entanto, a grande expectativa de torcida, diretoria e do próprio jogador era cumprir o contrato então assinado, que vislumbrava a permanência do ídolo até depois da próxima Copa do Mundo.
Estava difícil resistir ao assédio de alguns dos europeus. Mas diante do interesse de clubes da expressão de Queens Park Rangers, da Inglaterra, e Anzhi, da Rússia, Dedé deixou claro que a preferência era permanecer no Vasco e manter sua visibilidade até o Mundial. Para a diretoria cruz-maltina, também era válido se manter firme ao desejo dos estrangeiros e esperar uma valorização que viria em 2014.
O ano de 2012 foi de queda para Dedé, que no início e no fim da temporada sofreu duas sérias lesões na perna esquerda. Em meio a uma possível desvalorização, o Vasco estendeu o contrato do zagueiro até o fim de 2015 e aumentou a multa rescisória. Mesmo assim, o zagueiro não perdeu seu posto de ídolo, passando a ser uma referência após a saída dos principais jogadores da equipe ao longo do ano, que terminou com o assédio do Corinthians.
Em 2013, Dedé foi logo alçado ao posto de capitão do Vasco e viu o Corinthians entrar de cabeça para contratá-lo. Inicialmente firme no discurso de permanecer em São Januário, o zagueiro passou a considerar a possibilidade de sair, principalmente pela queda de qualidade do elenco cruz-maltino e da falta de perspectivas financeiras do clube. Mas mesmo com a certeza da diretoria de que o zagueiro permaneceria pelo menos até 30 de junho, o Cruzeiro surgiu com uma oferta irrecusável para todas as partes.
Foi então que Dedé decidiu dar adeus. O Vasco perdeu o ídolo, a referência, o Mito. Mas ganhou uma tranquilidade que fará com que os remanescentes tenham a motivação necessária para tentar preencher essa lacuna.
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