Conheça a empresa 777 Partners, que deve adquirir a SAF do Vasco
O presidente do Vasco, Jorge Salgado, assinou nesta segunda-feira acordo não vinculante com o 777 Partners para vender a participação majoritária da SAF do clube. O documento ainda depende de aprovação dos sócios e dos conselheiros vascaínos. Mas uma pergunta já toma conta dos torcedores: que grupo é esse disposto a assumir o comando do futebol?
Criado em 2015, em Miami, o 777 Partners tem dois sócios-fundadores: Steven Pasko, 73 anos, e Josh Wander, 40. Com 54 empresas listadas no portfólio em seu site oficial, o grupo vive momento de expansão e se divide em cinco áreas de atuação: aviação; consumo e comércio; seguros; finanças de litígio; mídia e entretenimento. Na última categoria, entram os clubes de futebol.
- Não somos um fundo de investimentos. Estamos estruturados como uma holding, uma estrutura de capital permanente. Isso nos permite ter um horizonte infinito de investimentos, nos permite ser donos de empresas por um tempo muito longo, se nós quisermos. Conseguimos nos diferenciar fazendo as pessoas entenderem que podemos construir um projeto de longo prazo - disse o diretor-geral do 777, Juan Arciniegas, ao podcast SportBusiness Finance Weekly em dezembro.
Até agora, o grupo americano está presente em dois clubes de futebol, mas de formas muito diferentes. Em setembro de 2021, comprou 99,9% das ações do Genoa e assumiu o controle da equipe italiana. Em 2018, adquiriu ações minoritárias do Sevilla - os números na imprensa espanhola variam entre 5% e 12%. Sem participação na gestão, o 777 entrou em conflito com o atual presidente do clube, José Castro, e tentou sem sucesso mudar a diretoria por meio de voto dos acionistas.
Em entrevistas recentes, os principais dirigentes do 777 deixaram claro o objetivo de comprar mais clubes de futebol pelo mundo, inspirados essencialmente nos exemplos do grupo City e da Red Bull.
- Estamos analisando diferentes países com diferentes propósitos. Acreditamos que a sinergia obtida por possuir vários clubes de forma lógica faz muito sentido. Dentro dos limites do que a Fifa ou a Uefa permite, acreditamos que podemos construir um valor significativo - afirmou o sócio do 777 na Europa, Andrés Blázquez, ao site Off The Pitch em outubro.
- Queremos investir em mais equipes. Agora nossa prioridade é o Genoa, mas a médio e longo prazo definitivamente queremos estar em outros clubes, inclusive na América Latina - acrescentou Juan Arciniegas à agência EFE, também em outubro.
Reformulação completa no Genoa
No Genoa, clube mais antigo da Itália e nove vezes campeão nacional (a última delas em 1924), a compra por parte do 777 encerrou a era Enrico Preziosi, proprietário por 18 anos. Nesse período, a equipe chegou a cair para a Série C e teve como melhor posição na Série A o 5º lugar em 2009. Nos últimos anos, sempre brigou contra o rebaixamento, o que causou protestos contra Preziosi, que decidiu aceitar a oferta dos americanos. O valor não foi revelado, mas a imprensa italiana publicou que o negócio girou em torno de € 150 milhões (R$ 872 milhões), incluindo as dívidas do clube.
Após meses de negociação, a venda foi anunciada em 23 de setembro. A equipe já havia iniciado mal a atual temporada do Campeonato Italiano. Desde então, o 777 promoveu mudanças nas principais funções do clube, mas não houve resultados dentro de campo. O Genoa ocupa a vice-lanterna, com 16 pontos em 26 jogos.
As mudanças começaram pela presidência do clube. A convite do grupo americano, Alberto Zangrillo assumiu o cargo. Torcedor do Genoa, ele é um dos médicos mais conhecidos da Itália - o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi está na sua lista de pacientes.
No departamento de futebol, o novo comando foi anunciado no início de dezembro. quando o Genoa anunciou o acerto com o alemão Johannes Spors. Aos 39 anos, Spors passou por clubes de seu país como Hoffenheim e Hamburgo, trabalhou como chefe de scouting do grupo Red Bull e estava na direção de futebol do Vitesse quando aceitou a proposta do Genoa.
Nove reforços na primeira janela
Em geral, os torcedores do Genoa elogiam a reformulação promovida pelo 777, mas há quase unanimidade em relação ao maior erro até agora: a contratação de Shevchenko para o cargo de treinador. Com a equipe já na zona de rebaixamento, o ucraniano chegou ao clube no início de novembro, antes, portanto, das mudanças no departamento de futebol.
Sob o comando do ex-atacante, o time venceu apenas um de 11 jogos, e Shevchenko acabou demitido em janeiro. Seu substituto foi o alemão Alexandre Blessin, que estava no Oostende, da primeira divisão belga, e trabalhou na base do Red Bull Leipzig.
Além da mudança de treinador, o mês de janeiro foi agitado em razão da janela de transferências. O 777 investiu € 16,2 milhões (R$ 94 milhões) em nove reforços. Outros nove atletas deixaram o clube.
Fora de campo, o grupo esteve à frente da negociação para mudança de patrocinador máster. Em 3 de fevereiro, o clube anunciou acordo com a empresa farmacêutica Pool Pharma, que passou a estampar sua marca MG.K Vis na parte da frente da camisa.
- Quero que o Genoa volte ao normal: pague fornecedores em dia, pague suas dívidas regularmente, sem problemas na contabilidade. Esse é o primeiro objetivo. Depois, nosso objetivo é jogar competição europeia, mas com calma, não vou vender ilusão. Podemos chegar lá em quatro ou cinco anos - disse Josh Wander ao jornal italiano Corriere della Sera em 3 de fevereiro.
Na mesma entrevista, ao detalhar os planos para o futuro do Genoa, o sócio do 777 revelou a visão do grupo para potenciais outros clubes de sua propriedade.
- Já colocamos 35 milhões de euros (R$ 203 milhões) no clube e isso nos permitiu fechar o balanço em 31 de dezembro de 2021. Nós vamos nos tornar um grupo autossuficiente, capaz de fazer o melhor scouting, ter a melhor categoria de base e infraestrutura médica de primeira linha. Vamos trazer jogadores para um sistema integrado do mais alto nível, que presta assistência a eles, inclusive na parte social, os faz crescer e melhora sua performance - explicou Wander.
Disputa pública no Sevilla
A história do 777 Partners no Sevilla começou em 2018. Entre outubro e novembro daquele ano, quase diariamente o atual presidente do clube, José Castro, vendeu ações aos americanos, segundo documentos revelados pelo jornal Estadio Deportivo. O dirigente comprava os papéis de pequenos acionistas e os revendia a preços maiores ao 777. A relação entre diretoria e investidor era amigável. Ainda em 2018, Castro visitou a sede do grupo em Miami e posou sorridente para fotos ao lado dos sócios americanos.
Mas a ruptura não demorou. Segundo Andrés Blázquez, homem forte do 777 na Europa, o objetivo do grupo sempre foi tornar-se sócio majoritário e assumir o controle do clube.
- Começamos a comprar ações para ter maioria no Conselho do Sevilla e assumir o controle junto ao grupo de Utrera (cidade onde nasceu José Castro) e à família Carrión. Esses grupos nos pediram ajuda porque não tinham capacidade econômica para comprar ações. No dia 31 de janeiro de 2019, nos chamaram ao hotel junto ao estádio com todos os papéis de compra e venda acordados, prontos para assinarmos a compra da totalidade das ações do grupo de Utrera e dos Carrión. Não aconteceu porque um acionista que havia nos procurado para vender suas ações decidiu nesse dia, quando estávamos todos sentados na mesa para assinar, pedir 15% a mais do que havia sido combinado. Nós nos levantamos da mesa e aí acabou nossa relação com esse conjunto de acionistas - disse Blázquez ao jornal Marca em setembro de 2020.
Andrés Blázquez, homem forte do 777 na Europa, fez duras críticas à gestão do Sevilla — Foto: Giuseppe Maffia/Getty Images
Foi exatamente no mês da frase de Blázquez ao Marca que a guerra se tornou pública. Na mesma entrevista, ele fez duras críticas à gestão de José Castro e disse que o presidente traiu o grupo americano.
Resistência a "Los americanos"
Com o objetivo de derrubar a atual diretoria do Sevilla via voto dos acionistas e assumir o controle, o 777 se uniu a José Maria del Nido, presidente do clube entre 2002 e 2013, quando renunciou após condenação por corrupção - segundo a Justiça, o então prefeito de Marbella, Julián Muñoz, pagou € 2,8 milhões dos cofres públicos a Del Nido por serviços jurídicos que nunca foram realizados. Ambos foram condenados e cumpriram pena de prisão.
Já fora da cadeia, Del Nido, que também tem ações do Sevilla, tentou convencer outros grupos de acionistas a se unir ao pleito de mudar o presidente e o Conselho de Administração do clube. Porém, eles encontraram enorme resistência. "Los americanos", apelido recebido pelo 777 na cidade espanhola, tornaram-se malvistos no clube e perderam a vaga que tinham no Conselho de Administração.
- Essa união do 777 com Del Nido é uma bomba-relógio. Os torcedores do Sevilla devem saber que esses senhores não podem governar. A intenção sempre foi ampliar o capital para que eles ficassem com tudo. Isso não vamos permitir - afirmou um dos principais acionistas do clube, Francisco Guijarro, integrante do grupo de Utrera.
Os maiores críticos do grupo americano na Espanha atendem pelo nome de Accionistas Unidos, conjunto de minoritários que detém 5,3% do controle do Sevilla. Em comunicados, chamam o 777 de "câncer" e, sem sucesso, exigem até a retirada do escudo do clube do site oficial do grupo.
Depois de mais de um ano de batalha pública, a tentativa de mudar a diretoria foi levada a voto na junta de acionistas do Sevilla de 26 de outubro de 2021. Com nova polêmica - Del Nido diz que foi impedido de votar -, o pleito do 777 sofreu derrota por larga margem. O ponto 6 da ordem do dia, que pedia a mudança imediata dos membros do Conselho de Administração, foi derrotado com 77% dos votos dos acionistas.
Desde então, os americanos submergiram e pouco apareceram no dia a dia do Sevilla, ainda que mantenham a participação em ações. Na entrevista ao podcast SportBusiness Finance Weekly em dezembro de 2021, o diretor-geral do 777 deixou claro que o grupo não deseja repetir a experiência de ser sócio minoritário.
- Em geral nós somos um investidor que controla o negócio. Só em poucas empresas do nosso portfólio nós temos menos de 50% do negócio. Não somos dogmáticos quanto a isso, mas preferimos ter controle do nosso futuro - contou Juan Arciniegas.
Outros negócios
Ainda na área esportiva, o 777 tem participações sobre duas empresas que atuam no futebol brasileiro: 1190 Sports e Global Sports Right Management. A primeira é responsável por vender direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para o exterior, enquanto a segunda comercializa direitos de apostas, para o Brasileirão, fora do Brasil.
No ramo das transmissões do futebol, a companhia investe na Fanatiz, serviço de streaming que exibe, principalmente, campeonatos de futebol para os EUA.
Em dezembro de 2021, a empresa comprou 45% dos direitos da Liga Britânica de Basquete, com um objetivo ambicioso.
- Temos várias razões para otimismo de que essa será a segunda maior liga de basquete do mundo, atrás apenas da NBA - disse o vice-presidente do grupo, Lenz Balan, ao site SportsPro.
Fora do esporte, a principal aposta atual do 777 está no ramo da aviação. Ao longo de 2021, a empresa encomendou junto à Boeing a compra de 68 aviões do modelo 737 MAX. Pelo pedido, o grupo pagará US$ 3,7 bilhões (R$ 19 bilhões). O 777 é dono de duas empresas aéreas de baixo custo: a canadense Flair, já em funcionamento, e a australiana Bonza, com lançamento previsto para o meio deste ano.
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Fonte: ge