Conheça Kátia dos Santos, a mulher que cuida das finanças do Vasco
Acostumada desde a faculdade a um ambiente majoritariamente masculino, Kátia dos Santos aprendeu a abrir as próprias portas em mais de 20 anos de carreira no mundo das finanças. Hoje, a CFO (diretora financeira) é a segunda pessoa mais importante dentro do Vasco. É ela quem cuida do dinheiro da SAF.
Ela chegou ao clube em outubro de 2022 no cargo de Controller, liderando as áreas contábil, fiscal, financeira e de planejamento financeiro. Em agosto do ano passado, Kátia assumiu como diretora no lugar de Lúcio Barbosa, que foi alçado ao cargo de CEO do Vasco.
- Eu não tenho hoje conhecimento de outra diretora financeira no mercado de futebol brasileiro. O Vasco acaba sendo pioneiro quando me oficializa. Corrobora a história do clube e vai ao encontro do DNA que carrega nesse caminho da inclusão, da diversidade e de respeito - disse Kátia em conversa com o ge neste Dia Internacional da Mulher.
- Toda parte de planejamento financeiro, operacional, de processos e estruturação está sob minha responsabilidade. Todas as decisões estratégicas são compartilhadas, mas os dados para que essa tomada de decisão aconteça são preparados por mim e pelo meu time - completou ela.
Currículo pesado
No Rio Grande do Sul, Kátia começou a carreira no mercado financeiro na DuPont e depois chegou à Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço.
- Foi uma escola do ponto de vista de governança coorporativa, controles internos, a empresa foi pioneira em processos. Ganhamos um prêmio de melhor demonstração financeira.
Depois de oito anos na Gerdau, consolidando balanços de mais de 15 países, Kátia se mudou para o Rio de Janeiro para trabalhar no mercado de óleo e gás. Na OSX, assumiu como Controller numa Joint Venture do grupo, que cuidava de UFC, tênis, futevôlei, entre outros produtos de entretenimento.
Um grande marco na carreira foi assumir uma diretoria administrativa na Áustria:
- Fui responsável por abrir e representar o escritório em Viena, sempre atuando nessa área de consolidação de balanço, preparação de demonstrações financeiras, implementação de sistemas, controles internos, toda parte de profissionalização e planejamento financeiro.
De volta ao Brasil, a diretora trabalhou no mercado de serviços e tecnologia e se especializou antes de chegar ao Vasco.
- Me preparei para atuar em conselhos de empresas, sou conselheira fiscal certificada pelo IBGC. Participo também da WCD (sigla da organização formada por Mulheres Diretoras Corporativas). Muito porque o Brasil começou um movimento com a pauta de diversidade e inclusão nos conselhos a partir de iniciativa da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em 2009.
Braço direito do CEO no Vasco
"A Kátia mudou o perfil de processos contábeis, fiscais e financeiros do Vasco em pouco tempo, trazendo as melhores práticas do mercado internacional para o nosso dia a dia".
A fala de Nicolas Maya, Chefe de Operações da 777 Partners, explica por que a empresa escolheu Kátia dos Santos para assumir o cargo de CFO.
O projeto de constituição de uma empresa no Vasco foi de encontro a tudo que ela trabalhou ao longo da carreira. Como Controller, de início, ajudou na implementação de gestão, controles e processos internos. Mais que isso, contribuiu para mudar a cultura de um modelo associativo para o empresarial.
- O maior desafio no Vasco foi o estabelecimento de todos os processos de controles internos relacionados à área financeira, parte de registros, documentação, organização. Procuramos nos profissionalizar e utilizar de sistemas de controle para todas as áreas que dão suporte ao futebol. O futebol junta os dados com a questão do amor do torcedor, e a missão é profissionalizar a empresa sem perder essa identidade.
A diretora é o braço direito de Lúcio na SAF. Os dois dividem a mesma sala no escritório, na Barra da Tijuca, e tomam as decisões em conjunto.
- Somos os dois responsáveis pela administração. Temos relatórios constantes para acionistas, preparamos as pautas para reuniões de conselhos, toda parte de administração de pessoas, cultura organizacional e do clima. Não podemos olhar somente para a gestão econômica/financeira, mas para o lado humano também. Queremos um Vasco protagonista, mas que seja algo duradouro. Sempre compartilhamos tudo.
Não só Katia ocupa uma posição de liderança na SAF do Vasco. Gisele Cabrera é a diretora jurídica, e as duas são referências dentro de um meio que ainda é muito machista.
- Se a gente resgatar o momento da interdição de São Januário, no dia da assinatura do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), incluindo todos os órgãos, tínhamos duas mulheres participando do processo, eu e a Gisele - contou Kátia, que seguiu:
- Um marco importante, que demonstra que cada vez mais a gente vem conquistando espaços, e isso passa por mostrar que você tem credenciais de argumentação, conhecimento, qualificação técnica. Sempre foi uma luta no sentido de mostrar credibilidade.
Kátia não é ativa só nos bastidores da SAF. Ela também dá as caras no futebol quando necessário. Acompanha a delegação no ônibus para os jogos, chega junto nos dias de concentração e conhece os atletas. Inclusive, junto com o departamento jurídico, prepara eventos de orientação para o elenco.
- Como diretora estou presente nos momentos importantes do futebol, respeitando os espaços. Acho que tem sido muito natural para os atletas verem mulheres atuando dentro do Vasco para que eles atinjam o objetivo que todos buscam.
É com uma mulher à frente do planejamento que hoje o Vasco busca autossuficiência financeira e prepara a casa para voltar a almejar conquistas e corresponder às expectativas de milhões de torcedores. Motivo de orgulho para Kátia e muitas outras que vão aproveitar as portas previamente abertas pela diretora.
- É mérito de uma trajetória de dedicação e conhecimento, mas obviamente a gente precisa ter portas abertas para ter as oportunidades. A gente tem que brigar por isso todos os dias. Não podemos desistir ao encontrar portas fechadas ou estar em um ambiente em que somos minoria. Por que a gente estuda, faz cursos, aceita objetivos que nunca sonhamos conseguir um dia? Temos que confiar na gente - afirmou Kátia, que concluiu:
- Vi uma entrevista da Marta em que ela diz que não tinha uma referência mulher quando ela começou. Eu também não tinha referências na área financeira. Temos que trilhar caminhos para nos tornarmos referências para outras. É um grande orgulho poder contribuir com o Vasco a partir da trajetória que trilhei por mais de 20 anos. Independentemente de onde estamos e das responsabilidades, temos que acreditar que podemos abrir portas mesmo com receio sobre o que vamos encontrar do outro lado.